Há certas notícias que nos dão tanta alegria quanto revolta. A edição de hoje traz uma matéria que exemplifica isso diretamente. Está em andamento a elaboração de um projeto para uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) em Montenegro. A expectativa é que mais de 30 mil pessoas sejam beneficiadas até 2024, chegando a 37.272 habitantes em 2044. Ou seja, metade da cidade. Estão inclusos na melhoria os bairros Centro, Industrial, Bela Vista, Santo Antônio, Panorama, Rui Barbosa, Centenário, São João, Progresso, Ferroviário, Olaria e Passo do Manduca. Palmas! Festejos! Devemos sim comemorar. Isso significa menos poluição chegando ao nosso Rio Caí e um gigantesco avanço na área de saúde pública.
Mas e a revolta, onde fica? Ela está exatamente nos mesmos números. São 37.272 habitantes beneficiados até 2044. Teremos de esperar a metade do século 21 estar batendo à porta para que metade (nos números de hoje) tenha tratamento de esgoto. É curioso como outras áreas evoluíram de uma forma tão exponencial, enquanto esta ficou para trás. Alguns afirmam que isso ocorre porque canos ficam escondidos enquanto estradas e viadutos são vistos diariamente. Se aceitarmos esta explicação, realmente, nunca teremos um país do qual nos orgulharemos da forma como trata seu povo.
Você já imaginou as tecnologias que teremos até 2044? É uma evolução tão rápida que se torna difícil até estimarmos os avanços em duas décadas. Mas podemos, infelizmente, imaginar que ainda teremos parte da população cujo esgoto da casa cai no rio sem nenhum tratamento. A falta de um tratamento de esgoto adequado colabora para questões relativamente simples de saúde como diarréia, mas também para doenças potencialmente graves como leptospirose e hepatite A. Não é algo que possamos ignorar. Mas, estranhamente, chegamos ao ano de 2021 com pouquíssimos lares brasileiros cujos detritos são tratados. Mais de 100 milhões de brasileiros não têm sequer a coleta do esgoto!
E esta crítica serve para todo o país. Considerando dados nacionais, o Instituto Trata Brasil, estima que apenas 49% do esgoto produzido no país é tratado. O resto é devolvido à natureza sem o devido tratamento. Analise este número considerando que nós somos 211,8 milhões de habitantes, segundo estimativas do IBGE. Na região Sul a situação é ainda pior que a média: 47% do esgoto tem tratamento, apenas. Por mais que este não seja um problema visível, seus reflexos são graves e profundos. Precisamos agir para mudar isso e acelerar esse processo. A saúde das pessoas e do meio ambiente está em jogo.