Como tenho um filho, Vitor Hugo, que mora em Belo Horizonte há vários anos, tive ocasião de conhecer naquela cidade o Museu de Artes e Ofícios, na antiga Estação Ferroviária Central. Foi a inspiração para a crônica de hoje. Aos que forem àquela bela e grande cidade, recomendo que o visitem. Não vão se arrepender.
Falar ou escrever sobre o trabalho é falar ou escrever sobre a história do Homem. Desde os primórdios, teve de fazer alguma coisa, para a sobrevivência imediata sua ou dos seus, ou para guardar ou usar no futuro. Desde quando era nômade, e mais ainda, quando passou a fixar-se ou estabelecer-se.
Ao longo da história, o trabalho foi visto de diferentes maneiras ou teve diferentes significados. Durante boa parte, foi considerado uma atividade depreciável, associado à condição de escravo ou de pessoas inferiores.
Durante a idade média, quem aprendesse uma profissão ou um ofício, muitas vezes com o próprio pai, com certeza o desempenharia até o fim dos seus dias. Muitos sobrenomes, ainda existentes, vieram desta época e se relacionam às profissões então dominantes.
A revolução industrial representou um novo momento na história da humanidade, com a substituição de instrumentos primitivos e da força humana por máquinas e equipamentos que possibilitavam a produção em série nas primeiras linhas de montagem. Mas, apesar deste avanço, muitos trabalhadores continuaram submetidos a jornadas extenuantes e sem a proteção social que só bem mais tarde viria a ser implementada.
E chegamos ao século XX , e já estamos em pleno XXI. Evoluimos em tecnologia, num crescimento exponencial. Informática, automação, robótica, inteligência artificial, impactam fortemente em itens como produção e produtividade. E criaram-se também políticas que regulam e harmonizam as relações de capital e trabalho, no modelo capitalista dominante no mundo.
Mas pensar, falar ou escrever sobre trabalho, não se resume apenas a emprego. As opções ou possibilidades hoje são quase ilimitadas. Trabalho braçal ou intelectual, patrão ou empregado, autônomo ou liberal, urbano ou rural, no serviço público ou na iniciativa privada, na indústria, comércio ou serviços. E sem esquecer das novas formas catalisadas pela pandemia de Covid 19 e tecnologias emergentes, como trabalho remoto ou em“home office”(um anglicismo talvez desnecessário). Todas as formas de trabalho são igualmente dignas e importantes para o mundo e para cada um.
Apesar da severa advertência bíblica do “ganharás o pão com o suor do teu rosto”, ou do exercício da escravidão ao longo da história, o trabalho deve ser uma fonte de realização pessoal e social, capaz de gerar dignidade ou conferir um sentido à vida. Trabalhar pelo dinheiro que dele resulta é mais do que legítimo, mas insuficiente. O trabalho, por si só, deve ser revelador de nossa humanidade.
E se o trabalho é tão importante, sua falta o é na mesma proporção. As altas taxas de desemprego devem preocupar. E não é apenas um problema conjuntural ou de Brasil, de governos passados, do atual ou de futuros. O grande problema é o desemprego tecnológico, e este é mundial. O lado charmoso da tecnologia tem o seu contraponto ao alijar do mercado de trabalho os que tem mais braços do que cérebro, ou seja, os menos preparados. Além disso, muitas ocupações ou profissões vão durar menos do que o tempo de vida laboral de uma pessoa.
Com certeza um dos grandes desafios de hoje e do futuro será o de proporcionar às atuais e novas gerações, a chance de ter um trabalho e a realização pessoal que dele decorre. Que os anjos digam Amém.
Um grande abraço.