Há muitos anos assisti uma cena de um filme que me marcou profundamente. A cena em questão, se não me engano, é do filme Os Dez Mandamentos, original de 1956, estrelado por Charlton Heston no papel de Moisés. Não recordo direito quando e onde vi, mas a ainda era criança e, lembro perfeitamente do momento em que Moisés desce do monte e explica para o povo que Deus está falando com eles. O povo, porém, só ouve o som do vento. Entretanto, lentamente, alguns dos presentes começam a entender que não é o vento, mas Deus que fala com eles. Bastou que abrissem seus ouvidos para ouvi-Lo.
Esse contexto específico da cena me deixou uma pulga atrás da orelha desde aquele dia e, felizmente, durante minha vida, essas ideias começaram a ganhar uma luz, um sentido.
Você pode chamar Deus do que quiser, mas se você acredita que há algo superior, algo que está além desse plano físico, certamente você deve concordar que ele quer o seu bem e, por isso, está o tempo todo lhe guiando, dizendo-lhe como proceder para fazer tudo da forma mais correta possível. A grande dificuldade do ser humano é abrir os ouvidos para ouvir Suas palavras. E, acredite, a massiva maioria não abre. Aliás, nem sabe como fazê-lo. Fala muito e ouve pouco ou nada.
Em poucos e raros momentos algumas pessoas tem um lapso de intuição, onde um conhecimento simplesmente surge, de lugar nenhum, com uma dica certeira sobre determinado assunto. Nesse instante dize-se que se seguiu a “intuição”, ou que teve “sorte”, porque não houve um raciocínio lógico direto. Não foi uma escolha reflexiva, mas intuitiva. São nesses pequenos momentos que, sem querer, por alcançar um estado de plenitude temporário, conecta-se com essa Força Criadora, com Deus. Porém isso é tão efêmero, tão ocasional, que nem se percebe.
Não importa a religião que você siga, só há uma verdade. Não pode haver duas. Não há dois caminhos para o que há além daqui. Essa única e última verdade é interpretada de muitas formas pelas mais diversas religiões ao longo da história e do mundo. Cada uma delas observa um pedaço dessa verdade e, infelizmente, tece dogmas em forma de instituição religiosa que prendem o buscador e o impedem de encontrar o restante dessa verdade, fadando-o assim a patinar nesse mundo mais do que o necessário.
Dogmas são venenos letais que matam, não o corpo, mas o espírito. Se as pessoas soubessem do destino de quem patina nos dogmas de suas instituições religiosas viraria as costas para elas e partiria em uma busca própria, nos fundamentos originais da sua religião.
Só há um caminho, e esse caminho é verdade e vida e é só por ele que se chega a, digamos, Deus ou a fonte Criadora de tudo o que é manifesto. Esse caminho é Cristo? É, para os Cristãos. É o Paramatman para os Hindus, o Arhat para os Budistas… e tantos outros. Existe aí uma única verdade, que conecta esse espírito humano a um sublime, que permite que vislumbre algum aspecto do Criador.
A grande busca do ser humano, como um ser espiritualizado, deveria ser abrir esse ouvido, isto é, ter ouvidos para ouvir, e se permitir ser guiado pela Luz que vem daquele que a tudo criou, chame você como quiser. E isso se faz calando-se a si mesmo. Assim, não só ele se tornaria um ser mais espiritualizado e mais próximo dessa verdade única, para se reunir com o Criador, como seria um ser humano melhor. Por isso, fale menos, ouça mais. Seja mais humano.