Difícil imaginar uma situação mais dolorosa que a perda inesperada de alguém amado. A dor é tamanha que torna difícil qualquer decisão racional. Pois é justamente de decisões racionais tomadas em meio à dor da morte que a doação de órgãos acontece. Tão difícil quanto importante, uma única escolha pelo sim em detrimento do não pode salvar até 10 vidas. É por isso que campanhas pela doação de órgãos crescem pelo mundo afora, provocando as famílias a conversarem sobre o tema.
Na próxima segunda-feira, 27 de setembro, é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, data instituída para cada cidadão perguntar a si mesmo se é doador e, no caso de resposta afirmativa, começar a dizer aos seus familiares isso. Apesar de algumas o terem, é injusto cobrar que uma mãe, ao perder o filho, tenha a grandeza no coração de aceitar doar seus órgãos. Ela está sofrendo, está vivendo o luto e não deve ter a obrigação de tomar essa decisão. Mas ela provavelmente fará questão de respeitar, caso esse filho tivesse manifestado em vida o desejo de ser doador de órgãos. O mesmo vale para filhos, irmãos ou qualquer pessoa que perde um ente querido. Essa é uma pergunta dura demais e a resposta afirmativa só vem quando o tema já era presente na família.
E, enquanto alguns sofrem pela morte, outros se desviam dela enquanto aguardam –às vezes anos – na fila de transplantes. Alguns fazendo tratamentos paliativos, outros definhando à espera de um órgão que não tem substituto capaz de tornar o tempo menos cruel nem sofrido. Estes não torcem pela morte de ninguém, mas, esperam com esperança de que na dor de um momento fúnebre o amor e a solidariedade consigam sair vitoriosos.
A morte não é um tema agradável. Quando vem, choca e rasga o peito de quem ama alguém. Mas talvez o ato de doar os órgãos seja o único capaz de amainar a dor e, do choro, gerar sorrisos. Aqueles familiares saberão que o coração de seu filho, pai ou irmão ainda bate, mesmo que em outro peito. As córneas ainda captam belas imagens. Os pulmões têm o privilégio de respirar. A vida continua. É também um ato generoso aos que doam. Por isso, lembre-se: se você quiser ser doador, diga isso para todos na sua família. Se for o caso, eles respeitarão o seu desejo, por amor a você.