Que idade a senhora me dá?

Nas cerca de 30 crônicas que já publiquei, tenho abordado um assunto por vez. Mas na de hoje, resolvi fazer uma experimentação. Ao invés de um único assunto, abordar temas mais curtos. Vamos ver no que vai dar?
Durante mais de 40 anos, tive o privilégio de conviver nos meses de verão, como vizinho de apartamento em Tramandaí, com um colega da maior qualidade profissional e pessoal, a quem lembro com respeito e saudade. Foi um privilégio ter sido amigo do Dr. Clovis Ceratti. Numa de nossas caminhadas diárias, contou uma história engraçada, acontecida no consultório. Devia estar já perto dos 80 anos. Uma cliente quis saber sua idade. E ele respondeu com outra pergunta:“Que idade a Sra me dá?”E ela:“oitenta”. A réplica, esperando que ela baixasse para 70, foi:“errou por 10”. A resposta final veio como uma paulada:“90, Doutor?” Ainda lembro seu sorriso, de quem tinha assimilado bem a resposta inesperada.
Pois quantas vezes, ao encontrar algum amigo ou conhecido que não víamos há tempo, levamos um susto, por achá-lo envelhecido demais. Mas aí não posso deixar de perguntar: o que o amigo está pensando de nós? Não confiemos demais no espelho, que pode nos enganar. Melhor perguntar para a paciente do Dr. Clovis.

Êle é seu filho ?
Não é incomum que nas consultas médicas compareçam casais, marido e mulher. O que é muito bom, porque ajuda bastante no que chamamos de anamnese, ou coleta de dados que orientarão o raciocínio clínico. Em geral, os homens com uns poucos anos a mais. Mas existem exceções, para os dois lados. E devo contar que neste quesito já cometi gafes, ao perguntar ao(à) acompanhante se o(a) paciente era seu filho(a). E a resposta de que se tratava do cônjuge obviamente me deixou atrapalhado. Nestes casos, a emenda sempre sai pior do que o soneto. Mas aprendi a fugir destes embaraços, perguntando simplesmente:“O que vocês são um do outro?” Admito hoje que estas situações se devem ainda a resquícios de preconceito em relação ao amor e idade. O cantor fronteiriço Adair de Freitas, em sua canção “Obrigado Guria”, tratou muito bem o tema: “Ah guria eu te juro que o nosso futuro é agora e aqui. Diferença de idade é pura bobagem prá mim e prá ti. Ah guria safada, cruzou minha estrada, ancorou no meu cais, devolvendo a paixão que há muito pensava que nem tinha mais”.

Como é mesmo o teu nome?
Não é incomum, no supermercado, na rua, na farmácia (um lugar que cada vez frequento mais) encontrar pessoas que cumprimentam e vem conversar. E de quem não lembro o nome. Já tentei agir de duas maneiras. Conversando abobrinhas e amenidades, esperando que de repente a memória me localize. Em geral, não dá certo. O outro modo é perguntar de cara, mais ou menos assim:“Estou me lembrando bem de ti, mas não consigo lembrar como é mesmo o teu nome.” E, a partir daí, voltam muitas boas lembranças, que me fazem ser grato, por ao longo de mais de 50 anos de profissão, ter cruzado com a vida de tantas pessoas.
Se gostaram da coluna de hoje, me digam. Mas se não gostaram, digam também.
Um grande abraço.

Últimas Notícias

Destaques