Já pensou você ir a uma loja, escolher algo avaliando se combina ou não com quem vai usar, pagar, pedir para que embrulhassem bem bonito, levar para casa e, no conforto do lar, abrir o pacote que deu a si mesmo? Eu não conheço ninguém que faça isso. Mas conheço cada vez mais pessoas que participam de clubes de assinatura. No fim das contas, o objetivo é exatamente o mesmo: oferecer um presente para si mesmo.
Se você não conhece esse estilo de compra, vou explicar. Você se associa a um clube cujo tema lhe interesse e recebe a cada mês uma caixa com mimos diversos. Para os amantes dos vinhos, há caixinhas que trazem rótulos variados. De cervejas também. Opções para apaixonados por livros não faltam. Maquiagem, produtos coloniais, brinquedos, entre tantos outros. Essa semana vi a propaganda de uma caixa pet. O dono descreve as características do seu melhor amigo de quatro patas, escolhe um plano e todo mês o animalzinho recebe uma caixinha contendo brinquedos e petiscos. Vida ruim a desses mascotes, hem? Mas nós sabemos que, no fundo, o dono está presenteando a si mesmo. Porque a alegria das brincadeiras com o animalzinho é que realmente motivam o desembolso final.
Mas aí, algumas pessoas pensam: porque pagar – e caro, na maior parte das vezes – por algo que eu não pude escolher e que não poderei trocar? Pois quem faz a escolha pela assinatura diz que a graça está justamente em ser surpreendido, mesmo sabendo que ela estava para chegar. Friozinho na barriga antes de abrir e descobrir o conteúdo? Tem também. Dá pra dizer sem medo de errar que o objetivo de quem adquire esse serviço é dar a si mesmo uma sensação, um carinho.
E, diante disso, me pergunto: por que estamos sentindo necessidade de presentear a nós mesmos? Alguns podem fazer uma análise mais profunda a respeito de egoísmo ou egocentrismo presente no ato. Eu prefiro pensar que nós seres humanos chegamos a um momento em que, enfim, colocamos as nossas necessidades e desejos como uma prioridade. E acho certíssimo. É bom ser presenteado? Claro. Principalmente quando o mimo, mesmo que simples, vem sem a gente esperar, fora de qualquer data especial. Mas também é bom agradar a si mesmo. E esse agrado pode vir na forma de uma coisa, uma sensação, uma viagem, uma refeição especial e etc.
Há tantas formas de fazer feliz a si mesmo que acho injusto esperar sempre que o outro satisfaça os seus desejos quando, se você parar pra pensar, ele está ali, bem ao alcance das suas próprias mãos. A gente pode se fazer feliz de muitas formas. Pra alguns, a atividade física é essencial e, portanto, o pagamento de uma academia ou aulas específicas, como Pilates por exemplo, é um investimento. Aquilo do qual não abrem mão. Conheço casais que, por mais apertado que o orçamento esteja, não deixam de sair a dois para jantar fora uma vez por semana. É o presente que dão à relação, garantindo que naquele momento os filhos, os compromissos ou problemas não interferirão no relacionamento. Certa vez, ouvi de uma amiga que, nos finais de semana, ela se dá de presente logo cedo, antes do marido e da filha acordarem, a leitura tranquila do jornal enquanto toma o café da manhã. Há mulheres que se presenteiam com tratamentos de beleza. Da simples manicure semanal até coisas mais elaboradas, elas oferecem algo para si mesmas.
O que todas estas pessoas, de quem tem clube de assinatura a amiga que lê o jornal logo cedo, têm em comum é que estão se presenteando com o próprio tempo. Abrindo espaço para si mesmos em suas vidas, pensando em si próprio e no que querem rotineiramente. O que, definitivamente, não é ser egoísta. É ser justo. Afinal, todos nós passamos muito tempo da vida agradando aos outros e os compromissos. Que mal tem em agradar a si mesmo um pouco? Um bom final de semana a todos.