Fuscas e patrolas

O lendário abandono em que se encontram as estradas da zona rural de Montenegro levou um grupo de agricultores à Câmara durante a sessão de quinta. Foram chamar a atenção de suas excelências para a situação dramática que enfrentam, agravada nesta época, quando ocorre a venda safra de citros. Diariamente, dezenas de caminhões são obrigados a circular por vias de chão batido, estreitas e apinhadas de buracos. Muitos estragam no meio do caminho e até tombam, causando prejuízos enormes aos transportadores e aos próprios produtores, que acabam recebendo menos pelas bergamotas, laranjas e limões. A manutenção dos veículos, obviamente, é descontada nos preços. Os vereadores conhecem o problema e até vêm pressionando o Executivo a resolvê-lo, mas os resultados ainda não apareceram.

Plateia – Aproveitando a plateia, alguns vereadores foram à tribuna para discursar em favor dos agricultores. Até mesmo aqueles que, semanas atrás, votaram contra a contratação de um empréstimo pelo Executivo para a renovação do parque de máquinas, sucateado após vários anos sem a devida manutenção e novos investimentos. E nem ficaram vermelhos.

Diferença – Um dos mais indignados com a situação foi o suplente do PTB, Claudiomiro Tomasi, o Gringo, que é produtor rural. Desde que assumiu temporariamente na vaga de Neri Pena, o Cabelo, o principal alvo de sua metralhadora giratória é o secretário municipal de Viação e Serviços Urbanos, Jackson Santos de Oliveira, o “Jacó”, taxado de incompetente para a função. Quinta, Gringo foi mais longe ainda e disse que o responsável pelo “pátio” não sabe a diferença entre uma patrola e um fusca. Muitos riram, alguns abertamente; outros, de forma disfarçada.

O bicho pega – Com o sangue italiano fervendo, Tomasi subiu o tom e pareceu ameaçador. “Se eu fico por aqui mais duas semanas, a coisa não ia prestar”, disparou. Antes de encerrar, o suplente recarregou a arma e mirou diretamente no prefeito. “Carlos Eduardo Müller, Montenegro está em suas mãos. Se o senhor não der um jeito, o bicho vai pegar”, avisou. Cabelo reassume hoje.

Pouco tempo – Na última semana de junho, o presidente da Câmara, Erico Velten (PDT), fez uma visita ao “pátio” e constatou que havia em torno de 40 veículos parados por falta de manutenção e outros 13 esperando leilão. O secretário Jackson havia acabado de assumir o cargo e prometeu, em pouco tempo, colocar a maior parte dos veículos em ação. Levando em conta a necessidade de comprar peças e a burocracia que isso envolve, ainda não deu para cumprir a promessa.

Inocência – O sucateamento do parque de máquinas não é um problema novo. Ao assumir, depois do impeachment de Aldana, Kadu Müller priorizou a liquidação do déficit nas contas públicas. Como resultado, muitas compras foram suspensas e o maquinário acabou sendo uma das vítimas. O secretário Jackson pode até não ser a pessoa certa na função, mas a cobrança a ele, neste momento, não é justa. Seus antecessores tiveram uma participação bem maior nessa “tragédia”.

Organização – Neste momento, não importa muito quem é o culpado pela buraqueira no interior – e no perímetro urbano também. O que se precisa mesmo é de uma solução. Os agricultores se sentem mal representados, tanto no Executivo quanto no Legislativo, e acreditam que o fato de o interior representar apenas 15% dos votos tem muito a ver com isso. É provável que tenha mesmo e isso impõe um desafio extra: quanto menor um grupo, mais organizado ele precisa ser.

Até três – De acordo com o Cartório Eleitoral, Montenegro tem cerca de 6.800 eleitores no interior. É número suficiente para eleger até três vereadores. Exigiria, porém, que as entidades representativas de cada comunidade se unissem, escolhessem os nomes e passasem a promovê-los desde já junto aos moradores. Dá trabalho, mas o resultado pode compensar.

Semelhanças – Sobre a provocação do suplente Claudiomiro Tomasi, acerca da diferença entre uma patrola e um fusca, a resposta realmente não é tão simples. Tirando o formato e a mecânica, os dois, de fato, guardam algumas semelhanças. Em primeiro lugar, porque andam cada vez mais raros e, em segundo, porque “topam” qualquer terreno. Depois da patrola, o fusca é o melhor veículo para enfrentar a buraqueira e o barro que “ornamentam” a zona rural.

Perda de memória
Que a Política é o cemitério da coerência, faz tempo que as pessoas minimamente letradas sabem. Contudo, vez ou outra, surgem situações que extrapolam qualquer expectativa. Por anos, lideranças do MDB se orgulharam de sua luta contra a ditadura e até diziam, com orgulho, que haviam sido torturadas. Só que agora, nas redes sociais, defendem a intervenção militar e pedem votos a um candidato que nega as violações de direitos humanos que ocorreram no período dos generais-presidentes. Não tem como entender.

Conservadorismo – Não é muito diferente em outras legendas que se dizem democráticas. Uma simples conversa com o presidente do PTB de Montenegro, Nelson Timm, denuncia seu apego a pautas conservadoras que fazem Getúlio Vargas e João Goulart, fundadores do trabalhismo, darem cambalhotas em suas sepulturas, em São Borja.

Órfãos políticos
A decisão da senadora Ana Amélia Lemos, de desistir da busca pela reeleição para concorrer como vice de Geraldo Alckmin à presidência da República, pegou muita gente de surpresa. Entre eles, o vereador Joel Kerber, que disputará uma vaga na Assembleia Legislativa. Ele sabe que, sendo vice, ela não terá tanto tempo para correr o Estado em busca de votos, arrastando consigo figuras menos conhecidas do Progressistas, que poderiam se beneficiar da popularidade da ex-jornalista. Tem muito político se sentindo órfão.

Certo pelo duvidoso – Kerber, que costuma agradar Ana Amélia com pães caseiros feitos por ele mesmo, acredita que a companheira de legenda foi corajosa. “Desistiu de uma reeleição quase certa para entrar numa disputa muito mais difícil”, avalia.

Rapidinhas
* Um enfrentamento entre os legalistas de Borges de Medeiros e rebeldes em 1923, na localidade de Vapor Velho, pode virar filme. Vereadora Josi Paz (PSB), que é de lá, está atrás de verbas para resgatar esta página da história da região.

* A lei é clara: todos são iguais e têm direito aos mesmos benefícios, independente da renda, quando se trata de serviços de saúde. O que leva um rico a buscar ou não remédios na Assistência é sua consciência social – ou a falta dela.

* Ex-prefeito Luiz Américo Aldana lançou a moda e Nelson Marchezan, de Porto Alegre, copiou. Esta semana, o 22º integrante do governo tucano da capital deixou o cargo.

* Cerca de 120 pessoas se aposentaram na Prefeitura no último ano e a maioria das vagas não foi preenchida. Só depois que for aprovado o projeto alterando o plano de carreira. Se houver dinheiro.

* Vereador Talis Ferreira (PR) apóia atuação da fiscalização da Prefeitura contra ambulantes que vêm de fora. Porém, gostaria de ver os servidores multando também empresas que não cumprem a lei.

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