A combinação de um inverno chuvoso com uma Prefeitura sem dinheiro e um governo incapaz no campo da gestão transformaram a Cidade das Artes numa triste caricatura. Não existe rua que não tenha várias marcas de abandono, na forma de buracos que desafiam a perícia dos motoristas e envergonham a população. A “Buracolândia” cresce a cada dia e as – poucas – intervenções realizadas pelo poder público, tanto na zona rural quanto no perímetro urbano, parecem não surtir efeito. É fácil compreender as razões. Não adianta os operários, armados com suas pás, cobrirem as crateras com terra, pó de brita e outros insumos se não há uma preocupação com a fixação. O movimento intenso e a próxima chuva farão com que esse esforço se perca. Da mesma forma, no interior, é perda de tempo “passar a patrola” e arrastar a terra de um lado para outro. É preciso abrir valetas e ensaibrar as estradas.
Sem prevenção – É difícil acreditar que a Administração Municipal não saiba disso. O problema é que está sempre agindo no efeito e nunca na causa. A conservação das ruas e estradas precisa ser feita no momento certo, antes da chegada do inverno. No asfalto, o surgimento de qualquer fissura requer ações corretivas, mas, em geral, as autoridades esperam o problema crescer para, só então, agir.
Baixa qualidade – Afora isso, a qualidade do asfalto feito em Montenegro nos últimos anos, apesar do alto custo aos contribuintes, deixa muito a desejar. E ainda que os contratos prevejam um certo tempo de “garantia”, raramente alguém é responsabilizado quando a rua vira farelo. Como não há dinheiro para fazer tudo novamente, a população sofre.
Opção errada – Aos primeiros raios de sol, nesta quarta-feira, algumas equipes da Prefeiura foram às ruas fazer o de sempre: maquiar a situação através de operações tapa-buracos. É o que os cofres públicos permitem no momento. Ao implantar o novo plano de carreira dos servidores – com custo muito mais elevado que o previsto – a Administração Aldana/Kadu zerou qualquer possibilidade de investimentos em qualidade de vida da população. E o pior: o aumento na remuneração não resultou em melhor atendimento aos contribuintes.
Boicote – Integrantes do próprio governo admitem que houve uma escolha infeliz. Talvez porque esperassem algum tipo de solidariedade ou contrapartida das diversas categorias de servidores. O que se ouve, porém, são queixas de boicote, especialmente num dos setores mais vitais ao sucesso de uma Administração: aquele que gerencia o parque de máquinas, que está completamente sucateado.
Bom humor – Enquanto a suspensão dos carros quebra e os motoqueiros caem, a alternativa que resta é apelar para o bom humor. E, neste aspecto, o brasileiro é imbatível. Há quem sugira, por exemplo, que a cidade adote um tatu como mascote. Na “Buracolândia”, nenhum outro mamífero, fora os humanos, é capaz de abrir tantas crateras com tamanha eficiência. Para os tatus, este é mesmo o Vale da Felicidade.
Batizados – Os portoalegrenses, por exemplo, resolveram batizar os buracos em suas ruas. Os maiores receberam o nome de Marchezan, pintado em tinta branca, numa justa homenagem ao prefeito da capital. Por aqui, se a moda pega, os pequenos poderiam ser nomeados de Kadu, ao passo que os maiores, com mais espaço “na certidão”, seriam nominados como Carlos Eduardo Müller.
Jardim do Éden – Já em Novo Hamburgo, onde os buracos também se propagam graças ao vírus da incompetência dos políticos, alguns moradores decidiram transformá-los em canteiros de flores. Se a ideia vingar, Montenegro será rapidamente um novo Jardim do Éden. Com tanta planta fazendo fotossíntese, quem sabe não fechamos o buraco da camada de ozônio na atmosfera?
Vidros limpos
Funcionários da Prefeitura divulgaram fotos de um detento do regime semiaberto, que presta serviços ao Município, lavando o carro do coordenador da Defesa Civil, Elton José Santos da Silva. Foi no Parque Centenário, em horário de Trabalho. Nas redes sociais, o caso tomou a dimensão de uma “calamidade”.
Folhas – O apenado, porém, disse que a iniciativa foi sua e que não recebeu nenhuma ordem neste sentido. Depois de lavar as viaturas da Guarda Municipal e da Defesa Civil, apenas “atirou água” nos vidros do carro de Elton, que estavam cheios de folhas. O coordenador chegou a colocar o cargo à disposição do prefeito, mas Kadu o manteve na função.
Rapidinha
* A destruição do Museu Nacional do Rio de Janeiro, no último domingo, chamou a atenção das comunidades para a conservação dos prédios que abrigam seus acervos históricos. Por aqui, a situação requer atenção, em função das infiltrações produzidas por problemas nas calhas. Hoje é “facinho” de resolver. O aviso está dado!
Tragédia anunciada
Casa arrombada, tranca de ferro. Depois do último desmoronamento no Cais do Porto, sexta-feira passada, lideranças do Movimento de Preservação do Patrimônio Histórico pediram a proibição do trânsito de caminhões pela orla. Se a medida tivesse sido adotada de forma preventiva, há alguns meses, quando as rachaduras começaram a aparecer, talvez o desbarrancamento não teria acontecido ainda.
Limpeza – Quem tem boa memória vai lembrar que, na gestão do ex-prefeito Paulo Azeredo, o Cais passou por uma “limpeza radical”. Na época, foi removida toda a vegetação que havia se fixado entre as pedras. A operação foi curiosamente batizada de “revitalização”. Os ambientalistas alertaram que haveria desmoronamentos, mas foram solenemente ignorados. O tempo provou que estavam certos.
Um pouco de eficiência
Ao contrário da Prefeitura que, mesmo sabendo com antecedência, deixou parte do Cais desmoronar e ainda não tem ideia do que fazer, a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) demonstrou eficiência diante de uma erosão ocorrida às margens da RSC-287. O terreno cedeu no sábado, os operários chegaram segunda de manhã e, terça-feira, no final da tarde, a contenção estava pronta. Em dívida com a cidade pela demora na construção das rótulas junto aos bairros Santo Antônio e Panorama, pelo menos neste caso, a estatal foi eficiente e merece aplusos.