Parte do que sou hoje, devo a eles

Quando eu era criança, lá pelos meus cinco e seis anos, pela manhã, eu assistia diversas séries japonesas que passavam na extinta Rede Manchete, uma depois da outra. Não recordo com clareza a sequência, mas me lembro que começava com Jaspion, depois tinha Changeman, Cybercops, Jiraya, Jiban, Spielvan e, por último, Flashman, logo antes do almoço. Anos depois fui apresentado a Black Kamen Rider, então Kamen Rider RX e Poitrine. E, posterior, em reprises, a National Kid e Ultraman. Para quem não sabe, o nome que se dá a esse tipo de série é ‘Tokusatsu’, que é um diminutivo para a frase tokushu kouka satsuei, isto é, algo como “filme de efeitos especiais”.

Nesse sentido, posso dizer que o tokusatsu foi minha entrada para esse universo asiático, seja de série, filmes, desenhos, quadrinhos ou música. Não é a toa que minha paixão pela cultura oriental é muito bem enraizada. Hoje, infelizmente, deposito menos tempo nisso do que gostaria. Mas ainda há tempo. Sempre há.

A minha maior amizade, por exemplo, foi construída a partir de um anime (desenho animado japonês), por assim dizer. Lá por meados de 1994, ainda que a data exata seja debatida, já que eu acho que iniciara antes do dia 1 de Setembro e esse meu amigo bate firme o pé que se iniciou nesse dia. Não é Sr. Maicon Garcia? O que importa é que ela é marcada pela estréia de Cavaleiros do Zodíaco; Também na saudosa Rede Manchete. São poucos os amigos que podem dizer que faziam o impossível com uma antena UHF para poder ver, de forma revezada, o anime Yu Yu Hakusho cheio de chuviscos porque a dona Rede Manchete havia mudado de canal…

Esse é o poder do entretenimento com fortes valores. Que ensinam as crianças e os jovens a serem adultos melhores. Valores como amizade, altruísmo, tolerância, caridade, amor ao próximo e, acima de tudo, justiça, são a base desse tipo de entretenimento como o tokusatsu e diversos animes e mangás (quadrinhos japoneses). A maioria dos meus melhores amigos divide esse mesmo background comigo.

Hoje, tristemente, valores são cada vez menos ensinados em desenhos e séries para crianças. Valores parecem não ter mais tanta importância. O importante é a pura distração, o excesso de informações vazias e as cenas psicodélicas que mais prejudicam do que estimulam a mente dos mais jovens. E é obvio que isso tem um propósito. Sempre tem.
Se não todos, pelo menos a grande maioria das pessoas que conheci quando criança que assistiam tokusatsu e animes, ou liam mangá, tornaram-se adultos maravilhosos. Pelo menos aquelas que conheci. É falho dizer que isso é uma regra geral, uma vez que não tenho onisciência (ainda). Porém, o fato é que, entretenimento que traz como sua base valores tão puros como amizade, justiça e tolerância, só podem agregar de forma positiva à vida de qualquer criança, adolescente ou adulto.

Por fim eu, mesmo sem muito tempo, sempre que posso, assisto meus tokusatsu. Eles me devolvem a energia e a fé no mundo, no ser humano. Pois são histórias de heróis. Não apenas de super-heróis que salvam as pessoas, mas de verdadeiros heróis que ensinam, que transformam (henshin!) a vida de uma criança semeando nela os melhores pensamentos e valores. E, no tokustatsu, é muito clara a ideia de que as crianças são o futuro do mundo e não há nada mais precioso e importante do que elas. São o bem mais valioso da humanidade e deveriam ser cuidadas, protegidas e ensinadas a serem elas mesmas seus próprios heróis na busca de fazer o bem a todos. Afinal, não é disso que se trata ser mais humano?

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