A eleição da nova mesa diretora da Câmara, quinta-feira à noite, teve de tudo um pouco: puxada de tapete, troca de acusações, insinuações maldosas sobre a vida privada dos políticos, doses cavalares de ironia e alguma mentira. Foi um dos momentos mais tristes da história recente do parlamento montenegrino, uma guerra da qual mesmo os vencedores saíram derrotados por mostrar à população seu pior lado e que, pelo poder, tudo é lícito. Se ainda havia alguma dúvida de parte da população, quem se deu o trabalho de comparecer ou acompanhar a disputa pela internet chegou ao fim com uma certeza: se Montenegro merece uma Administração melhor, também tem direito a uma Câmara mais qualificada. Não foi divertido, foi triste!
Papel de vítima
Quem acendeu a fogueira foi o vereador Joel Kerber, do Progressistas. Até os mosquitos que habitam a beira do Rio sabiam que o acordo assinado em 2016, pelo qual ele seria presidente em 2020, não seria cumprido pela oposição. Joel deixou a oposição e o prefeito ingressou no partido dele, o que tornava natural uma reacomodação de forças. Ao invés de aceitar a situação e sair “por cima”, o vereador foi para a tribuna se vitimizar.
Fio do bigode
Joel não se limitou a cobrar coerência dos colegas – o que seria aceitável. Ele rebaixou o debate ao transformar uma questão política em assunto pessoal, sugerindo que Neri Pena, o “Cabelo”, deveria raspar o bigode por não honrar a palavra e que Juarez da Silva, por ser pastor evangélico, e Cristiano Braatz, como integrante da Maçonaria, não são dignos das posições que ocupam.
Ódio e ironia
A reação foi virulenta. Os seis vereadores da oposição foram à tribuna. A cada discurso, uma dose de gasolina era jogada sobre as labaredas. Joel foi pintado como um sujeito fraco, sem liderança, isolado pelos colegas e sem moral para cobrar. Lembraram de sua intransigente defesa do Executivo mesmo diante de evidências de irregularidades, o que o tornaria cúmplice. Disseram até que nem o prefeito, do qual é o principal advogado, queria ele na presidência. Cada palavra temperada com muito ódio e ironia.
Lucidez e bom senso
Joel ainda procurou rebater as agressões, mas terminou derrotado por seis votos a quatro e Neri de Mello Pena, o Cabelo, que já presidiu a Câmara em 2017, volta ao comando. Ao fim, do alto de seus quatro mandatos, a vereadora Rose Almeida (PSB) fez um apelo à lucidez e ao bom senso. Afinal, terminada a eleição, todos terão de continuar convivendo. Talvez, se tivesse tido a chance de falar isso na abertura dos trabalhos, esta página da história teria sido escrita com um pouco mais de pudor.
Cargos de confiança
Até momentos antes da eleição, o nome do vereador Neri estava longe de ser uma unanimidade entre os partidos de oposição. Depois que o grupo decidiu descartar o acordo de 2016, quem primeiro demonstrou interesse pelo cargo foi Juarez da Silva, do PTB, há mais de um mês. Depois, apareceu como opção o nome de Felipe Kinn da Silva, do MDB, e até Cristiano Braatz, também do MDB, desejava permanecer no comando por mais um ano. Difícil saber como exatamente a escolha recaiu sobre Neri, mas é provável que tenha havido algum acordo em torno da ocupação de quatro cargos de confiança que a Câmara possui. Em breve, a gente conta.
Em bloco
Já pelo lado governista, aparentemente, faltou articulação. Os vereadores leais ao prefeito tinham quatro votos (Joel, Rose Almeida, Josi Paz e Talis Ferreira). Se convencessem apenas um dos opositores a trocar de time, conseguiriam empatar o jogo. Horas antes da sessão, falava-se da possibilidade dos quatro votarem em Juarez Vieira da Silva. Contudo, como ele é presidente municipal do PTB e Cabelo é seu companheiro de partido, um embate entre os dois explodiria a legenda. As consequências seriam catastróficas.
O preferido
Durante a troca de acusações, antes da votação, alguns vereadores disseram que Joel não era o nome preferido do prefeito. Sexta-feira, o chefe do Executivo negou de forma veemente que tenha procurado interferir. “O Joel sempre foi leal ao governo e jamais faria isso com ele. É mentira!”, assegurou. Kadu pondera, contudo, que numa eventual disputa entre Felipe Kinn e Juarez, seu preferido seria o segundo. “Com o Juarez, pelo menos, a gente consegue conversar”, justifica.
Vômitos e diarreia
A candidatura de Felipe “subiu ao telhado” na segunda-feira passada, quando vereadores e assessores descobriram que ele recebeu integralmente o salário de novembro, mesmo tendo chegado atrasado à sessão do dia 7, que durou apenas 11 minutos, quando ele não conseguiu registrar presença. O vereador afirma que estava doente, com vômitos e diarreia, e apresentou atestado, entregue dia 14. Só deu uma passada na Câmara porque melhorou, depois de se medicar e descansar.
Rescaldo
Passada a eleição, é hora de fazer uma análise das consequências do que ocorreu na Câmara na quinta-feira e nos dias anteriores. Algumas constatações são bem lógicas:
1 – O ambiente no legislativo nunca esteve tão conflagrado, o que promete um ano de 2020 de muitos enfrentamentos. O presidente Cabelo terá de exercitar sua paciência e superar a disputa dos últimos dias para evitar que “vire bagunça” de vez.
2 – O governo Kadu entra no último ano numa situação tão desfavorável quanto a dos três anteriores. Não haverá espaço para mais diálogo do que vem ocorrendo hoje.
3 – Por ser o último ano da legislatura, os vereadores que desejam se reeleger precisam abandonar as futricas e trabalhar mais. O eleitor está vendo tudo que se passa e, acreditem, não gosta nada. Certamente haverá uma boa renovação, assim como ocorreu em 2016.
Largou, pagou!
Neste ano, a Prefeitura investiu em cursos gratuitos de capacitação nas áreas de vendas e em refrigeração de ar condicionado. Inclusive, devem ocorrer novas turmas em 2020. O curioso é que o curso de vendas, realizado através do Senac, teve um investimento superior a R$ 20 mil e começou com 20 pessoas, mas só oito concluíram a profissionalização. Os desistentes, além de terem tirado a vaga de outros interessados, ainda deram prejuízo de uns R$ 12 mil para o Município. Lamentável!
Devolução – Com razão, agora o prefeito Kadu Müller quer criar um dispositivo que obrigue o inscrito que não for até o fim a devolver, pelo menos, parte destes custos. A medida ainda precisa ser analisada do ponto de vista jurídico, mas, no campo ético, é inatacável. O Município não pode investir em quem não valoriza a oportunidade.
Exemplo raro
Quinta-feira ocorreu o ato de descerramento da placa da Sala de Reuniões Janete Hörlle Zirbes na Câmara. Presentes, familiares, amigos, colegas, funcionários do Hospital Montenegro, da Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas e da Sociedade Cultural e Esportiva Matiel. A cerimônia, conduzida pelo presidente e proponente da homenagem, Cristiano Braatz, foi marcada por boas lembranças. Janete trabalhou no Legislativo de 1993 a dezembro de 2018.
Garantia – Na solenidade, o ex-vereador Roberto Braatz, que a levou para trabalhar na Câmara, lembrou que, na década de 90, Janete e o marido, junto com outras famílias, deram sua casa como garantia num empréstimo para o Hospital Montenegro. Um espírito público cada vez mais raro.
Agora vai?
A Prefeitura de Montenegro recebeu mais duas máquinas retroescavadeiras na última semana. Uma foi destinada ao Departamento de Serviços Urbanos e a outra para a Secretaria de Desenvolvimento Rural. Considerando que vários outros equipamentos foram entregues nos últimos meses, com o verão chegando, não haverá mais desculpas para a buraqueira na cidade e no interior.