Transtorno bipolar ou transtorno afetivo bipolar é uma condição de saúde mental que causa mudanças extremas de humor. Conhecido anteriormente como psicose maníaco-depressiva, ela se caracteriza pela alternância de períodos em que a pessoa fica mais exaltada (mania), de episódios de depressão (hipomania) e de normalidade. Essas mudanças de humor podem afetar o sono, a energia, a rotina, o julgamento, o comportamento e a capacidade de pensar com clareza. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno afetivo bipolar atinge atualmente cerca de 140 milhões de pessoas no mundo e é considerada uma das principais causas de incapacidade.
O transtorno é dividido por tipos. O tipo 1, chamado de bipolar clássico, é aquele onde predomina a mania ou hipomania em relação à depressão. A idade de início é, em média, 18 anos, mas pode se iniciar em fases mais tardias da vida. O tipo 2, ao contrário do tipo 1, tem o predomínio da depressão em relação à hipomania. É comum a impulsividade, refletida em tentativas de suicídio e uso de substâncias que alteram a consciência. Se inicia em torno de 25 anos. Geralmente, começa por depressão, transtornos alimentares, transtorno de ansiedade e uso de substâncias. Não ocorrem sintomas psicóticos, que são causados pela mania. O transtorno ciclotímico é quando um paciente altera entre períodos de hipomania e depressivos, mas, não tem sintomas suficientes para caracterizar um diagnóstico. Não são alterações graves.
Também existe o transtorno bipolar induzido por substância ou medicamento, que acontece após intoxicação ou abstinência de alguma substância ou exposição a algum medicamento que pode produzir os mesmos sintomas. É preciso haver uma lógica entre causa e consequência, por exemplo quando um paciente utiliza um analgésico e tem um episódio de mania, não há relação entre as duas coisas. Diferentemente de um episódio de mania em quem usou corticoides e anfetaminas, pois os dois eventos podem estar associados. E ainda o transtorno bipolar devido a outra condição médica. Este é um período persistente de humor deprimido que é consequência de uma outra condição, por exemplo a doença de Cushing, esclerose múltipla, AVC e lesões cerebrais traumáticas.
Os episódios depressivos, como o nome já diz, são caracterizados pela presença de sentimentos como a tristeza, a desesperança, a agonia e muitos outros que têm em comum a baixa vitalidade do indivíduo. Aqui, por vezes, o paciente também pode ter ideações suicidas, ou seja, o desejo de terminar a própria vida. Já os episódios maníacos, por sua vez, são aqueles em que o paciente tem picos de energia e alto astral. Nesses períodos, em muitos casos, estão presentes comportamentos de risco, como o engajamento em sexo sem proteção, compras desenfreadas e tomada de atitudes precipitadas.
Sintomas da fase de euforia
– sensação de extremo bem-estar;
– aceleração do pensamento e da fala;
– agitação e hiperatividade;
– diminuição da necessidade de sono;
– aumento da energia;
– diminuição da concentração;
– euforia ou irritabilidade;
– desinibição;
– impulsividade;
– ideias de grandiosidade e sensação de “poder”;
– sexualidade exacerbada, sem censura.
Sintomas da fase de depressão
– alterações de apetite com perda ou ganho de peso;
– humor deprimido na maior parte dos dias;
– fadiga ou perda de energia;
– apatia, perda de interesse ou prazer;
– pensamentos recorrentes de morte ou suicídio;
– agitação ou retardo psicomotor;
– sentimentos de culpa ou inutilidade;
– desânimo e cansaço mental;
– tendência ao isolamento tanto social como familiar;
– ansiedade e irritabilidade.
Fatores de risco
Os fatores podem variar de pessoa para pessoa, mas algumas mudanças significativas ou situações estressantes podem ser um gatilho. Dentre eles, alguma perda, como doença ou morte de uma pessoa importante da vida da pessoa ou até mesmo separação, desemprego e dificuldades financeiras. Ganhos também podem ser gatilhos, como casamento, reconciliação, gravidez, nascimento e melhora de padrão financeiro. A parada ou diminuição de alguma medicação também é fator de risco, assim como privação de sono, alteração de fuso horário e uso de álcool de drogas.
Fatores ambientais e fatores genéticos também podem aumentar o risco de desenvolver o transtorno bipolar. Quanto aos ambientais, vale lembrar que o transtorno bipolar é mais frequente em países com pessoas com renda mais alta do que em países de mais baixa renda. Já quanto aos genéticos e fisiológicos, assinala-se que o histórico familiar de pessoas com transtorno bipolar é um dos fatores que mais influencia para o desenvolvimento da bipolaridade. Estima-se que o risco da doença acometer pessoas com algum histórico de bipolaridade na família é 10 vezes maior.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do transtorno bipolar é clinico, baseado no levantamento da história e no relato dos sintomas pelo próprio paciente ou por um amigo ou familiar. Em geral, ele leva mais de dez anos para ser concluído, porque os sinais podem ser confundidos com os de doenças como esquizofrenia, depressão maior, síndrome do pânico, distúrbios da ansiedade. Daí a importância de estabelecer o diagnóstico diferencial antes de propor qualquer medida terapêutica.

O transtorno afetivo bipolar é uma condição que ainda não tem cura. Entretanto, o tratamento pode controlar os sintomas e incluir o uso de psicoterapia, medicamentos e mudanças no estilo de vida. As medicações devem ser escolhidas individualmente, podendo ser utilizado desde estabilizadores de humor, antidepressivos (com atenção) e até anticonvulsionantes. É contraindicado o consumo de substâncias psicoativas como café, álcool e outras drogas.
Recomendações
Portadores de transtorno bipolar e seus familiares precisam estar cientes de que:
Seguir o tratamento à risca é a melhor forma de prevenir a instabilidade emocional e a recorrência das crises, o que assegura a possibilidade de levar vida praticamente normal;
Os remédios podem não fazer o efeito desejado logo nas primeiras doses que, muitas vezes, precisam ser ajustadas ao longo do tratamento;
Crises depressivas prolongadas sem tratamento adequado podem aumentar em 15% o risco de suicídio nos pacientes bipolares;
O paciente pode procurar alívio para os sintomas no álcool e em outras drogas, solução que só ajuda a agravar o quadro;
Alternar a fase de depressão com a de mania pode dar a falsa sensação de que a pessoa está curada e não precisa mais de tratamento;
A família pode precisar também de acompanhamento psicoterápico, por duas diferentes razões: porque o distúrbio pode afetar todos que convivem diretamente com o paciente e porque precisa ser orientada sobre como lidar no dia a dia com os portadores do transtorno.