Perguntemos a algumas pessoas sobre o significado do Dia de Finados, que transcorrerá no próximo dia 02 de novembro. Muitos dirão que é apenas mais um feriado, lamentando que não seja numa segunda feira, para garantir um feriadão. Como será numa terça, usarão de um artifício qualquer para uma “ponte”. Ir à praia ou à Serra, ou simplesmente não fazer nada. O importante é não precisar trabalhar.
Perguntemos também para que façam algum comentário sobre seus quatro avós e seus nomes. Perguntar o nome dos oito bisavós, então, é na certa ficar sem resposta. Para não acusar outros, tenho que fazer o mea culpa por não saber talvez o nome da metade dos meus.
Somos de fato, um país jovem e um povo que não tem, nem procura ter memória. Pouco sabemos dos fatos e dos vultos de nossa história, e não preservamos monumentos nem edificações. Pouco ou nada sabemos sobre a figura homenageada com o nome da nossa rua. Uma construção de 200 anos será uma verdadeira raridade. Mas não só isso: não preservamos sequer nossa história familiar ou pessoal. Parece que não temos raízes. Pouco ou nada sabemos de nossos antepassados. Que tristeza. Vivemos num mundo que tem pressa, que precisa correr, se renovar. Em que as coisas são fabricadas com uma obsolescência já programada, para durarem pouco e já terem de ser substituídas por outras mais modernas e multifuncionais. O que fazemos parece estar destinado ao descarte. A continuar assim, não será diferente conosco. Seremos, se é que já não somos, seres descartáveis. Pessimismo? Quem sabe.
Ainda tenho lembranças de minha infância, sobre a morte e o luto. Os da minha idade lembrarão também. Os velórios ocorriam em casa. Seguia-se o período do luto, com suas classificações. Por seis meses,“luto fechado”, com o uso de roupas pretas e a proibição de festas ou bailes. E mais alguns meses, de “meio luto”, ainda com alguma coisa de preto e algumas restrições sociais.
Hoje um velório dura pouco. Não mais do que algumas horas, numa capela funerária, que fica fechada à noite, para que todos possam descansar e não sejam assaltados. Além do inestimável e humanitário serviço que muitas funerárias prestam, num momento em que a maioria perde a calma para tomar as necessárias providências, sempre pode haver lugar para algum viés empreendedor e criativo. Por que não um velório temático, como um aniversário infantil? Numa época havia propaganda de um plano de cremação numa rádio de Porto Alegre, tão bem feita, que cheguei a ter vontade não só de comprar o produto, mas de usá-lo…(mentirinha).
Há cemitérios de um valor histórico, artístico ou cultural inestimável. Père Lachaise, em Paris, ou La Recoleta, em Buenos Aires, são alguns exemplos.
Hoje a cremação virou moda. Espalham-se as cinzas em lugar de suposta preferência do falecido. E no Dia de Finados seguinte não precisaremos nem ir ao cemitério levar uma flor, e talvez nos esqueçamos até de rezar uma Ave Maria.
O Positivismo de Augusto Comte foi uma doutrina que teve forte influência no início da República e também no nosso Estado, especialmente com Julio de Castilhos, no início do Século XX . Um de seus lemas era “Os vivos serão sempre e cada vez mais governados pelos mortos.” Mas aí veio Aparício Torelly, o auto-intitulado Barão de Itararé, não se sabe bem se nascido gaúcho ou uruguaio, grande humorista e gozador, que satirizou o Positivismo, dizendo que entre nós“os vivos serão sempre e cada vez mais governados pelos mais vivos.” Parece que foi profético, por tudo o que ainda vivemos hoje.
Grande abraço.