Sem tolerância só sobra o extremismo

Hoje, dia 18, é comemorado o Dia da Libertação Humana, para homenagear as pessoas que se dedicam ao trabalho voluntário em prol da humanidade, muitas vezes perdendo suas próprias vidas; e, ironicamente, há menos de cinco dias, o Talibã mais uma vez deteve o controle sobre o Afeganistão, depois de vinte anos sem exercer seu domínio sobre a população. Esse grupo, reconhecidamente extremista, se seguir como fora nos anos 90, vai remover as liberdades civis fundamentais dos cidadãos, principalmente das mulheres. Um verdadeiro retrocesso social.

Tal como o fundamentalismo Cristão combate a laicidade do Estado, o Talibã procura implementar a Xária, as leis Islâmicas, em todas as esferas, não apenas na religiosa. Isto é, que a lei Islâmica deveria ser observada estritamente também nos âmbitos políticos, culturais, econômicos e sociais do estado ao qual detém domínio. Como o fundamentalismo Cristão, o Islã levado pelo Talibã não dá espaço para discussão, reflexão ou discordância.

Deve-se aqui ficar muito claro que a Xária em si, tal como a Torah, a lei hebraica, não é o problema, visto que ambas objetivam trazer a palavra e as leis de Deus ao homem. O problema está, claro, na interpretação dos homens, que varia de grupos para grupos. Tanto Alláh quanto Yahweh, que em suma tratam-se do mesmo Deus Abraâmico, trazem as leis para que seu povo possa viver bem, feliz e em harmonia. É da interpretação humana distorcida que nasce o extremismo e o fundamentalismo. A aplicação da Xária Islâmica e da Torah Hebraica visa coordenar os afazeres humanos em acordo com os princípios exigidos por Deus, de amor, retidão, obediência e, acima de tudo, tolerância. Esta última esquecida pelos grupos extremistas e fundamentalistas. Pois, da mesma forma que Jesus nos deixa a diretiva “Perdoai e sereis perdoados”, Maomé deixa a diretiva “Aquele que não tem misericórdia não encontra misericórdia”. O amor e o perdão aos outros é item essencial da fé e base da tolerância.

Quando o texto religioso é torturado e retorcido para que ele possa fundamentar os desejos vis e egoístas de poder de determinado grupo, ele perde seu sentido como religião. Ele não é mais um alicerce do bem, mas do mal, pois o ser humano, por si só, não pode conceber um sentido superior sem que seja auxiliado pela fé e, mesmo que embale todos os fundamentos de seu desejo de poder em uma bonita, mas falsa imagem de religião, isso não o justifica. A religião não é dogmática, a instituição é. Porque a religião não é ouvir ou ler o que os outros dizem ou escrevem, mas experimentar o que o Eterno nos transmite. Pois só ele pode julgar, condenar e absolver um pecado. Por isso o Estado precisa indubitavelmente ser laico. Pois é nesse sentido que Jesus diz “a Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus”.

Todos os pecados contra a Lei de Deus, seja ela na forma de Torah ou Xária, serão tratados por Ele, e por Ele somente. E que o homem julgue apenas o que é da esfera do homem, pois a ele não cabe decidir por Deus. Por isso, sejamos mais tolerantes, se quisermos que Deus seja tolerante para com a nossa muito falha qualidade de ser humano. E que busquemos melhorar como próprio ser humano, dia a pós dia, exercitando esse amor e perdão; base da tolerância.

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