Abandono do ensino

Lá em 2020, quando o ensino presencial foi interrompido sob clamor da sociedade, que temia o contágio do coronavírus pelas crianças, os especialistas alertavam que, mesmo necessário pela questão de saúde pública, sofreríamos consequências. O que os estudantes, os pais, educadores e nem mesmo especialistas no assunto esperavam é que o afastamento das crianças da sala de aula tivesse durado tanto. Em maio de 2021 o ensino presencial retornou, mas não é possível afirmar que está normalizado. Regras específicas, turmas intercalando dias na escola e outros em casa, muitos alunos ainda realizando atividades apenas pelo computador ou telefone celular, e casos de abandono escolar registrados nas redes Municipal e Estadual.

O abandono é, sem dúvida, o pior dos cenários. Falta o conteúdo didático, falta a alimentação fornecida pela escola e falta o acesso da rede de atendimento à criança e ao adolescente. Quando um menor não frequenta a escola é mais difícil para o Estado saber – e oferecer proteção – se ela está sofrendo violência ou sendo inserida no trabalho infantil. Mas a educação sofre de outros males trazidos pelo ensino remoto forçado e mal planejado. Famílias dividindo um celular entre quatro estudantes, crianças apreensivas por não entender a atividade proposta – seja na forma impressa ou digital – e sem ter com quem tirar dúvidas. Pais “ensinando” o que não sabem. E professores trabalhando horas incontáveis para, ainda assim, se sentirem frustrados diante do colapso educacional que observam.

Temos, ainda, relatos de pais assustados com o fato dos filhos terem sido aprovados para seguir ao ano subsequente de ensino sem dominar conteúdos básicos. Havendo “frequência”, a criança ou o adolescente foi liberado para ir à série seguinte, sem considerar se estava apta. Tudo no intuito de não “castigar” o estudante por algo que não era de sua responsabilidade. Mas, o que se questiona é qual seria o pior castigo: ficar um ano a mais na escola ou não aprender?

Estamos muito longe de trazer de volta os alunos, quanto mais recuperar seu ensino. O resultado em toda uma geração será visto logo adiante. Para recuperar, de fato, o tempo perdido, seriam necessários vários anos, reforços escolares em contraturnos, apoio didático e muito empenho. Conseguiremos realizar tal façanha? Hoje é difícil ter otimismo neste assunto. Mas é um questionamento que a sociedade precisa se fazer, sem fechar os olhos para a realidade.

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