Extremismos opostos

Já dizia Éliphas Lévi, ocultista do século dezenove, que as operações externas, por mais elaboradas, mirabolantes e incríveis que pareçam ser, servem apenas para provocar estímulos internos. Isto é, todo o processo mágico (leia-se de fé), acontece única e exclusivamente dentro do ser humano.

Ora, Sidarta Gautama, o Buda, atingiu a iluminação enquanto sentado sob uma árvore. Jesus ensinava sentado sobre uma rocha, pedra ou qualquer outra coisa. Maomé pregava aos seus contemporâneos sob tendas. Isso porque a fé é simples. É o ser humano que a complica.

Nossa mente animal tende a racionalizar todos os processos. Ela tem essa necessidade, essa ânsia de suprir algo que ela não possui: o conhecimento da fé. Porque fé não vem do conhecimento humano. E essa é uma das inúmeras falhas da nossa mente animal. Digo mente animal porque separo, com apoio de milhares de outros antes de mim, o ser humano em duas partes distintas: a mente animal (alma), e a consciência inspirada (Espírito). Passamos maior, se não toda, parte do tempo vivendo da mente animal.

Se antes o ser humano tentava racionalizar a fé, e assim a institucionalizou, engessando-a, criando dogma abaixo de dogma, hoje ele a banaliza, fazendo com que qualquer experiência anímica, seja ela com base em drogas ou apenas induzida por certos ritmos, seja tratada como experiência espiritual, sendo que essa última é um evento raro na vida do ser humano.

A experiência mística, isto é, de união com o divino, é um feito hercúleo que pouquíssimos seres humanos foram capazes de fazer. Ter vislumbres do Espírito, dessa inspiração divina, é algo que se pode ver com mais frequência, mas uma experiência espiritual legítima, é algo tão raro que, de fato, nessas minhas quase três décadas estudando tudo que se relaciona ao ocultismo, conheci duas ou três pessoas que se aproximaram de uma união mística de verdade.

Hoje a espiritualidade está tão banalizada quanto antes era institucionalizada. Vemos os dois extremos, novamente. Antes eram igrejas, templos, mesquitas e sinagogas com regras pesadas, com dogmas que nunca foram ensinados pelo primeiro que professou aquela fé, e, hoje, é tão desregrado, que qualquer coisa pode se passar por experiência espiritual. Ora, Jesus nunca precisou ascender vela ou incensar um lugar para orar; como Buda nunca precisou andar em sentido horário ou tocar sino para acessar estados superiores. Entretanto, se eles estivessem aqui hoje, estariam completamente decepcionados com o que fizemos com seus ensinamentos. E o mesmo ocorre com as novas religiões anímicas, dessa Nova Era, que passam longe de qualquer espiritualidade, e se afundam cada vez mais em experiências da mente animal (que são incríveis, não vou negar que realmente podem se passar por uma experiência espiritual profunda, mas uma reflexão mais atenta consegue separar o joio do trigo).

Por isso lembre-se de fugir do extremo, de nunca deixar de refletir, e de jamais aceitar algo como verdade sem antes esgotar todas as dúvidas. Porque no fim do dia, para aqueles que não tiveram uma união mística de verdade, tudo não passa de especulação.

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