Perdi a conta dos relatos que ouvi de amigos ou vi em redes sociais sobre jovens surtando por conta do Enem. Crises sérias de pânico, atrasos para chegar até o local de prova, explicados por sintomas físicos do nervosismo extremo. No meu tempo – sim, fiz o Exame Nacional do Ensino Médio há mais de 10 anos – a gente também ficava nervoso, fazia cursinho e apostava os objetivos da nossa vida naquele teste. No meu caso, a meta era uma bolsa de estudos em Jornalismo numa universidade particular através do Prouni. Fiz a prova e me inscrevi na seleção oferecendo quatro opções de cursos de Jornalismo e uma de Direito, porque tinham terminado as opções próximas de curso de comunicação.
Fui chamada apenas para a quinta opção da inscrição, abrindo mão por saber que a realização do meu sonho não estava nas salas de júri, mas sim nas redações. Lembro que cheguei cabisbaixa em casa. Era uma derrota. Mas, aos 18 anos, estava longe de ser uma queda definitiva. E é essa percepção que, me parece, está fora de foco para estes jovens que não suportam a pressão do Enem. O que gerou na minha vida perder aquela vaga no Prouni por alguns décimos de nota no Enem? Eu perdi a bolsa, mas entrei na faculdade pagando as mensalidades, atuando como estagiária. Terminei o curso alguns anos além dos quatro obrigatórios. Mas terminei. Não é uma tragédia. Por isso, queridos estudantes, entendam: a vida continua mesmo quando você vai mal no Enem.
Considero fantástico que os avanços sociais que o Brasil teve nas últimas décadas permitam que hoje qualquer jovem sonhe com o curso superior. Porém, não entrar na faculdade e, principalmente, não entrar na faculdade este ano, não pode ser um carimbo de incompetente marcando a testa de parte dessa gurizada. Alguns podem se encontrar profissionalmente em um curso técnico, outros terão no comércio a descoberta de um talento que poderá lhes render o sustento. A felicidade de qualquer pessoa não pode estar atrelada a um diploma. Somos mais do que isso.
É claro que as instituições de ensino precisam de um critério de avaliação e que nossos jovens têm de ter uma formação forte em Português, Matemática, História e em todas as demais disciplinas. Mas não ser bom em determinada área não é fim do mundo. Somos únicos e com talentos individuais que, às vezes, não nos dão a chance de desenvolver. Por que uma prova delimitaria se somos ou não talentosos? Enquanto tentamos encaixotar as características de todos, perdemos o que destaca alguém e pode fazer a diferença no mundo. Vamos incentivar nossos jovens a estudar sim, mas também valorizar as suas características, deixá-los descobrir e se destacarem pelos seus talentos. Nem só de regras e fórmulas se faz uma pessoa realizada e feliz.