Desinventaram o telefone?

Pois começo com um pequeno histórico da invenção do telefone. Talvez pura cultura inútil, que não sirva para nada. A possibilidade de que a voz humana fosse transmitida a longas distâncias só surgiu no fim do século XIX. A invenção é do americano de origem escocesa Alexander Graham Bell, com o auxílio de Thomas Watson, o primeiro a ouvir uma voz humana pelo dispositivo chamado telefone, em 1875. A invenção foi patenteada em 07 de março de 1876. Ainda no mesmo ano, durante a Exposição Internacional comemorativa ao Centenário da Independência em Filadélfia, o Imperador D. Pedro II teve uma importante participação. Ao usar o aparelho, exclamou para Bell : “Meu Deus, isto fala”. Foi a consagração que faltava. O telefone chegou ao Brasil logo depois, em 1877.

Minha impressão é que a evolução do telefone e sua disseminação foram bastante lentas. Só em 1978 foi ativada a telefonia móvel celular no Japão, e em 1998 aconteceu a primeira ativação de celulares em S. Paulo.

Acho que chega de repercutir informações do Professor Google. Isto qualquer um encontra. Talvez seja melhor enveredar a partir de agora, por algumas impressões pessoais.

Quando fui para Brochier em 1968, havia uma linha telefônica municipal formada por dois fios de arame fixados em postes de madeira, e um pequeno Centro Telefônico. Aparelhos, muito poucos: no Hospital, na casa do médico, e em algumas casas comerciais. Quando se precisava uma ligação, girava-se a manivela do aparelho, até ser atendido pela telefonista Da. Renée Olívia Lermen, gentil, simpática, culta e de conversa agradável. Um dos meus tipos inesquecíveis, a quem homenageio com saudade. Pedia-se a ligação para o telefone desejado, e, muitas vezes, seguia-se uma espera de horas. Quando as condições de transmissão eram muito ruins, era necessário deslocar-se até a telefônica. Ou o que é pior, quantas vezes vim a Montenegro, quando o assunto era mais urgente, para conseguir na CRT, na Rua Ramiro Barcelos, a ligação que precisava.

Outra situação acontecia no veraneio, na praia, nos meus poucos dias de férias em Tramandaí. À tarde, já fazia calor naquele tempo, como agora. Precisávamos ir ao Centro Telefônico na rua da Igreja. Acho que nem ar condicionado tinha. Pedia-se a ligação, esperava-se com paciência o tempo necessário, e finalmente a indicação da cabine a ocupar, onde se falava, quando não se gritava.

Este é um relato que deve causar muita estranheza aos jovens que me leem, mas gostamos de despertar reminiscências nos de mais idade (e nem precisam ser velhos).

Desde então, quanta evolução e inovação, como o rooming internacional e a imensa capacidade de processamento dos pequenos celulares, verdadeiros computadores, que entre tantas funções, até como telefone funcionam. Que põem a internet na palma das nossas mãos, e que possibilitam um estilo de comunicação interpessoal inimaginável nos tempos de Brochier.

Junto vieram as redes sociais, com todos os seus benefícios, quando bem usadas, mas também com quantos motivos para questionamentos. Quando se vai ficando mais velho, há o risco real não só de sermos rotulados de ranzinzas, mas de nos tornarmos de fato. Isto é para justificar minha implicância com o mau uso, por exemplo, do Whats app. Entre dezenas de postagens de fotografias, vídeos e comentários, de excelente ou péssima qualidade, mensagens pessoais que precisam ser lidas e respondidas. Quando um ou dois dias depois respondo, sou recriminado com um solene “te mandei um whats ontem”. E aí me vem a inevitável contrariedade : DESINVENTARAM O TELEFONE?

Um grande abraço

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