Desde muito cedo aprendi sobre a importância de trabalhar. Talvez uma herança cultural dos antepassados imigrantes. Precisavam trabalhar muito, e duro. Até mesmo uma crônica minha foi sobre o trabalho, sua diferente valorização ao longo da história, e sua importância como fator de realização pessoal. Mas também já ouvi malandro, ou talvez sábio, pregando o contrário: “Quem só trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro”. Para evitar uma controvérsia desnecessária, talvez seja válido lembrar o conhecido ditado“Trabalhar para viver”, e não, “viver para trabalhar”.
É frequente que qualquer assunto pode ser “uma moeda de duas faces”, ou “uma faca de dois legumes”… Talvez seja mesmo o caso de não sermos nem excessivamente formigas, nem excessivamente cigarras. Buscar o equilíbrio, o meio termo, em tudo, o que nem sempre é fácil.
A própria natureza tem seus ciclos. Para que ocorra a explosão de vida na primavera, é necessário o período anterior de adormecimento do inverno. Com estes rodeios, como quem parece que não vai chegar a conclusão nenhuma, estou de fato tentando buscar argumentos para concluir da importância dos períodos de descanso ou de repouso. É imprescindível para a saúde de nosso organismo um bom período de sono. O número de horas necessárias para que o organismo se reequilibre depende muito da natureza de cada um.
Para muitos, como eu, além do sono da noite, alguns poucos minutos de sono após o meio dia são fundamentais. Penso que a “siesta” de mexicanos ou outros descendentes hispânicos, não é apenas folclórica, mas uma necessidade biológica. Por mais que exaltemos a importância do trabalho, são imprescindíveis pequenos ou até maiores períodos de descanso e relaxamento. Estas paradas devem ocorrer ao longo da jornada de trabalho, por alguns minutos e a intervalos variáveis, para um alongamento, um exercício respiratório, ou uma simples pausa. Principalmente quando o trabalho é repetitivo. Mas há também paradas maiores e mais espaçadas, como os finais de semana ou o equivalente para quem trabalha em fins de semana. E ainda os necessários períodos de férias. Não são um luxo, mas uma necessidade biológica.
Mas há que destacar também um outro aspecto. Na execução de funções operacionais, especialmente as repetitivas, por longas horas seguidas, nossa atenção fica concentrada, focada no que está sendo feito. Dificilmente nestas situações teremos condições de exercitar a criatividade, de imaginar situações novas ou soluções alternativas, de pensar em outras atividades ou buscar outros caminhos. Quando se está “desligado” as chances de ter idéias, de ter planos, de criar, imaginar e “viajar”, são muito maiores. Ficar parado por algumas horas ou pelo tempo que seja, não é garantia de criatividade, mas aumenta as chances. A estas alturas, acho que a expressão “dias úteis” como são chamados os dias dedicados ao trabalho, talvez mereça alguma crítica ou revisão. Se os dias de trabalho são os úteis, serão os outros todos inúteis? O trabalho, não há dúvida, é importante fonte de realização humana. Mas não a única e exclusiva. Porque a vida deve ter outros interesses, motivações e significados. Além de “homo faber”, ou homem fabricante, ou homem trabalhador, deve também haver espaço em cada um de nós, para o “homo ludens”, ou o homem lúdico, ou brincante.
Comprei na Feira do Livro de Porto Alegre , e já li, “Ócio Criativo”, do italiano Domenico de Masi. Talvez devesse tê-lo comprado e lido antes, quando foi lançado. Poderia ter tido uma vida mais criativa ? Quem sabe….
Grande abraço.