Especialista reflete sobre a importância do planejamento financeiro
Você deve estar lendo o título dessa matéria e pensando o que o Verão tem a ver com economizar. Na realidade, tem tudo a ver. É exatamente nesta fase do ano que a grande maioria das pessoas começa a se motivar e levantar possibilidades para curtir o clima quente, festividades a caminho, praia. E, até março, é tudo festa e vivendo a vida como se não houvesse amanhã.
“Mas tenho uma notícia para dar: existe um amanhã”, alerta a consultora financeira, Aline Keller. “Existe um futuro e, infelizmente, os números brasileiros com relação a programação financeira são caóticos.” Com base em dados do IBGE, a especialista aponta que, no País, apenas 1% das pessoas chega à terceira idade e consegue viver sem depender de alguém ou, mesmo, sem precisar trabalhar. “46% dos idosos no País dependem de parentes, 28% dependem de caridade e ainda 25% precisa continuar trabalhando. Isto é muito triste e, com a reforma da previdência, a tendência é piorar”, coloca.
E isso tem relação com a analogia do Verão. Muitos tendem a não se preparar financeiramente para o futuro. Como no exemplo, gastam em janeiro e fevereiro e passam o resto do ano “correndo atrás da máquina”; numa realidade em que qualquer imprevisto tende a representar um verdadeiro beco sem saída. O ideal não é deixar de aproveitar o presente. Nada disso. Mas é viver o presente construindo uma base para o futuro; e, para isso, é preciso organização.
“Hoje, muitos jovens até estão começando a se despertar para isso porque estão vendo, dentro de casa, a falta de organização financeira de suas famílias”, aponta a consultora. Essa organização parte da lógica de que a prioridade para a aplicação dos ganhos com salário e afins é o gerenciamento de risco; o preparo financeiro para o que vem pela frente na vida e pode nos abalar. Só depois que se parte para a acumulação e as conquistas.
Muitos, claro, fazem o contrário. “Normalmente, a pessoa começa a trabalhar e a primeira coisa que ela faz quando começa a ganhar renda é comprar alguma coisa. O homem, por exemplo, costuma comprar um carro”, coloca Aline. “A gente vai comprando imobilizados, coisas que vão se deteriorando ao longo dos anos; e vamos começar a nos apavorar lá nos 40, 50 anos de idade porque construímos uma estrutura totalmente frágil.” E como pensar essa estrutura?
Na vida financeira, também é preciso ter uma base sólida
Aline Keller usa o desenho de uma pirâmide para exemplificar a diferença entre uma pessoa com as finanças bem organizadas e o que é a realidade da maioria dos brasileiros. Como abaixo, de um lado está a base da pirâmide formada pela renda gerada do trabalho, seguida do gerenciamento do risco (o preparo da pessoa para possíveis fatalidades, como a pandemia, que afetou a renda de tantos); e, aí sim, as acumulações e conquistas.
De outro, a pirâmide é invertida, sem base, com a renda custeando, primeiro, conquistas e acumulações, como a compra do carro, sem pensar nos possíveis riscos. “É como se tu vivesse num castelo de cartas”, exemplifica a especialista. “Se a estrutura da casa não é sólida, não adianta ter uma fachada linda, um telhado maravilhoso e moderno; porque vai desmoronar tudo.” A estratégia financeira no Brasil é invertida e a pandemia mostrou isso pra muita gente.
A consultora financeira aponta que essa reorganização, além da blindagem do patrimônio enquanto preparo para os possíveis percalços da vida, passa por conhecer possibilidades de investimentos de curto, médio e longo prazo, expandindo horizontes para além da tradicional Poupança; e ter a disciplina de saber não só quando e no quê poupar, mas também de dar tempo para deixar o dinheiro render. “Construindo uma base sólida, aconteceu algum problema como a Covid, tu vai sentir o impacto, mas tu não vai desmoronar”, pontua.
E é importante pensar nisso desde cedo. “Quanto mais tarde a gente ter essa consciência, maiores terão que ser os sacrifícios, comprometendo a nossa renda atual para ter uma organização financeira futura”, destaca Aline.
É preciso repensar nossa relação com o dinheiro e planejar! Dá, sim, pra ir curtir o Verão, mas sem entrar na onda do gasto desenfreado como se não houvesse amanhã. Com ou sem pandemia, o amanhã chega; e o presente tem que ser curtido, mas dentro de condições saudáveis para o SEU BOLSO.