Skatismo e Hip Hop. Foi através dessas duas ferramentas que três amigos se uniram há cerca de dez anos e, a partir daí, passam por poucas e boas juntos praticando muito o esporte e produzindo música. Henrique Dalmora, 22, Josiel Muller, 23, e Magnus Adriano da Rosa, 35, são sinônimos de união, aprendizado, humanismo e muito talento.
Magnus já frequentava a pista de skate do Centenário quando Josiel e Henrique também começaram a praticar o esporte no local. Assim surgiu a grande amizade, onde os três se encontravam no mínimo uma vez por semana. Faça 5ºC ou 35ºc, o trio se encontra semanalmente, deixando o skate de lado apenas quando chove.
Juntos, os garotos já visitaram algumas cidades em busca de outras pistas, como Esteio, Sapiranga, Canoas, Novo Hamburgo e Porto Alegre.
Cada um tem uma história diferente dentro do esporte. Josiel pratica o skatismo há oito anos e participou de campeonatos em diversas localidades dentro e fora do Brasil. Dentre eles, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Espanha e França. “Além de ter focado no esporte, eu faço alguns vídeos meus andando de skate, onde mostro meu trabalho na rua e na pista”, conta ele, que pretende ainda, viver do skate.
Já Magnus não continuou indo a fundo no skatismo. Ele conta que, quando mais novo, competia, mas o acesso a tudo era mais complicado pois nem internet e telefone existiam. “Era tudo mais difícil. O Henrique, por exemplo, chegou quando o skate tava mais evoluído e tal”, salienta.
No caso de Henrique, ele também não focou totalmente no skate e admite sua primeira paixão: o Hip Hop. Dalmora produz música pelo menos há três anos e, no dia 24 de agosto, irá gravar o áudio de sua primeira música. Com muita esperança em gravar o clipe, ele conta animado que é um passo à frente fazendo o que ama.
Descaso com o esporte
Os jovens lamentam o pouco incentivo ao esporte em Montenegro. Um dos maiores problemas é a pista que, segundo o trio, é ultrapassada e com o formato tão antigo que nem existe mais em outros lugares. “Todo ano nas eleições prometem uma associação pra ajudar no skatismo, mas chega na hora de fazer e a gente continua aqui andando nesse chão áspero. Tem muita cidade menor que tem no mínimo uma pista melhor e aqui nada”, lamenta Henrique. “Engraçado que aqui é a Cidade das Artes que não apoia a arte”, pontua.
O trio comenta, ainda, que todos os esforços são em vão, e que até as músicas que compõem para reivindicar e pedir ajuda, não valem de nada para quem pode tomar providências. “Cara, aqui é nós por nós. A gente tenta mudar, pede melhora, mas no fim é nós por nós mesmo”, sublinha Magnus. “Se nós não corrermos atrás não rola. Fomos atrás e é quase cinco mil só pra pôr um som aqui e dar algum prêmio pra gurizada se incentivar. É difícil”, pontua.
“Se não dá pra mudar a pista, tá, não queremos ser os chatos que só reclamam. Mas umas latas de tinta não é pedir muito. Só jogar aqui na pista e ia ficar pelo menos liso, assim não é tão perigoso”, comentam Josiel e Henrique. Muller reclama do incentivo quase inexistente. “Acham que quem anda de skate não faz nada. Por isso não vão trocar a pista aqui, quem que vai gastar pra arrumar a rampa se acham que somos uns vagabundos?”, lamenta. “Não é nada disso. Eu quero viver do skate, mas tenho consciência que, pra isso, tenho que me mudar daqui”, finaliza.
Essência do skate
Além de competir entre si, o trio se enche de orgulho ao comentar a importância do skate em suas vidas e sublinha que o esporte vai muito além das competições. O skate abrange união, incentivo e muito apoio psicológico. “Aqui é assim que funciona, quem sabe vai ajudar quem não sabe, vai apoiar. O melhor ajuda quem ainda não é tão bom. Algum cara errou as manobras? Manda levantar e ir de novo, uma hora dá certo”, afirma Magnus.
O trio comenta, ainda, que todo o fim de semana, especialmente aos domingos, eles se encontram na pista, espaço que não é destinado apenas ao skate. A maioria das vezes a pista lota de bicicletas, crianças e seus familiares, que vão ao local em busca de lazer. “Fica tão cheio aqui que eu nem ando no fim de semana”, comenta Josiel.
“É uma coisa bacana, sabe? As crianças vêm de bike e skate e tem toda aquela interação e a gente ajudando a andar e tal. Eles aprendem com nós. Por isso não deveria ser um descaso. Abrange até famílias no fim de semana”, salienta Magnus. “Se não fosse pelo skate, o Centenário não teria esse lazer, já que as pessoas vêm tomar chimarrão e conversar aqui em volta da pista”, finaliza.