Na semana passada, depois de anunciar redução nos repasses a três universidades federais porque permitiram a realização de manifestações ofensivas “à moral e aos bons costumes”, o Ministério da Educação se deu conta de que estava cometendo um equívoco. O “remédio” anunciado será passar a faca nas verbas de todas as instituições públicas de ensino superior. Elas perderão 30% do dinheiro necessário à sua manutenção e algumas já anunciam que terão de parar em setembro.
A medida proposta pelo ministro Abraham Weintraub gerou uma onda de protestos, de um lado, e de elogios do outro. Bolsonaristas começaram a divulgar, na internet, vídeos apelativos de manifestações com gente pelada, como se isso fosse prática diária em todas as instituições. Passam a idéia de que os universitários vão para os campi para fumar maconha e usar outras drogas, ou para fazer sexo loucamente. Maldade de quem espalha essas bobagens e ignorância de quem acredita.
Óbvio que existem abusos, mas eles são exceção e devem ser coibidos como tal. O grande problema da universidade pública não é esse, mas a dificuldade de acesso a quem realmente precisa dela. Com cursos normalmente diurnos, que impedem o aluno de trabalhar, e filtros pelos quais só passam aqueles que têm dinheiro para cursinhos preparatórios, elas têm mais “filhinhos de papai” do que de trabalhadores. Por que o ingresso não se dá pela renda das famílias?
Então, o caminho não é simplesmente cortar verbas, ainda que, no discurso, o objetivo seja direcioná-las para a formação básica, que realmente precisa melhorar. Na verdade, os problemas estão situados em todos os níveis da educação brasileira e devem ser atacados simultaneamente.
Sucatear as universidades públicas é formar clientela para a iniciativa privada, onde os preços vão subir ainda mais. De outro lado, em pouco tempo, haverá falta de profissionais qualificados no mercado, da Engenharia à Medicina, do Direito à Pedagogia, das Artes à Administração. A sociedade vai pagar caro por isso e não demorará muito.