Não é de hoje que estudo, pesquiso e me dedico a práticas espirituais, místicas ou ocultas; chamem como quiserem. Estou por aqui há algum tempo já, e grande parte desse tempo eu passei mergulhando nesse mundo invisível. E, quanto mais se pratica, mais se explora e mais se aprofunda nesses mistérios velados aos olhos físicos, mais nos afastamos dos dogmas humanos, criados por homens e para homens, no intuito de manter o controle sobre o que é ou não a verdade.
Como já disse em outros textos, a verdade é uma só. E, ainda que as mais diversas doutrinas religiosas, sejam grandes ou pequenas, dediquem-se a interpretar e clarificar essa verdade, o fato é que sempre acabam adicionando um olhar particular, individualista e dominante através do prisma dos homens e mulheres que tentam decifrá-la.
Muitas pessoas, por sentir aquele vazio, a necessidade de se conectar a algo superior, algo além, buscam as receitas prontas, os dogmas mais bem estabelecidos, porque pensam que uma vez que estes estão aí há tanto tempo, já entenderam completamente a verdade. Mas, ora, se fosse assim, haveria apenas uma única religião, mas não é o caso, pois não são poucas as religiões que têm lá seus milhares anos. Judaismo, Hinduismo, Sikhismo, Budismo e Xintoísmo são só alguns exemplos de religiões que possuem muito mais de dois mil anos.
O que é possível averiguar, sim, é que todas elas tentam, dentro de suas possibilidades, decifrar aquela verdade última, objetivo final do ser humano e seu maior anseio. E, assim, elas trazem dentro delas, peças de um mosaico difícil de desvencilhar dos dogmas já tão bem enraizados, mas criados por mentes humanas, deturpando profundamente o ensino original dos mestres e mestras que as trouxeram ao mundo.
A verdade é simples e, para achá-la, é mais simples ainda. Retire tudo o que há de criação humana nas religiões, tudo o que depende de termos físicos e, com alguma ajuda, então poderão vislumbrar o primeiro reflexo da verdade, aquela primeira, pequena e tênue luz que começa a se fazer notar no meio das trevas anímicas que vivemos diariamente. É fácil? Não disse que é fácil, disse que é simples. A maior inimiga para esse processo é nossa própria mente animal, recheada de paixões, vícios, medos, desejos, isto é, tudo o que nosso instinto animal tem por natureza; e nossa mente humana os vivifica com intensidade tremenda. Não minto, não é fácil domar a mente animal quando ela é fortalecida pela humana. Os vícios podem se tornar uma parede quase intransponível. Mas não se enganem, não é. É possível domar a mente animal, acalmá-la e, assim, ter aquele relance do esplendor. Só aí é que, em absoluta lucidez, mergulha-se em uma experiência espiritual genuína. Sem cânticos, sem gritos, sem alucinógenos, sem choro, sem giro; apenas a serenidade de uma mente imbuída da presença avassaladora de Deus que extingue todo aspecto do animal. Qualquer outro efeito que não seja assim provém da mente animal, caótica e barulhenta, fértil em imaginação e habilidosa em nos enganar para manter seus prazeres e vícios. E não se enganem; ela é poderosa e consegue manter com eficiência o engano da falsa espiritualidade.
Assim, somente esvaziando-se do animal, em plena e lúcida serenidade, é que poderemos de fato conhecer a verdade única que é Deus, exortando em nós o que há de mais humano.