Fundarte: 52 anos de impacto na vida dos montenegrinos

Alunos artistas carregam o título da Cidade das Artes ao redor do mundo

Neste sábado, 7, a Fundação Municipal de Artes de Montenegro completa 52 anos. Uma longa caminhada, com personagens e histórias que marcaram toda a comunidade e fizeram parte dessas cinco décadas de promoção à cultura no Vale do Caí.

Uma Fundação que iniciou em 1910 e, depois de passar certo período fechado, o então Conservatório de Música de Montenegro era reaberto, em 1959, durante gestão do prefeito Hélio Alves de Oliveira. Novamente, ele veio a fechar. Em sete de junho de 1973, o Conservatório era novamente reaberto, na gestão de Roberto Atayde Cardona e que também contou com forte iniciativa de Therezinha Petry Cardona. A partir dali, a dava-se início às aulas de piano e de teoria musical. Em cinco de dezembro de 1983, a Fundarte era criada, visando manter uma escola de artes em Montenegro. 52 anos depois, ela continua sendo referência naquilo que sempre se propôs a ser.

Atual e 6º diretor da Fundarte, Rodrigo se sente orgulhoso em participar da história dessa instituição. foto: Divulgação

“Eu me sinto extremamente orgulhoso em estar no lugar que eu ocupo hoje. Primeiramente, porque eu tenho uma história com essa instituição. Ingressei como aluno em 1995 e me identifiquei, descobri a arte como uma profissão”, afirma o atual diretor, Rodrigo Kochenborger. “A Fundarte tem esse caráter de ser democrática, de ser acessível pra todos. Então eu me coloco na responsabilidade de transformar isso cada vez mais possível pra comunidade montenegrina.”

À frente do cargo desde janeiro de 2024, o diretor também explicou mais sobre a relação entre a Fundarte e o seu aluno. “Eu acho que a Fundarte está sendo cada vez mais relevante para o montenegrino. A arte e a educação estão aliadas ao processo de humanização de pessoas. Nós estamos em um processo virtual, cheio de mídias, e de alternativas velozes. Mas aqui é diferente. Uma música não vai ficar pronta num piscar de olhos. O nosso aluno precisa construir ela, o som, desenvolver essa habilidade. O tempo de maturação das coisas é da humanidade. Então eu acredito que a gente ainda vem sendo um local em que as pessoas possam vivenciar a arte aqui no município”, afirma.

Kochenborger também relatou a importância da Fundarte em sua vida. Ele diz que está vinculado a essa instituição desde a adolescência, e seus filhos seguem o mesmo caminho. “Eu vi esse nosso prédio em construção. Meus amigos, minha roda de parceria toda gira em torno da Fundarte, do canto coral, dos grupos instrumentais e das aulas. E meus filhos já estão estudando aqui, fazendo piano, violino, canto coral, as meninas fazem balé. Toda minha vida, hoje, é atrelada a Fundarte.” finaliza Rodrigo.

O aluno que se tornou violinista

Heine se especializou em Violino, e segue dando aulas aos alunos da instituição. foto: Divulgação

Atual professor violinista da Fundarte, Heine Wentz iniciou seus estudos sobre violino na escola em 1986, a partir de bolsas, com o professor Jürgen Wentz. Ele fazia o trajeto Salvador do Sul – Montenegro uma vez por semana. Heine também relata sobre a importância de ter estudado na Fundarte. Graças aos ensinamentos, ele pôde se preparar para a prova da UFRGS, sendo aprovado. Ali, conta que foi o local que descobriu que queria ser professor. “Tive aula com vários professores e passei a me interessar bastante nas questões didático-pedagógicas, bem como no desafio de ensinar o que tive a oportunidade de aprender. Também aprendemos ensinando: as “dificuldades” dos alunos também são nossas no sentido de pensar maneiras de ajudar a solucioná-las.”

Depois de finalizar sua graduação, Wentz retornou à Fundarte para ministrar aulas, em 1999. Segundo ele, foi um sentimento de estar voltando para casa, tendo a responsabilidade de compartilhar o que aprendeu em quatro anos longe de suas origens. “Me sinto muito privilegiado e contente em poder, agora, ser professor aqui. A Fundarte me possibilitou ter um olhar muito mais amplo da música, bem como das artes.

Os Seminários de Arte-Educação, cursos, encontros de instrumentistas, assim como trabalhar, dialogar com colegas das quatro áreas das artes na Fundarte sempre ampliou e enriqueceu a minha experiência musical/profissional.”, comentou o violinista. Ele finalizou deixando uma mensagem para todos os atuais alunos da Fundarte, sugerindo que aproveitem todas as oportunidades e espaços de aprendizado que essa escola pode proporcionar.

A música vem desde a infância

Responsável por dar aulas para o Grupo Cordas, Conjunto Instrumental e o Grupo de Choro, Matheus Kleber, de 40 anos, também tem sua história com a Fundarte, e que ainda vem inteiramente desde quando era pequeno. Professor desde 2011, o primeiro contato de Matheus com a escola foi aos seis anos, tendo aulas de acordeon, com professor Luciano Rhoden, e também participando do coral-infantil da época.

Matheus também relata que, um pouco depois de ter iniciado seus estudos na escola, ele havia montado uma banda com mais três colegas, chamada Os Bombachas. “Eram crianças que tocavam nessa nossa banda. Desses quatro integrantes que éramos, dois seguiram na música, além de mim. O Guilherme Haupenthal, hoje baterista dos Os Atuais, e o Cristiano Lima, hoje baixista da banda Brilha Som. Então, esse foi o início meu na música.”

Matheus relata que desde cedo queria começar a tocar, já sabendo ler as músicas junto com alfabeto. Terminou o curso básico da Fundarte junto com o ensino fundamental, e junto com o Ensino Médio, já cursava Técnico em Música. “Quando eu vi, eu já tava atuando na música. Com 13, 14 anos eu tocava num grupo de acordeon junto com meu professor na época, Adriano Pesch. Aí depois comecei a tocar nos bailes, nas invernadas. Ao natural foi sendo minha profissão. Até que chegou o momento de fazer vestibular, e não tinha como, pra mim, ser diferente de fazer aquilo que sempre pratiquei.”, conta o professor.

Segundo ele, essa transição de aluno para professor demorou um pouco para acontecer. Ele também ingressou na UFRGS, assim como Heine, ficando um tempo afastado da instituição em um processo de quase 10 anos. Depois, voltou. Já formado, em 2011, fez concurso e foi aprovado como mais novo professor da Fundarte. “A Fundarte teve impacto muito na minha formação como músico, mas ainda mais como artista. Nessa escola, eu pude conviver com o pessoal da dança, das artes dramáticas, plásticas, fazendo algumas atividades em conjunto. Essa convivência entre áreas foi fundamental pra minha formação artística e também minha formação como pessoa. Desde cedo eu aprendi a respeitar esses tipos de diferenças.”, explicou.

Para ele, a Fundarte é sua segunda casa. Matheus diz que é até difícil apontar os ensinamentos que carrega quando ainda era jovem, de tantos que são. “A parte técnica, a questão da leitura musical são coisas que fui estimulado desde cedo, que me trouxe muitos atalhos pra hoje como professor. Essas são as mais importantes, mas ainda tem muitas coisas que carrego. Tenho uma dívida eterna de muito amor e gratidão com a Fundarte.”, completou.

Matheus Kleber (à direita, com a gaita), atual professor, formou uma banda com seus antigos amigos na época de aluno

O talento local que cruzou fronteiras

Da Fundarte até os Estados Unidos. Essa é uma frase que pode resumir a história de Tomás Zibetti Haushahn, de 26 anos. Ele começou seus estudos na escola em 2012 por meio de um sorteio de bolsas, estudando de forma gratuita, algo que ele julga decisivo para sua carreira profissional. Iniciou com guitarra elétrica, mas depois de alguns anos percebeu um interesse no clássico violão. Ali, ele decidiu mudar seu foco, e segue com o instrumento até hoje. “No início a escola representou oportunidade e profissionalismo.

Tive a chance de interagir com muitos colegas que tinham o mesmo interesse que eu, conhecer professores, fazer amizades, etc. Além da oportunidade de atuar musicalmente, por meio de recitais, saraus e apresentações fora da Fundarte.”, comentou Tomás.

Segundo ele, tudo o que aprendeu na Fundarte continua sendo de extrema utilidade nas suas experiências musicais. “A Fundarte me proporcionou experiências em música de câmara, aulas de teoria excelentes, oportunidades para apresentações solo, conversas com professores, e muitos outros aspectos que hoje contribuem para quem sou como pessoa e como profissional. Todo esse conhecimento e experiências me deram ferramentas para seguir meus estudos na música fora do país.”, explicou.

Atualmente, Tomás oferece aulas de violão presenciais, para a região, e online para todo o Brasil. foto: Divulgação

E por falar em fora do país, Tomás, após se formar, seguiu para a UFRGS. Lá, ele viu que havia a oportunidade de estudar música no exterior. “Meu orientador, Daniel Wolff, me incentivou a aplicar para universidades nos EUA e acabei sendo aprovado para o mestrado na Radford University. Me foi oferecido uma bolsa de estudos com tudo pago e uma posição como professor assistente. Não hesitei em aceitar essa oportunidade e viver aquilo que era meu sonho.”, conta. “Foi uma jornada de amadurecimento profissional e pessoal. Fundarte me deu instrumentos para que eu pudesse ingressar no ensino superior em música, que me levou a querer continuar meus estudos no mestrado. Os exemplos de profissionais que tive na instituição também foram essenciais para entender que caminho eu poderia trilhar e que profissional gostaria de ser.”, disse Tomás.

Hoje, ele dá aulas de violão presenciais e online. Ele agradeceu aos professores que ministraram suas aulas, e apontou o que ainda leva dos tempos de aluno da Fundarte, no período de 2012 a 2019. “Minha maneira de educar se espelha muito em profissionais incríveis que tive a oportunidade de conhecer no meu período na instituição. O entendimento de cada estudante como um indivíduo com suas próprias experiências e pensamentos, a maneira de tratar dificuldades particulares de cada um e a criação de um ambiente seguro que o estudante se sinta confortável, estão entre os principais aspectos que busco hoje na minha maneira de ensinar. No meu fazer musical a Fundarte se faz presente por ter sido o primeiro local que estudei música formalmente, construindo uma forte base para que eu pudesse me desenvolver como músico e artista. O que a Fundarte tem de especial é a dimensão humana que existe dentro da instituição.

É uma comunidade extremamente acolhedora e generosa.”, finalizou. Agora de volta ao Brasil, Tomás ministrará um recital na Fundarte no dia 4 de julho, sexta-feira.

Fundarte oferece ensino e pesquisa nas quatro áreas da expressão artística: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro

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