Uma mesma palavra pode ter vários significados, alguns até antagônicos, dependendo do contexto em que está inserida. Orgulho pode ter um significado muito negativo, quando remete à ideia de arrogância, prepotência, soberba, desprezo pelo outro. Mas pode significar também auto-estima, admiração, respeito, reconhecimento. Neste sentido, talvez precise ser mais cultivado e estimulado.
Certamente já ouviram ou leram a expressão “complexo de vira-lata”. Quero contribuir um pouco com a cultura inútil de vocês, perguntando se sabem quem foi o autor. Pois já respondo. Ninguém menos do que Nelson Rodrigues, referindo-se ao trauma sofrido pelos brasileiros por ocasião da derrota para o Uruguai na Copa do Mundo de 1.950. Para ele, o fenômeno não se limitava apenas ao futebol. Dizia ele: “ Por complexo de vira-lata entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face ao resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”.
Talvez o que vou escrever não seja da concordância de todos. Pessoas com idades diferentes podem ter ideias diferentes de mundo. Fiz meus 4 anos de Curso Ginasial e 3 de Científico no Colégio Gonzaga, de Pelotas. Colégio lassalista, um dos mais tradicionais de toda a zona Sul. E havia na cidade vários outros excelentes educandários, públicos ou privados, leigos ou vinculados a alguma confissão religiosa.
Era uma época em que se aprendia e se cantava o Hino Nacional e outros hinos cívicos, em que se hasteava a Bandeira com orgulho e respeito. Em que os colégios desfilavam na Semana da Pátria, cada qual querendo apresentar a melhor banda ou fazer o melhor desfile. Em que se faziam ensaios dias ou semanas antes, sem sentir vergonha e sem ser alvo de chacota. Em que se sentia e demonstrava orgulho. O bom orgulho. Muitos hoje não concordam com isto. Pensam ser reacionário, cafona ou coisa de direitista. Como toda unanimidade é burra, não vejo nada de estranho que seja assim. O Rio Grande do Sul com certeza é o Estado que mais cultiva suas tradições, sua história, sua cultura e seus valores. Que canta o seu Hino tanto quanto canta o Hino Nacional. E que tem orgulho disto e de ser assim. E por isto é admirado por muitos e ridicularizado por alguns poucos.
Gosto muito de ir ao Uruguai, o mesmo que nos derrotou no Maracanã. Chama a atenção o número de lugares públicos em que a bandeira nacional está hasteada, até mesmo numa pequena e isolada escola rural. Não impede que sejam, ao mesmo tempo, tradicionais e modernos.
Além do bom orgulho de ser brasileiro e gaúcho, com certeza há muitos outros alvos possíveis para este sentimento: a cidade em que moramos, a escola em que estudamos, a empresa em que trabalhamos. A nossa profissão, os nossos amigos, a nossa família .
Mas penso também que para este sentimento de orgulho ter sentido e razão, deve estar alicerçado num outro: o de pertencimento. Eu devo me sentir parte de meu País e de meu Estado, da cidade em que vivo, da família que tenho. O mundo que recebi não foi feito por mim. Já o recebi pronto. E se é bonito e tem coisas boas, ou foi obra de papai do céu, ou do suor dos que vieram antes de mim. E a minha missão só pode ser uma: a de fazê-lo melhor ainda, para mim e os que vierem depois. Posso não concordar com governos e governantes. Posso até ter raiva.
Mas pela Pátria, ou pelo lugar em que nasci ou me acolheu, devo ter sim o bom orgulho. E tudo fazer para que seja cada vez melhor.
Grande abraço.