Tempos sombrios esses em que livros, obras de arte e professores são atacados. O texto do artigo 206 da Constituição Federal tem sido pisoteado constantemente nos últimos tempos: “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber” e “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas”, hoje, são princípios legais ameaçados por um discurso tacanho e retrógado que venceu as eleições e, espero, não vença a produção do conhecimento.
É necessário que as crianças e adolescentes aprendam na escola – conforme a disposição curricular e as fases de desenvolvimento corretas – sobre comunismo/capitalismo, evolução das espécies, reprodução humana e muitas outras coisas. Até porque é preciso e urgente que as pessoas entendam estas questões e parem de falar tantas bobagens acerca desses assuntos por aí. Sim, é a falta de livros, obras de arte e professores que propiciam falas do tipo “a Terra é plana”, “a Ditadura foi boa” e tantos outros absurdos que temos visto em manifestações públicas hoje em dia.
Como professor, posso afirmar com tranquilidade e conhecimento de causa que as escolas são ambientes extremamente plurais, com uma diversidade de ideias enorme. Inclusive, é isso que faz delas lugares férteis para a produção do conhecimento. Somente quem não conhece o espaço escolar pode falar de doutrinação. É só sentar na sala dos professores e puxar um assunto e se verá múltiplos pontos de vista. É por isso que nunca vi uma escola com partido! Mas sei, não é isso que está em jogo, é o contrário: o que querem, na realidade, é uma escola controlada por uma perspectiva de extrema-direita, como nos regimes fascistas. Ou seja, o que essa proposta ataca é a própria democracia e a liberdade de expressão.
Todavia, se no próximo período os professores forem cerceados e impossibilitados de alguma forma de manifestarem seu pensamento, o resultado será a diminuição e limitação da produção do conhecimento e da ciência. O que pode afetar sobremaneira o desenvolvimento de várias áreas estratégicas para o país.
O filme “A língua das mariposas” (1999), do diretor José Luis Cuerda, conta a história de um velho professor e seu pequeno aluno na época em que o fascismo do general Franco estava se implantando na Espanha. Ao começar as perseguições, o professor republicano que costumava levar seus alunos na floresta para ensinar sobre os animais e as plantas, foi algemado, preso e xingado pela população local. Mandado pela mãe, o pequeno aluno, atacando o professor com uma pedra, grita ao lado de todos: “Comunista! Ateu!”. E, ao lhe faltarem adjetivos para suas injúrias, busca no vocabulário científico ensinado pelo velho mestre, na floresta, as palavras que nunca mais esqueceu: “Tilonorrinco! Espirotrompa!”.
Sim, os professores são tudo isso!