Reconhecimento em vida. “Quando eu me chamar saudade”

Comecei a rascunhar esta crônica há tempos, sob o impacto da morte de um querido colega e amigo. Nestas ocasiões, além da saudade e tristeza, parece que vem junto também um certo sentimento de arrependimento ou culpa. Por termos deixado escapar tantos pequenos gestos ou momentos, como um cumprimento, um abraço, uma conversa boba sem qualquer sentido, um elogio, um afago na alma. Por desculpas esfarrapadas, como estar atrasados ou com pressa. Mesmo sem nada importante, costumamos estar atrasados e com pressa. E aí, na despedida inesperada, foi-se a chance de fazer ou dizer alguma coisa que poderíamos ter feito ou dito, e que não fizemos ou dissemos.

Outras vezes não é a pressa, mas os pequenos ressentimentos ou mágoas, por coisas sem a menor importância, que em algum momento estremeceram velhas relações. Esquecer e perdoar não é a mesma coisa. Perdoar é muito mais importante do que esquecer.

Depois de mortos, quase todos seremos imediatamente promovidos de posto e vistos como melhores do que realmente fomos. Virtudes serão ampliadas e defeitos minimizados. Mas aí já é tarde. Por que não demonstrar em vida, sem mesmo precisar aumentar em um centímetro a estatura real de cada um? Não seria muito melhor encontrar-se mais em festas e celebrações, compartilhar mais em vida, do que chorar em velórios?

Existe, ou existia, um dispositivo legal que proíbe denominar espaços públicos, com nomes de pessoas vivas. Por óbvias razões, principalmente quando políticos. Mas claro que isto não vale para o Maranhão, onde vi de tudo com nomes Sarney, e não só os mortos.

Mas ao contrário, e bem diferente do referido acima, cito outro exemplo, bem próximo de nós. Em S. S. do Caí, na rótula de acesso ao Hospital Sagrada Família, foi erigido em 1996, um busto em homenagem ao Dr. Bruno Cassel. Ainda vivo, participou do evento.

Médico humanitário, foi eleito várias vezes Prefeito da Cidade. Conheci-o nos anos iniciais da Unimed, em reuniões em Caí ou Montenegro. Mesmo modesto, deve ter se emocionado com a homenagem em vida.

Nelson Cavaquinho, falecido em 1986, compôs mais de 400 canções, entre as quais“Quando eu me chamar saudade”. Nada mais poético para um tema tão pesado. Eis a letra:“Sei que amanhã, quando eu morrer, os meus amigos vão dizer que eu tinha um bom coração. Alguns até hão de chorar, e querer me homenagear, fazendo de ouro um violão. Mas depois que o tempo passar, sei que ninguém vai se lembrar que eu fui embora. Por isso é que eu penso assim, se alguém quiser fazer por mim, que faça agora. Me dê as flores em vida, o carinho, a mão amiga, para aliviar meus ais. Depois, que eu me chamar saudade, não preciso de vaidade, quero preces e nada mais.”

Quem sabe não seja uma boa idéia fazer como diz o poeta: dar flores em vida, o carinho e a mão amiga. Muito melhor que chorar depois. Concordam?

Grande abraço.

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