Comemoramos dois equívocos nessa semana

Ontem foi Dia do Indígena (melhor do que índio, que é um elemento químico e só existe na tabela periódica), e amanhã é Dia de Tiradentes, que não morreu na Inconfidência Mineira, mas fugiu para Portugal; e, depois de amanhã, é Dia do Descobrimento do Brasil, que claro, não foi descoberto por Cabral. Até porque os indígenas sempre estiveram aqui e, mesmo antes de Cabral, Fenícios, Chineses e Africanos já haviam visitado essas terrinhas. Então, só nessa semana, três equívocos são comemorados, sendo que dois deles são ridículos e é sobre eles o texto de hoje.

A história que sempre aprendemos na escola é repleta de erros velhos que se perpetuam mesmo depois de novas informações serem descobertas, modificando parte ou completamente o que já sabíamos. A história Antiga, por exemplo, tem erros crassos que não compreendo como ainda se encontram nos livros, uma vez que muito já se aprendeu desde meu tempo de Ensino Médio. Ainda hoje, comemorar um descobrimento falsificado, uma vez que já é sabido que Cabral tinha pleno conhecimento de para onde estava indo, é inacreditável. E deveria ser inaceitável. Para início de conversa, o Brasil não era um local selvagem para ser “descoberto” por um “civilizado”; era um local repleto de povos e etnias culturalmente diversos. Constelações de cidades inteiras populavam a América Latina. Caminhos continentais, como o de Pe’Abiru, serviam como rota de comércio entre os povos, desde o litoral do Brasil até o Império Inca, no Perú. O que os europeus fizeram foi invadir e conquistar. Esses são os termos corretos. Foi um crescente e persistente genocídio com os povos ancestrais que foram sendo dizimados, fosse por doenças ou pela barbárie da ação“civilizadora” dos invasores, que foram reduzindo os povos indígenas a pequenos grupos que se refugiavam cada vez mais para o Oeste, perdendo suas casas, suas terras, seu modo de vida e subsistência. Povos que foram desaparecendo, perdendo suas culturas, assimilados na dominante cultura européia que, além de trabalhar em prol da destruição dessas culturas ancestrais, não achava lugar para esses indígenas dentro de seus moldes. E, assim, eles foram “reduzidos” à “civilização”.

Ainda na escola, eu venho de uma época em que, no “dia do índio”, os alunos se fantasiavam de índio, e batiam na boca fazendo sons como aqueles norte-americanos dos filmes. Hoje percebo como isso era um ultraje e uma falta de humanidade com os povos originários da nossa terra. Com uma cultura tão rica, bela e cheia de ensinamento. Além de reduzirmos os povos indígenas a pequenos grupos, quase sem terra, fazíamos (e em muitos lugares ainda fazem) graça e chacota com sua cultura, usando-a como fantasia de carnaval, como o exótico, quando, de fato, no âmago da palavra, o exótico é o invasor europeu, que não é originário desse continente.

Por isso ensinem aos seus filhos, seja na escola ou em casa, que Cabral não descobriu nada, e que não existem índios, mas indígenas. E que sua cultura é tão ancestral e rica quanto as que deram origem ao ser humano e que eles, como nós, são seres humanos e merecem todo o respeito, admiração e justiça. Em favor da Demarcação de Terras Indígenas.

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