Esses dias, acabou saltando no meu colo mais de uma vez, um assunto interessante: a salada de frutas religiosa que muitos comem durante a vida. E essa é realmente uma conversa que deveria ser refletida por todo mundo que se considera espiritualizado em algum nível.
Quando nascemos, há uma chance enorme de sermos criados dentro de uma fé, que já vem da família. No Brasil, a chance maior é de sermos católicos, visto que é o país que mais professa essa fé no mundo. Porém, ao longo da vida, muitos vão assimilando outras crenças, formas de pensar e, até mesmo abandonam de vez qualquer fé. Ou seja, durante o crescimento, a pessoa tem diversos caminhos para percorrer. E isso é normal.
O ponto aqui não é a mudança de uma fé para a outra, ou até mesmo para nenhuma, o ponto é a crença paralela em mais de uma fé. Esse é o grande problema. Essa é a salada de frutas religiosa e é a causa maior das decepções espirituais na vida da pessoa.
Eu já disse uma vez que fé é a completa falta de dúvidas, é uma certeza por nada vencida, uma espada que não se dobra e não se quebra. Fé, deveria, mas não é para qualquer um. Não é fácil ter fé. Se fosse, o mundo estava salvo. Fé é um dom, um presente.
Quando acreditamos numa religião, achamos que temos fé nela, mas não é verdade. Se fosse, não duvidaríamos dela quando algo que queríamos não acontece. E, quando isso ocorre, esse abalo pode fazer com que a pessoa busque outra crença, ou nenhuma. Porém, quando busca outra, pode acabar não deixando a anterior e “acreditar” paralelamente em ambas, o que, em grande parte, é incompatível. Um espírita não pode ser católico, nem evangélico, porque ambas as crenças são incompatíveis. Enquanto um crê no espírito em evolução e na reencarnação, as outras creem que na morte há o sono eterno, até o dia do juízo. O evangélico não pode ser católico, visto que um cultua santo além de Deus, enquanto o outro não aceita isso, cultuando apenas Deus. E, lembrem-se, não estou entrando no mérito de quem está certo ou errado, estou apenas apontando as diferenças incompatíveis nos dogmas.
Assim sendo, uma pessoa que se diz evangélica, mas na hora do desespero acende uma vela para Santa Maria, não confia na sua fé evangélica. O católico que, para ter boa sorte salta onda sete vezes no ano novo ou escolhe cor de roupa para esse fim, está em falta com sua fé. Assim como o espírita que vai à missa no domingo, está em falta com sua fé; porque sua crença bate de frente com a de onde está.
Muitas das saladas nascem em momentos de desespero, de abalo emocional, mostrando o quanto a fé da pessoa é fraca; o quanto ela duvida da sua religião. E, assim, tudo o que espera por ela do outro lado, é decepção. Sem fé, no âmbito espiritual, só sobra decepção.
Entende que não há congruência assim? E, sem congruência, nada acontece. Haja de acordo com sua fé, não importa qual seja. Agarre-se nela, confie; porque se você fizer uma salada de frutas, é o mesmo que acreditar em tudo e, assim, de fato, não acredita em nada. Você, ao “acreditar” em diversas religiões, na verdade, duvida de todas elas; caso contrário lhe bastaria apenas uma.