Eles não querem o poder

O encerramento da greve dos caminhoneiros, na semana passada, plantou um sentimento amargo de frustração em muitos brasileiros. Grande parte da população apoiou a mobilização porque esperava uma redução no valor de todos os combustíveis. A descoberta de que só o óleo diesel vai baixar e que a gasolina continuará subindo frustrou muita gente. Uma parcela dos grevistas também está insatisfeita. Queriam que a paralisação, com apoio popular, levasse as Forças Armadas a derrubarem o governo de Michel Temer e a assumirem o poder. Muitos soldados até foram mobilizados, mas para desmantelar os bloqueios. A “intervenção militar” que desejavam não ocorreu. Diferente de 1964, os fardados não querem a presidência.

Prejuízos – Os dez dias de greve dos caminhoneiros e suas consequências provaram que a categoria é uma das poucas que realmente têm poder para enfrentar o governo. Contudo, não havia mais como estender o movimento à medida que ele começou a prejudicar toda a população. O desabastecimento dos postos de combustíveis foi a face mais visível desse processo, mas era um problema que cada um vinha tentando contornar a seu modo. Já a falta de alimentos nas gôndolas dos supermercados e a escassez de gás, entre outros itens, minaram o apoio aos manifestantes.

Impostores – Em qualquer movimento, sempre aparecem aproveitadores. Passando pelos pontos de bloqueio, não era difícil encontrar, entre os manifestantes, especialmente na hora do churrasco, pessoas que nunca entraram numa boléia e “agricultores” – entre aspas mesmo – que jamais plantaram um pé de alface.

Omelete – De todos os prejudicados, os agricultores, que já são uma categoria esquecida pelo governo, foram as principais vítimas. Milhões de litros de leite perdidos, aves e suínos mortos por falta de ração e frutas caindo porque não havia como levá-las ao consumidor resultaram em prejuízos incalculáveis. Neste contexto, ver as pessoas escrevendo nas redes sociais que não há como fazer omelete sem quebrar os ovos é de uma insensibilidade assustadora. Até porque TODOS pagam mais quando há escassez.

Democracia – Ainda no que diz respeito aos pedidos de intervenção militar e derrubada do presidente Temer, não custa lembrar que, numa ditadura, movimentos deste tipo seriam absolutamente impossíveis. A primeira coisa que os generais fariam se estivessem no comando seria mandar “descer o cacetete” nos grevistas. Só na Democracia é possível protestar contra a própria Democracia.

Sem representação – A greve, para os mais observadores, também permitiu outra constatação importante. Tirando os pedidos de intervenção dos milicos, foi um movimento sem bandeiras políticas. Tradicionais apoiadoras das paralisações, legendas de esquerda, como PT, PSol e PCdoB, para citar somente algumas, não chegaram nem perto dos piquetes com suas bandeiras e faixas desta vez. É mais uma prova de que a população não se sente representada pelos políticos.

Efeito colateral – Embora muita gente diga que não, este pode ser um sintoma do que está por vir nas eleições de outubro. Aos poucos, ganha força, em todo o país, um movimento contra a reeleição daqueles que estão no poder atualmente. O Congresso Nacional e as assembléias legislativas tendem a sofrer uma boa renovação. Se esta for uma das consequências da greve, ela terá valido a pena.

O melhor e o pior – Ao mesmo tempo em que a greve despertou a solidariedade dos brasileiros – que até doaram alimentos aos grevistas – também fez aflorar o que existe de pior no ser humano. Alguns donos de postos se aproveitaram da situação e aumentaram os preços dos combustíveis que ainda tinham. O mesmo ocorreu nos supermercados. E teve gente até vendendo sua vaga na fila por gasolina através das redes sociais. Estas pessoas, junto com muitos políticos, são as verdadeiras responsáveis pela situação em que o Brasil se encontra.

Adivinhem: para bancar a redução no preço do diesel, o governo federal já anunciou que haverá aumento de impostos em outros setores e cortes de investimentos na área social. Temer e seus ministros sequer cogitaram a redução de privilégios e de cargos públicos.

Pressão por cargo
Desde fevereiro, o presidente da Câmara, Erico Velten (PDT), tenta encontrar entre os colegas duas pessoas dispostas a assumir os cargos de primeiro e de segundo secretários da mesa diretora. As funções estão vagas porque seus ocupantes renunciaram depois que ele demitiu uma assessora poucos dias após nomeá-la, sem consultá-los. Nos últimos dias, porém, parece que surgiu uma possibilidade de acordo. Só que o preço é prá lá de salgado.

Sem necessidade – Nos corredores da Câmara, comenta-se que existem vereadores dispostos a completar a mesa, desde que o presidente nomeie alguém indicado por eles para aquele cargo, que está vago. Velten já disse que não. “Fiz a exoneração justamente porque não era necessário ter alguém ali”, afirma, repetindo a desculpa que usou na época para justificar a demissão da então assessora Roberta Cardona, filha de um adversário histórico do PDT, Marcelo Cardona.

Fiscalização de quê? – Segundo o presidente, o argumento dos defensores da nomeação é o de que a Câmara precisa ter algum profissional capaz de subsidiar os vereadores na fiscalização das obras da Prefeitura. A resposta do presidente é irônica e vem em forma de nova pergunta: “que obras?”, questiona. De fato, não há muito a fiscalizar no momento.

Apoio – Ao dizer não, o presidente da Câmara, pelo menos, preserva o discurso que fez na época da exoneração. Em sua decisão, ele tem o apoio de Cristiano Braatz (MDB) e de Valdeci Alves de Castro (PSB).

Rapidinhas
* O prefeito de Pareci Novo, Oregino José Francisco, responde a questionamento feito pelo Cenário Político. Segundo ele, custou R$ 3 mil a pesquisa que ele encomendou para avaliar a prestação de serviços da Prefeitura. Os resultados foram tão bons que acabaram sendo divulgados em peças publicitárias pela Administração Municipal.

* Vândalos desligaram disjuntor e provocaram queda de luz no prédio da UBS Centro, na semana anterior. Com as geladeiras sem energia, várias doses de vacinas foram perdidas. A informação é do vereador Erico Velten, que está pedindo a instalação de câmeras em todas as unidades de saúde.

* Esta é para quem gosta de coincidências. Quarta, dia 6 de junho, a Operação Ibiaçá, que ajudou a derrubar o ex-prefeito Luiz Américo Aldana, completa um ano. No mesmo dia, será julgado o recurso judicial pelo qual ele tenta voltar ao cargo.

* Era para ser em fevereiro, mas não rolou. Passaram março, abril e maio e, até agora, nada do Executivo encaminhar à Câmara o projeto de lei que corrige distorções do Plano de Carreira do funcionalismo. A cada mês, os gastos com pessoal engolem novas fatias do orçamento da Prefeitura.

* Um dia a conta chega. Casas do Loteamento Bela Vista, no bairro Estação, feitas com material de péssima qualidade, terão de ser arrumadas pela Prefeitura. É mais velho que andar pra frente: no fim, o barato sempre custa mais caro.

* E por falar em contas, vai custar cerca de R$ 2 milhões aos cofres públicos uma rateada do governo Azeredo. Quando “vendeu” a folha de pagamento dos servidores, os dados pessoais deles foram repassados a imobiliárias para a oferta de créditos. A Justiça reconheceu: houve dano moral.

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