Ficar sem comer carne e negar o consumo de qualquer alimento de origem animal parece uma missão impossível, mas para os adeptos do veganismo essa é uma filosofia de vida. Usado pela primeira vez na década de 40, o termo “vegan” surgiu a partir de uma crítica atribuída ao fato de os vegetarianos consumirem derivados de origem animal.
Com o passar do tempo, o veganismo se tornou um movimento mundial que tem como um dos pilares o respeito aos direitos dos animais. Por razões éticas, ser vegano é ser contra a exploração dos animais nos mais variados aspectos: alimentícios (leites e seus derivados, ovos, mel, própolis…), vestimentas (couro, lã, seda, peles, caxemira…), entretenimento (rodeios, circos com animais, zoológicos..), empresas que realizam testes em animais e/ou que estejam envolvidas com patrocínios, entre outras questões.
Apesar do forte apelo à ética animal, os motivos que levam as pessoas ao veganismo são diversos, como saúde, aspectos espirituais, religiosos e, principalmente, questões que envolvem o meio ambiente. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, foram abatidas 30,83 milhões de cabeças de bovinos, representando aumento de 3,8% (+1,13 milhão de cabeças) em relação a 2016. Cada um deles precisa de uma determinada quantidade de terra, água, alimento e energia, além de produzir alta quantidade de dejetos e emitir, direta e indiretamente, poluentes que são dispersados pelo solo, ar e água.
Por influência de amigos próximos, o empresário Lau Graef D. Camargo, 25, conta que passou a se interessar pelo veganismo e se jogou de cabeça nessa nova forma de viver. “Comecei a alimentação vegana quando fui morar em uma casa ocupada em Porto Alegre, onde todos os moradores eram veganos, o que fazia todo o sentido naquele contexto”, disse Camargo, que ainda está em processo de transição entre o vegetarianismo e veganismo.
“Eu demorei a entender o sentido disso tudo até perceber que, por trás do veganismo, existe toda uma perspectiva anticapitalista focada nos meios de produções orgânicas e nos microempreendedores. Além disso, foi a partir dessa ideia que passei a gostar de fazer a comida e me envolver com a produção dos alimentos, saber de onde vem e para onde vai, entre outras coisas”, relata ele.
A nutricionista Natascha Martins, especialista em alimentação vegetariana e vegana, explica que o veganismo não traz qualquer tipo de prejuízo à saúde, já que todos os nutrientes que o organismo precisa, em qualquer fase da vida, são encontrados no reino vegetal. A única exceção é a vitamina B12, que não pode ser suprida na alimentação vegana, além da dificuldade de encontrar o ferro e colesterol. “Muita gente não dá bola por acreditar que este é vilão [colesterol], mas desconhece nossa necessidade quanto a esta substância”, disse a nutricionista.
Para ter um organismo saudável, não basta consumir produtos veganos, é preciso seguir uma alimentação equilibrada e fugir da cultura da má alimentação. Para tanto, montar uma dieta variada e de qualidade é fundamental. “Conhecer temperos é uma baita dica e também ampliar o leque de alimentos do seu dia a dia”, disse Natascha.
Em terra de onívoros, ser vegano é um desafio
O impacto social é a principal dificuldade enfrentada pelos adeptos do veganismo. Mesmo com a diversidade de produtos e alimentos que suprem a alimentação de uma pessoa que exclui produtos de origem animal, ser vegano é um desafio diário. “Enquanto estava morando em Porto Alegre conseguia manter uma dieta totalmente vegana, mas quando voltei para Montenegro ficou muito difícil. Acho que a maior dificuldade do veganismo é conseguir comer barato pela rua, não existe lugares que ofereçam opções desse tipo”, destaca Graef.
Para a nutricionista Natascha Martins, a memória alimentar é outro grande obstáculo para os adeptos do veganismo. Dessa forma, “é um equívoco querer comparar o sabor de um brigadeiro convencional com um vegano, pois são feitos de ingredientes diferentes então é natural terem sabores particulares”, disse a nutricionista, que ainda ressalta a importância de um acompanhamento profissional.
Apesar de ser uma decisão difícil, o empresário conta que ser vegano lhe possibilita enxergar o mundo de uma forma diferente. “Cozinhar diz muito sobre o nossa sociedade, a vida, as relações de poder, de trabalho, de cuidado com o outro, enfim, todas as perspectivas do mercado e do dinheiro que envolve nossa alimentação e os interesses por trás disso”, revela Camargo. “Isso só foi possível através do veganismo.”
Cresce o interesse por produtos veganos no Brasil
Aos poucos, a filosofia do veganismo se espalha e ganha cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo. De acordo com a pesquisa do IBOPE Inteligência, cresce rápido o interesse por produtos veganos (ou seja, livres de qualquer ingrediente de origem animal) na população em geral: mais da metade dos entrevistados (55%) declararam que consumiria mais produtos veganos se estivessem melhor indicados na embalagem ou se tivessem o mesmo preço que os produtos que estão acostumados a consumir (60%). Nas capitais, esta porcentagem sobe para 65%.
O salto surpreendente no número de pessoas que exclui alimentos de origem animal de seu cardápio reflete tendências mundiais consolidadas de busca por uma alimentação mais saudável, sustentável e ética. Paralelo aos dados, o reconhecimento dos benefícios por esse tipo de alimentação para a saúde é cada vez maior, com grandes organizações – como a Organização Mundial de Saúde – se pronunciando sobre os riscos do consumo elevado de carnes.
Conforme a pesquisa, o crescimento no número de pessoas que opta por excluir as carnes e derivados do cardápio, ou reduzir seu consumo, é impulsionado pela preocupação crescente da população com os impactos de seus hábitos de consumo. Dentre estas, estão as preocupações com o impacto ambiental negativo da pecuária e a indignação com as condições de vida impostas aos animais usados nos processos de produção. Em 2017, o Datafolha já havia mostrado que 63% dos brasileiros gostaria reduzir o consumo de carne.
Foco da alimentação deve ser a saúde
Entre as vantagens da dieta vegana, está a redução dos hormônios da carne e nos danos ao sistema cardiovascular, melhora da digestão e absorção intestinal. “São inúmeros benefícios e principalmente sensações de bem-estar, mas isso também varia conforme as escolhas de cada um. Uma dieta vegana isoladamente não garante saúde, uma dieta vegana equilibrada sim”, frisa a nutricionista Natascha Martins.
Confira alguns dos principais benefícios do veganismo
– Auxilia na prevenção de doenças crônicas;
– Reduz o rico de doenças cardíacas;
– Previne a obesidade e mantém a forma;
– Reduz o risco de alguns tipos de câncer;
– Ajuda na consciência sobre a alimentação;
– Preveni intoxicação alimentar;
– Aumenta a expectativa de vida;
– Melhora a imunidade.