Na minha coluna de hoje trago um assunto acontecido recentemente, que ainda, infelizmente, é muito comum nos dias atuais, pois são diárias as demonstrações humanas do quão despreparada ainda pode ser boa parcela da nossa sociedade. Em todas as direções que apontarmos, acabaremos por nos deparar com alguma situação vergonhosa, repulsiva e inadequada.
Você já ouviu falar, em qualquer tempo, de algum lugar desse nosso imenso Brasil, que alguma Câmara Municipal delibera e escolhe algum integrante masculino da sua Mesa Diretora para “embelezar a mesa?” Pois foi o que vimos acontecer aqui no nosso Estado, na cidade de Canguçu, quando vereadores, homens, ao deliberarem pela composição da mesa diretora da Câmara local, votaram no final do ano passado, na última sessão do ano, na vereadora Iasmin Roloff para o cargo de segunda vice-presidente para que esta “embelezasse a mesa”. Isso mesmo! Afronta à uma parlamentar eleita com 928 votos, que com certeza não chegou ao parlamento de Canguçu por ser bonita, mas sim por ter alguma agenda de trabalho que dialogue com as necessidades da comunidade.
Repulsiva manifestação machista! Total ausência de discernimento, como se a Vereadora Iasmin passasse a ser, a partir daquele momento, um vaso. Sim. Um lindo e florido vaso, a “embelezar” a mesa!
Quando você pensa e imagina que a política está avançando, progredindo, nos deparamos com situações como essa. E, por mais que hoje em dia tenhamos ferramentas importantes de compartilhamento e massificação de informações, o que ao menos em tese deveria nos assegurar um maior número de pessoas conscientes e mais bem educadas, inacreditavelmente o que se constata é, não raro, a banalização e o desprezo absoluto por algumas regras básicas de convívio social que deveriam ser consideradas como intocáveis.
Mas na noite de ontem, leio com satisfação no noticiário que a Vereadora Isamin Roloff não aceitou o cargo e a este renunciou. E fez muitíssimo bem ela, em não ter aceitado, posicionando-se contrária e incomodada com essa tamanha falta de respeito e sensibilidade dos seus colegas, pois é anadimissivel em pleno século XXl, convivermos com atitudes, no mínimo, machistas.
Queremos e precisamos de vereadores capazes de respeitar as mulheres, com uma inteligência intelectual para no mínimo legislar ou fazer tarefas que lhe cabem, não para fazerem discursos como este, intimidador e vergonhoso. Não há mais espaço para isso! Seja na Câmara Municipal ou qualquer ambiente de trabalho, comentários de natureza estética ou pessoais são tão desnecessários quanto abusivos.
E nós, mulheres, independentemente de quaisquer que sejam nossas eventuais divergências, precisamos cada vez mais compreender que há ainda muitos caminhos a serem trilhados em prol de um maior reconhecimento pelo nosso talento. Assim como precisamos sempre nos manter unidas e fortes, buscando nosso espaço.
As mulheres da atualidade têm, a ferro e fogo, cada vez mais conquistado espaços de destaque na sociedade e, muito embora ainda tenhamos muito mais a desbravar, tem vezes que, tamanha a estupidez e o desrespeito, dão mesmo vontade de jogar a toalha! Mas não! Nós não jogaremos toalha alguma e seguiremos lutando por mais espaço, dignidade e reconhecimento!
