Justificar o injustificável

Essa semana me perguntei por que temos – grande parte das pessoas, pelo menos – a ânsia de justificar coisas que bem no fundo sabemos que estão incorretas. Em dois casos, pelo menos, pareceu-me que essa mania de “não largar o osso” não é simplesmente uma teimosia, mas sim a dificuldade de assumir que, assim como tudo na vida, a opinião sobre qualquer coisa também pode mudar.
Percebi isso, primeiro, no caso da “empregada na Disney”, envolvendo o ministro Paulo Guedes. Não vou aqui discutir a asneira que ele falou. Isso já foi feito, e muito. Os comentários de algumas pessoas, justificando o ministro, como se ele precisasse de um advogado de defesa, é que ganham minha atenção agora. Em redes sociais, simpatizantes do governo Bolsonaro citam que “a intenção era boa”, ou “a frase está fora de contexto” e a maravilhosa “ele é bom ministro”. Primeiro, é preciso entender que a intenção não vem ao caso, mas sim o que foi dito e que a frase seria um erro em qualquer contexto. Além disso, as críticas – justíssimas – não dizem respeito ao todo do trabalho do ministro. E, principalmente, reconhecer que neste caso Guedes errou e feriu uma classe trabalhadora não é ser contra o governo e, muito menos, torcer contra o Brasil. É, simplesmente, não fechar os olhos para o que está à sua frente.
Outro caso similar foi o do assédio registrado em Porto Alegre. Um motorista da Uber foi filmado assediando a jovem, mesmo ela tendo lhe informado que é menor de idade. O acusado já foi até desligado da empresa. Entrevistado depois de depor na Polícia, a melhor explicação que conseguiu encontrar para sua atitude foi o short “estilo Anitta” que a garota usava. Mas, aqui também não é o fato em si que me interessa, mas a reação de algumas pessoas tentando justificar a ação criminosa do homem. Tem quem realmente defenda que a moça, estando de short curto, merece lidar com homens inconvenientes, que aceita o risco e até que os está provocando.
Será que essas pessoas realmente acham que o comprimento de uma roupa, seu decote ou a maquiagem utilizada são motivos justos para um abuso sexual? E será que, de fato, elas crêem que, se essa jovem estivesse de calça comprida, algo mudaria? Acredito que não. A verdade é que, mesmo tendo o fato gravado e comprovado, é difícil para muitas pessoas – mulheres, inclusive – reconhecerem que nós nem sempre somos tratadas com o respeito que merecemos e exigimos.
Não estou dizendo que se deve usar qualquer figurino em qualquer lugar. Existe roupa apropriada pra ir pra escola e outra pra uma festa de gala. Existe traje que cai bem na academia, o que se usa para trabalhar e o que é pra ir à praia. Eu não me sentiria bem trabalhando ou indo para a Universidade com a malha da academia. Mas se, por acaso, um dia isso viesse a acontecer, eu espero ser tratada pelos colegas com o mesmo respeito. Porque isso é o correto e não há margem para discussão quando o assunto é assédio. Ficar usando as roupas desta jovem como desculpa para o ato do abusador é inverter a lógica do que é certo e errado simplesmente para não reconhecer um problema social. Vamos, pelo menos, tentar agir diferente?

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