Um choro que viralizou

Como minhas crônicas são publicadas uma vez ao mês (às vezes duas), tenho evitado abordar assuntos do cotidiano, relacionados a fatos do momento. Tenho optado em geral por assuntos mais atemporais e permanentes.

Mas a Copa do Mundo é um fato tão especial, que difícilmente perderá atualidade fora do exato momento de sua ocorrência. Por isto estou me atrevendo a abordar um aspecto bem particular, que nada tem de tática ou técnica esportiva.

Quero escrever um pouco sobre um efeito colateral que a derrota do Brasil, ainda nas oitavas de final, desencadeou: choro e lágrimas.

Nas artes cênicas, como cinema, televisão ou teatro, é bem conhecido o chamado beijo técnico. Por não ser ator, não sei como é. Mas se existe o beijo técnico, de igual forma existe o choro técnico. Tão perfeito por parte de alguns atores, que juramos ser de verdade. Mas tirando estas situações, o choro vem sempre a reboque de sentimentos e emoções, que brotam do fundo da alma: da mais contagiante alegria, à mais profunda tristeza. Tão pessoal quanto as impressões digitais de cada um. E que não é simulação.

A Copa do Mundo trouxe, por certo, uma grande euforia e uma grande expectativa. Mesmo há tempos não sendo campeões, o brasileiro médio sonhava com um Brasil melhor do mundo. Esquecemos que outros também sonham e tem o direito de sonhar. E que se preparam para isso. Mas perder nas oitavas de final foi sem dúvida uma decepção. Principalmente depois de uma “dança do pombo “ coreografada um pouco antes do tempo. Claro que dói ver crianças chorando pela desclassificação. Não estão preparadas ainda para assimilar os fracassos e as derrotas que a vida impõe. Também dói ver atletas do mais alto quilate, chorando, longos choros, como crianças. Acho que não foi choro técnico. Que veio de suas almas. Que sofreram.

Mas preciso agora fazer algumas provocações. A Copa do Mundo não é só uma grande competição de espírito olímpico. É um grande negócio, um grande empreendimento. Abarca enormes interesses. E os atletas não perderam só um título e uma taça. Perderam também polpudas gratificações e premiações. Ouvido o apito final que os mandou para casa, a maioria nem voltou ao Brasil, indo direto para seus Clubes na Europa. Para seu emprego certo. Para seus altos salários. Para suas mordomias. Para sua vida principesca, de quase emires, sheiks ou sultões. Neymar não precisou nem mesmo um avião de carreira. Voltou em jato particular.

Bem diferente, nalgum lugar do Brasil, quem sabe um trabalhador anônimo, desconhecido e sem glamour, não voltou para casa, chorando em sua bicicleta, porque perdeu o emprego. Nem uma câmara a viralizar suas lágrimas e sua dor humilde.

Perder uma copa não é uma tragédia nacional. Bem pior é o Brasil ter que chorar, como povo e como nação, por perdas bem mais importantes.
Um grande abraço.

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