Faltam dois dias. Será que eles têm pesquisas?

Está nos manuais de gestão e serve para tudo na vida: antes de fazer algo, tenha certeza de que está no caminho certo. Na política, especialmente numa campanha eleitoral, não existe nada mais perigoso do que tatear no escuro. O sucesso depende da conjunção de dois fatores: o chamado feeling, que pode ser definido como a capacidade de “sentir” o ambiente; e a informação, obtida principalmente através de pesquisas sérias e com método científico. Quando a disputa pela Prefeitura de Montenegro iniciou, lá em setembro e ainda na primeira metade de outubro, as ações da maioria dos candidatos a prefeito pareciam erráticas, sem foco, com disparos para todos os lados. Com o tempo, porém, alguns deles foram apurando o alvo e o segundo Debate Ibiá Eleições 2020, realizado nesta quarta-feira, indica que, sim, pelo menos os três que possuem mais estrutura, sabem como ganhar e de que forma vão perder votos, agindo e falando.

Confronto direto – Com uma fórmula que privilegiou os embates diretos, as estratégias ficaram muito claras ao longo do debate. Gustavo Zanatta, que se apresenta como o “novo”, mirou o ex-prefeito Percival e o atual, Kadu Müller. E ambos, por terem o telhado trincado – como quase todos que exercem cargos executivos no Brasil – pareciam ter feito um pacto de não agressão. Mesmo quando tiveram a chance de se confrontar diretamente, optaram por Márcio Menezes e Ricardo Kraemer, que vêm mantendo uma postura mais “amena” do que eles e o próprio Zanatta.

Oportunidades – Analisando o debate por bloco, nos quatro, Kadu teve duas oportunidades de interrogar Percival, mas optou por outros candidatos. Já Percival poderia ter confrontado o prefeito em outras quatro, mas também não o fez. Preferiu questionar o professor Ricardo três vezes e uma vez Márcio Menezes. Já Zanatta teve três oportunidades que questionar os dois. Aproveitou todas: uma pergunta para Percival e duas para Kadu.

Voto útil – Ao se defrontar com essa avaliação, talvez o eleitor fique com a impressão de que houve excesso de cautela de parte do prefeito e do ex. A melhor expressão é “preservar oportunidades”. Se ambos acreditam que Zanatta pode ganhar, há espaço para uma composição de última hora, através do chamado “voto útil”. Não seria novidade no cenário político local. O último e mais significativo episódio ocorreu em 2012, quando muitos do MDB votaram em Paulo Azeredo (PDT) para evitar a vitória de Marcelo Cardona (PP).

Constrangimento – O fato de não ser um “político profissional”, como costuma dizer desde o início dessa campanha, não deveria absolver Gustavo Zanatta de se preparar melhor para os debates. Quarta-feira, já no começo, tentou constranger dois opositores com uma pergunta a Kadu sobre uma revista de campanha da eleição de 2008, com promessas de Percival Oliveira que não teriam sido cumpridas. Zanatta, porém, não conseguiu sequer concluir o questionamento. Mesmo sabendo há mais de uma semana que tinha apenas 30 segundos para a formulação.

Opção pelo HM – O assunto voltou ao palco depois, aí sim, num confronto direto com Percival. O ex-prefeito disse que não realizou as obras prometidas na revista da campanha de 2008 porque fez a opção de salvar o Hospital Montenegro, que enfrentava uma grave crise. Também ressaltou que governar é tomar decisões difíceis e insinuou que o oponente, naquela situação, certamente teria deixado o HM fechar. Zanatta assegurou que não, que simplesmente não teria feito a “revistinha” e que promessas não cumpridas por um comprometem a imagem de todos os políticos.

Rotatórias – Outro momento mais tenso do debate envolveu Kadu e Márcio Menezes. O candidato à reeleição quis comprometer o adversário tucano ao lembrar que as rotatórias do RSC-287 poderiam estar em andamento se o governador, que é do PSDB, tivesse se comprometido com a causa.

Acesso – Menezes revidou, lembrando que Kadu, por ser colega de partido do chefe de gabinete de Eduardo Leite, tem acesso mais fácil do que ele. E disse estranhar que o atual prefeito não tenha feito esta cobrança nas várias oportunidades em que se encontraram em cerimônias no Piratini. Também ressaltou que o projeto das rotatórias foi concebido na gestão do ex-secretário Pedro Westfallen, também companheiro de partido de Kadu. Mesmo assim, não saíram.

Pequenas empresas – Gustavo Zanatta também irritou Kadu Müller, ao acusá-lo de priorizar as grandes empresas na concessão de incentivos fiscais. O candidato à reeleição argumentou que a lei vale para todos que se enquadram nela e que o ex-vereador certamente não a conhece na íntegra, pois, do contrário, saberia disso. Zanatta admitiu que não tem domínio do seu inteiro teor, mas estranha o fato de só empresas sólidas e conceituadas terem sido atendidas. Durante a pandemia do novo coronavírus, lembrou ele, alguns vereadores pediram que a Prefeitura socorresse os pequenos empreendedores, mas isso não ocorreu.

Ponderação – Sem se envolver nas maiores polêmicas, Ricardo Kraemer foi o mais ponderado dos debatedores. Mesmo nas oportunidades em que poderia tentar “enquadrar” Percival de Oliveira, de cuja primeira gestão foi um grande opositor na Câmara, priorizou a apresentação de seus projetos. Os dois, inclusive, demonstraram alguma sintonia nas quatro vezes em que defrontaram: Percival perguntou três vezes ao candidato do PT, que retribuiu com uma pergunta ao ex-prefeito e fez duas para Zanatta e uma para Kadu.

Mobilização – Considerando estes aspectos, é provável que os candidatos tenham, sim, as suas pesquisas eleitorais e, se não as estão divulgando é porque não há nenhum com vantagem suficiente para alguma euforia. Até porque a militância trabalha melhor quando “falta pouco” para atingir a meta. Uma vez batida, costuma haver acomodação.

Indecisos – Também é provável que as sondagens indiquem grande número de indecisos. Nesse cenário, todo cuidado é pouco e qualquer palavra, fatal.

Carreatas
Os candidatos Kadu Müller e Percival de Oliveira agendaram para a tarde de sábado suas carreatas de encerramento da campanha. O primeiro grupo vai se concentrar no bairro Germano Henke e o segundo, em frente à Antárctica. Como as saídas ocorrerão com apenas meia hora de diferença, é possível que os dois comboios se encontrem em algum ponto da cidade. Acontecendo, o “entrevero” será bonito.

Provocação – A propósito, nas redes sociais, Percival tem prometido a maior mobilização da história, uma “carreata de gente grande”. Trata-se de uma provocação a Gustavo Zanatta e Cristiano Braatz, que fizeram a sua com 361 veículos no domingo passado. Os donos dos postos de gasolina agradecem.

Perdendo votos
Nos últimos dias, as redes sociais viraram uma verdadeira arena para certos cabos eleitorais. O comportamento de alguns é tão estúpido e grosseiro que, ao invés de conquistar votos, eles acabam prejudicando os candidatos que parecem defender. Esta semana, num dos grupos de Montenegro no Facebook, um desses “militontos” sugeriu que um adversário é tão “burro” que deveria comer alfafa no jantar. E ainda acha que agradou.

Aglomerações
Vai ser difícil atender a recomendação da Justiça Eleitoral para evitar aglomerações no dia da eleição, neste domingo, para prevenir a Covid-19. Em Montenegro, alguns locais de votação possuem mais de 3 mil eleitores cadastrados. Embora sejam escolas grandes, dificilmente não haverá momentos com longas filas sendo formadas. Por isso, é indispensável o uso de máscara.

Traído pelos dedos
Quarta, após o debate, o Ibiá convidou os candidatos para uma foto coletiva e Márcio Menezes, do PSDB, quis chamar a atenção para o seu número na urna, usando os dedos. Mas ignore o 54 que ele sugere. Para votar em Márcio, é preciso digitar 45. Coisas de campanha…

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