Muita calma nesta hora

Quando o major Rubens Florentino Vaz foi assassinado, em 5 de agosto de 1954, num atentado ao jornalista Carlos Lacerda, então deputado federal pela UDN, iniciou uma marcha de acontecimentos que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas, 19 dias depois. Lacerda era a principal voz da oposição e não demorou a acusar frontalmente o governo pela tocaia, na qual foi ferido de raspão. Membros da guarda pessoal do presidente eram suspeitos de envolvimento, o que levou o Congresso e diversos setores da sociedade a pedirem a renúncia do velho caudilho. O resto da história todos sabem. Talvez seja exagero buscar alguma semelhança entre o que aconteceu na Rua Toneleros, há 64 anos, com a facada que rasgou a barriga do candidato a presidente pelo PSL, Jair Bolsonaro, na última quinta-feira, mas os dois episódios possuem algo em comum. Ambos são atos de violência extrema, com potencial para mudar a história do país.

Violência – Em 1954, nos dias que antecederam o suicídio do presidente, o Brasil entrou em convulsão. Há inúmeros relatos de enfrentamentos entre apoiadores de Getúlio e lacerdistas que, mesmo sem provas, queriam justiça – no caso, a SUA justiça. É exatamente o que está ocorrendo agora. Eleitores de Bolsonaro usam as redes sociais para acusar lideranças petistas e comunistas de serem os mentores do crime. As autoridades apuraram, até aqui, que se trata de uma ação individual de alguém que se considera emissário de Deus. Então, muita calma!

Conspiração – O atentado a Jair Bolsonaro produziu um tsunami de teorias da conspiração nas redes sociais. A começar pela de que tudo foi uma armação porque não aparece sangue nas imagens. Segundo médicos, porém, nem sempre ferimentos deste tipo sangram. Quanto às fotos em que ele aparece de pé, abraçando médicos e enfermeiros, foram tiradas antes, em outro hospital.

Montagem – Ainda nas redes, alguém plantou uma imagem do agressor em fotos de uma atividade do ex-presidente Lula, sugerindo que o crime é obra do PT. Montagem bem tosca, por sinal.

Vítima – Também foi sugerido que o crime é uma ação do próprio Bolsonaro para se vitimizar e conquistar mais votos. Sério que alguém está disposto a ter a barriga aberta por uma carneadeira para chegar ao poder?

Milicos – A melhor, porém, é a sugestão de que o agressor foi recrutado pelos militares. Bolsonaro seria morto e o vice, general Mourão, assumiria a candidatura, levando os fardados diretamente ao poder. Legitimados pela violência do crime, implantariam medidas de exceção, jogando o país numa ditadura. Quanta criatividade! Essas redes sociais…

Estadista – Felizmente, Jair Bolsonaro sobreviveu ao ataque. E, nesta hora, terá a oportunidade de mostrar que pode ser um estadista, reconhecendo que o ódio destilado em seus discursos não leva a nada. O candidato do PSL terá a difícil missão de, assim que estiver em condições, pedir calma aos seus eleitores. Há poucos dias, foram divulgadas imagens em que o capitão maneja uma arma pesada e faz ameaças aos seus opositores de “esquerda”. Agora, convalescendo de uma facada, ele tem a chance de refletir sobre as consequências que esse tipo de postura carrega.

Rejeição – Com relação às especulações de que o atentado dará a vitória a Bolsonaro já no primeiro turno, de fato, é possível que a facada resulte em mais votos ao líder nas pesquisas eleitorais. Contudo, nestes mesmos levantamentos, o candidato também aparece como campeão em rejeição, por conta de seu discurso agressivo. A pergunta é: será que estas pessoas mudarão de opinião agora?

Humanos? – Foi lamentável ver, nas redes sociais, dezenas de pessoas felizes pelo atentado e até mesmo torcendo pela morte do candidato. Quando uma caravana do ex-presidente Lula foi alvejada por tiros durante um roteiro no sul do país, também havia gente triste porque ele não estava a bordo. Sem falar no assassinato da vereadora Mariele Santos, no Rio. Muitos saudaram a sua morte.

Rapidinhas
* Professora aposentada e ex-vereadora de Montenegro pelo PMDB e pelo PDT, legendas de resistência à ditadura militar, Isaura Viegas de Mattos abriu voto para Jair Bolsonaro à presidência da República.
* Deus tá vendo você, aí no Facebook, defendendo educação de qualidade para seus filhos e respeito aos educadores quando, na escola, até cadeira quebrada colocava na mesa da professora para que ela caísse e a turma toda pudesse rir. E ainda diz que, naqueles tempos, todos eram disciplinados.
* Pouco visto depois da cassação de seu mandato pela Câmara, o ex-prefeito Luiz Américo Aldana reapareceu na quinta à noite, na chamada “casa do povo”, onde acompanhou a sessão. Esta semana, segundo ele, fará exames. Nas vésperas do Impeachment, ele foi submetido a uma angioplastia.

…sem olhar a quem
Afastada do cargo há duas semanas, a ex-secretária municipal da Saúde, Ana Maria Rodrigues, usou seu perfil no Facebook para um desabafo. Junto da mensagem “Faça! Vão te criticar da mesma forma”, ela disse que, em 21 anos de vida pública, aprendeu que é preciso fazer o bem sem olhar a quem. “E esteja preparado pra ser descartado quando não precisarem mais de você ou tiverem que fazer currículo para outros, passando por cima sem dó e nem piedade”, concluiu. Um doce a quem acertar o destinatário do recadinho.

Nada, por enquanto
A morte da professora Aline da Rosa de Sá, atropelada e morta durante um provável racha entre dois motoristas no dia 5 de agosto, não foi suficiente para sensibilizar as autoridades por mais segurança no trânsito da Campos Neto. Semana passada, quase um mês depois da tragédia, a Câmara promoveu uma reunião para discutir o assunto. Os vereadores ficaram surpresos aos constatar que AINDA não foram concluídos os estudos sobre medidas de contenção da velocidade. No caso, faixas elevadas e maior sinalização.

Atropelamento – A velocidade com que o assunto é tratado pelo poder público beira o descaso. O Departamento de Transporte e Trânsito corre sério risco de ser atropelado por uma lesma.

Defesa preparada
O presidente da Câmara de Vereadores, Erico Fernando Velten (PDT), contratou o advogado Afonso Praça Baptista para representá-lo no inquérito policial que investiga denúncias de extorsão e de assédio contra ele, feitas por sua ex-assessora de gabinete. O defensor é conhecido no meio político local por sua atuação durante o processo de impeachment do ex-prefeito Luiz Américo Alves Aldana. Velten era o presidente da comissão processante e Baptista o assistente de acusação.

Decoro – Na Câmara, alguns colegas consideram graves as acusações feitas ao presidente. O que se discute agora é se o Legislativo vai aguardar a conclusão dos trabalhos da Polícia ou se iniciará uma apuração paralela, através do Conselho de Ética Parlamentar, para averiguar se não houve falta de decoro. É uma questão de conveniência e de força política, uma vez que, na prática, uma investigação não impede a outra.

Poluição sonora
As novas regras da campanha eleitoral, que eliminaram totalmente os carros de som, constituem uma bênção aos ouvidos mais sensíveis. Bem que os legislativos poderiam aproveitar a oportunidade para também endurecer as normas contra comércios que passam o dia inteiro com músicas altas chamando a clientela. Os demais lojistas e os moradores próximos são fortemente prejudicados pelos abusos. Fiscalização já!

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