Lembrar e conversar sobre os antigos costumes do interior e da colônia é algo recorrente nas famílias que tiveram alguma vivência interiorana ou que ainda estão nas áreas mais rurais da região. Com o tempo muito da cultura se perdeu, mas de vez em quando alguém resgata tradições da época dos avós.
Ainda há locais que preservam a cultura trazida principalmente pelos imigrantes alemães e italianos. Bailes de Kerb e de Chopp, brincadeiras, encontros de corais com canções típicas da imigração e até a culinária ainda se fazem presentes em muitas comunidades.
Em Maratá, neste final de semana, acontece a 1ª Bierfest, em evento de rua, como a primeira edição da Oktoberfest da cidade. De acordo com Miguel Haupenthal, um dos organizadores, a programação deve trazer de volta os bons tempos das festas do interior e os costumes da cultura alemã do século passado.
“É como nos Kerb de antigamente. Qual a festa que não tinha um ovo curtido pra vender?”, diz Haupenthal. Pra quem não sabe, o Kerb acontece no final de semana em que se comemora o aniversário do Santo Padroeiro da comunidade. Geralmente um Baile é organizado no sábado. No domingo, as famílias preparam um grande almoço para os parentes que chegam de longe.
Claro, hoje em dia não é tão comum fazer grandes festas como se fazia antes. Outras comidas faziam parte do cardápio destes eventos, como o bolinho de batata, carne de porco assada, batata e a famosa cuca com linguiça. Na sobremesa é sagrado ter bastante sagu com creme e um pudim para acompanhar. “O spritzbier é uma bebida que a gente tomava antigamente, porque não tinha refrigerante. E isso nós vamos ter aqui na festa (Bierfest) sexta, sábado e domingo”, revela Miguel.
Outro evento comum na região é o encontro de corais, das Sociedades de Canto, que ainda preservam canções na língua alemã e italiana.Também em Maratá, existe a Liga de Corais 25 de Julho, que anualmente reúne seus corais integrantes, no mesmo dia do nome da Liga, sempre em uma comunidade diferente. Durante as apresentações, somente canções na língua alemã ou que falem sobre colonos fazem parte do repertório dos grupos, assim também respeitando as tradições e o clima da festa.
Brincadeiras que são sucesso no interior
Gildas – Muitos leitores talvez conheçam por outro nome, não saibam exatamente como é a pronúncia e até mesmo nunca viram a brincadeira. A verdade é que ela acontece durante os Bailes de Kerb. Geralmente uma garrafa é transformada em uma boneca com palha de milho, tecido ou papel crepom. Coloca-se a Gilda suspensa, no meio da pista de dança, e quem arrancá-la deve pagar uma caixa de cerveja. Quem puxa a Gilda é considerado o “grandão” da festa.
Polonese – Dança muito conhecida em diversos eventos, até mesmo em família. Casais se posicionam um atrás do outro e formam uma grande fila. Quem puxa a dança precisa ser criativo e cuidadoso. Em ritmo de marcha, a música embala homens e mulheres. Em um momento os pares trocam (homens para um lado e mulheres paradas em fila para que o puxador pegue a última mulher da fila e assim por diante). É quase a dança da quadrilha no São João. Túnel é feito, troca-se os pares novamente e por fim um caracol humano aparece.
Corrida do carrinho de mão – O carrinho de mão no dialeto alemão é conhecido como “Schub Kharã” (conforme se pronuncia). Nem precisamos de muitas dicas. Uma dupla (pode ser casal) é formada e um dos dois senta no carrinho, que é conduzido pelo parceiro. É determinada uma distância para que seja percorrida ida e volta. Em alguns locais, na chegada é realizada a troca, ou seja, o piloto se torna o passageiro e o percurso é realizado novamente até o primeiro cruzar a linha de chegada.
Chopp em Metro – Praticada geralmente na Oktoberfest, é feita da seguinte forma: tulipas de vidro com um metro de comprimento e preenchidas com um litro de chopp são entregues aos participantes (separados pelas categorias masculino e feminino). Ao som de início, os tomadores devem beber o líquido. Quem cumprir a proposta em menos tempo sem babar e baixar a tulipa vence a competição.
Stammtisch – Dois grupos participam e cada um fica de um lado da mesa. Cada integrante
recebe meio litro de chopp. Com o sinal de início, um participante de cada equipe (quem estiver na ponta da mesa inicia) começa a beber e ao esvaziar o copo, precisa bater o mesmo para que o colega possa beber. A equipe que bater todos os copos primeiro é a campeã.
Roleta da sorte – Esta é muito antiga. O comprador escolhe um número da roleta e faz a compra dele. Ao girar, a pessoa fica na torcida para que a roleta pare no número da sorte. Caso acerte, o comprador ganha um prêmio.