Traz o documento oficial que às 20h30min do dia 14 de dezembro de 1940 era fundado o Aeroclube, entidade que contribuiria para que “Montenegro marchasse lado a lado com outros municípios” dentro da política de apoio à aviação civil do presidente Vargas. O prefeito de Montenegro, na época Carlos Corrêa da Silva, foi nomeado presidente; e Júlio Renner, diretor do Frigorífico Renner, o vice. Até mesmo o Presidente da República, Getúlio Vargas, foi comunicado da fundação por telegrama, o qual respondeu, agradecendo.
Nascia, não só a entidade, mas também era definida a área que veio a se tornar o Aeródromo Municipal. Fábio Zanatta, hoje tesoureiro do Aeroclube, conta que foi dentro do contexto da 2ª Guerra Mundial que tudo começou. “Naquela época, o governo brasileiro incentivou a formação de pilotos, injetando recursos nos aeroclubes, porque ele não tinha quase escolas”, relata. “1940 foi o boom dos aeroclubes em função dessa estratégia de guerra para termos pilotos sobrando.”
E o nome de Júlio Renner não apareceu à toa no primeiro escalão da entidade. No auge das atividades do frigorífico, de relevância nacional e até internacional, o empresário viu vantagem na criação do aeródromo e da entidade que o administrasse para que o local, além de ser usado por amantes da aviação, também fosse uma nova porta de entrada do Município que facilitasse e impulsionasse os negócios. “Teve todo um envolvimento pelo desenvolvimento econômico”, destaca Zanatta. A Tanac era outra empresa que muito fez uso do espaço já nos seus primeiros anos de existência.
Registros antigos mostram pedaços importantes dessa história
O ponto de virada
Como toda história tem seus altos e baixos, vinte anos após a inauguração, o Aeroclube passou por um período de dificuldades. No início dos anos 60, a pista precisava ser melhor estruturada para receber mais voos e surgiu um grande problema, que quase deu fim à trajetória da entidade: a propriedade do aeródromo passou para o controle de doze herdeiros diferentes que não tinham mais interesse em manter a cessão de uso.
Foi quando uma reorganização do estatuto, em 1965, desvinculou o cargo de presidente do prefeito do Município; dando espaço para a entrada do primeiro presidente propriamente dito do Aeroclube: o empresário Agenor Rigon. Ele era membro do Rotary Club e foi indicado, justamente, pelo empresariado local para colocar em dia a entidade. “Eu gostava de aviação, mas não tinha uma ligação maior. Entrei de corpo”, lembra o ex-presidente, que ficou no cargo até 1971.
Coube a ele a tarefa de, com dedicação e habilidade política, organizar para reunir os doze herdeiros e conseguir com que o Município fizesse a aquisição da área. Por sorte, o prefeito da época, Hélio Alves de Oliveira, via a pauta com bons olhos; mas ele já estava no final do seu mandato, demandando uma corrida contra o tempo para que tudo fosse acertado antes da troca de governo. Foi suado, mas deu certo. “Nós só não perdemos aquela área por questão de muita dedicação”, lembra Rigon.
Desde 1966, então de posse do Município de Montenegro, a área de mais de 9 hectares com a pista de 920 x 40 metros, passou a formar o Aeródromo Municipal, que pertence e é motivo de orgulho a todos os montenegrinos. A assinatura das escrituras também marcou o convênio com a entidade Aeroclube como administradora da área onde tem a sua sede. “Eu fico muito satisfeito de ter podido colaborar para manter essa estrutura que está aqui até hoje”, destaca Agenor Rigon.
Foi sua gestão que estruturou a escola de pilotos, plantando a semente do que ela é hoje com recursos enviados pelo governo federal. Em seis anos, o primeiro presidente realizou eventos e pôde acompanhar a evolução das tecnologias e da aviação brasileira. Mas em contato com tantos amantes das aeronaves e dos voos, ele revela que, no ar, angariou pouca experiência. “Eu cheguei a fazer um voo solo por cima da cidade. Depois, fiz uma ou duas aulas; e nunca mais. Eram muitos os compromissos e tinha que deixar os aviões pros alunos”, recorda. “Mas eu tenho muito carinho por aquilo lá”.
Aeródromo tornou-se importante diferencial competitivo do Município
Hoje, já com importantes empresas em seu território, Montenegro é sede do projeto do Polo da Química Gaúcho, que é focado em aproveitar a proximidade com o Polo Petroquímico de Triunfo e todas as vantagens logísticas de seu entorno para trazer, ao seu Distrito Industrial, novas empresas da terceira geração da área química. Quatro investimentos já foram confirmados e iniciam a instalação no decorrer do próximo ano; e dentre as vantagens oferecidas nesse pacote, ao lado das possibilidades e acessos para transporte hidroviário, ferroviário e fluvial, está o Aeródromo Municipal.
“Esses dias mesmo, nós recebemos um avião de Santa Rosa com uma empresária que veio para uma reunião na John Deere. Ele pousou, ela pegou um táxi e foi para a reunião”, conta o tesoureiro do Aeroclube, Fábio Zanatta. “Essa facilidade é, com certeza, um fator decisivo para a instalação de um empreendimento aqui na região.”
Grandes empresários, como o presidente da rede de Farmácias São João, usam o aeródromo como porta de entrada para o Município. Foi através dele que o empreendedor chegou para a inauguração recém realizada da nova farmácia no Centro de Montenegro, por exemplo.
E tendo, além da pista de aviões, um heliponto de 18 metros quadrados, iluminado para voos noturnos, o local também é utilizado pela Brigada Militar e a Polícia Civil, em ações e treinamentos; e pelo Hospital Unimed Vale do Caí para a remoção de pacientes e outras operações. “Isso aqui é uma infraestrutura logística que é um diferencial para Montenegro”, pontua Zanatta.
A área é regulamentada pela Anac e, administrada pelo Aeroclube, fica aberta praticamente 24 horas por dia para receber aeronaves e visitantes da própria comunidade que queiram conhecê-la. “Têm domingos em que enche de pessoal aqui”, conta o atual presidente da entidade, Marco Aurélio Dietrich. “Vêm pais com crianças. A gente acompanha os visitantes para dentro do hangar, mostra os aviões; e isso, inclusive, desperta o interesse pela aviação em, talvez, futuros pilotos.”
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