Nesta semana a população montenegrina assiste a mais um capítulo da novela que se tornou a permanência de integrantes de uma tribo Kaingang na cidade. Vindos de reservas como Carazinho e Redentora, na região Norte do Estado, até meados de 2018, eles passavam períodos no Vale do Caí e depois partiam. Mas, há cerca de dois anos, se instalaram com planos de ficar definitivamente.
Primeiro, ocuparam um terreno às margens da RSC-287 e, posteriormente, passaram a viver próximo do Parque Centenário, no terreno vizinho ao local onde há uma escola em construção. A estrutura da obra parada, aliás, vem sendo utilizada como banheiro dos indígenas que, com o passar dos meses deixaram as acomodações mais permanentes.
O problema é que a convivência com os moradores do local não é fácil desde o princípio. Passada a troca de governantes na cidade, a pressão dos moradores da região segue e surge uma possibilidade: que os índios passem a habitar uma grande área disponível no bairro Zootecnia. Em princípio, há concordância dos indígenas pela mudança, já que a área, apesar de afastada, tem acesso à linha de ônibus, o que permite que eles venham para o Centro da cidade. Se a possibilidade irá mesmo se concretizar ainda não está claro, afinal, abrange questões que vão além do poder municipal, envolvendo órgãos do governo do Estado e da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Neste tema, assim como em tantos outros, é preciso analisar os fatos sem se deixar contaminar por preconceitos ou apenas repetir discursos prontos que, apesar de corretos e belos, não resolvem o dilema prático. O direito dos índios de viver em Montenegro ou em qualquer outra cidade é real, assim como a dívida que a sociedade como um todo tem com estes povos que perderam espaço de suas terras ao longo de séculos para que colonizações avançassem. Mas não se pode com isso ignorar o sofrimento que a instalação desta tribo no bairro Centenário tem trazido para quem mora ali. Seja por questões culturais, maus hábitos ou falha da prefeitura na oferta de estrutura básica, é inaceitável esperar que os moradores da região aceitem, por exemplo, conviver com dejetos boiando pela rua em consequência dos índios não usarem banheiro. O assunto precisa ser resolvido.
Obviamente, a solução não está em simplesmente “esconder” os índios numa área menos habitada e fingir que eles não estão em Montenegro. Até porque, a mendicância praticada por eles à frente de mercados têm incomodado muita gente. E nada indica que a mudança de morada vai resolver esta questão. O poder público terá de agir de uma forma bem mais ampla que simplesmente tirá-los do local que habitam agora. Terá de encontrar meios para que vivam aqui no Vale do Caí, mas com dignidade e sem interferir negativamente na rotina dos demais habitantes. O tema está mais longe do que parece de ter um final.