Desde os tempos mais remotos, o conhecimento e todo o arcabouço da sapiência humana é representado, pela maioria dos povos, no símbolo da serpente, ou dragão. As palavras antigas de ambos os animais possuem o mesmo sentido para os dois.
Esse animal inteligente, tão esperto, está no caduceu de Hermes, o três vezes grande, no bastão de Esculápio, na roupa do imperador da China, na coroa dos Faraós do Antigo Egito, na escada da Pirâmide do Sol em Teotihuacan no México, protegeu Buda de uma tempestade enquanto em meditação, e está presente em diversas outras culturas como símbolo de inteligência.
Para efeito da coluna de hoje, lembre-se de que a serpente é o “animal inteligente”. Mesmo nas religiões Abraâmicas, no Genesis, capítulo 3, é lido: “Ve haNachash hayah arum mikol chayat haSadeh”, isto é “E a serpente era a mais astuta de todas as animálias do campo”. O verbo usado na tradução para astuto, também é empregado para “desperto”, “acordado”. Ou seja, o animal mais lúcido, senciente. Quando o Eterno, que é Deus, fez o ser humano sua imagem e semelhança, Ele o fez soprando em nós um Espírito, que nos dotou de uma consciência; Termo esse que pouco é entendido nos dias de hoje. A consciência é uma faculdade do Espírito, não do animal. E este, por mais inteligente que possa ser, não possui essa habilidade que vemos nos seres humanos, que temos por consciência.
Assim, enquanto a consciência do Espírito é de origem superior e perfeita, a inteligência animal é de origem grosseira, falha e instintiva. E é através de ambas que balança o ser humano, pois ele, ainda que possua a consciência advinda do Espírito, não deixa de ser também um animal inteligente. E, essas naturezas, ainda que trabalhem em conjunto, são opostas. A inteligência animal está em oposição à consciência do Espírito. É sua opositora. Em hebraico, Satan: opositor, adversário. E, acredito que, a essa altura, o leitor já deve ter juntados os pontos. O Genesis, que não é um texto literal, mas alegórico da criação, traz em seu texto a serpente simbólica, que representa o próprio homem em seu estado de animal inteligente que, achando-se mais esperto que a inteligência superior, a consciência advinda do Espírito, opta por seguir seus instintos animais, dando as costas ao presente divino do Espírito dado pelo Eterno. A própria árvore da Ciência do Bem e do Mal é uma alegoria ao descobrimento dos efeitos de se seguir o lado animal. Pois agora o ser humano sabia que aquela decisão era ruim e que, por isso, estando naquele estado atávico ou animalesco, era incompatível com o estado de perfeição agraciado pelo Espírito e, assim, não mais estava apto a permanecer nele. Esse estado de graça é representado pelo Jardim do Éden, onde tudo é perfeito. E caindo dele, seu retorno se tornou difícil, e a entrada protegida por Querubins.
Assim, envolto nos pensamentos caóticos e grosseiros da mente animal, que é a própria serpente ou diabo, o ser humano possui dificuldade de se conectar com o Espírito e, dessa forma, precisa “ser virar por conta própria”, “arando sua própria terra e comendo do suor do seu rosto”. Por isso a busca por “ouvir” o Espírito é tão importante e ao mesmo tempo, tão difícil. Mas não desista; cresça, aprenda e evolua.