Saúde mental materna: mães também precisam de cuidados

Muito se fala sobre a saúde dos bebês recém-nascidos, sempre visando seu bem-estar e pleno desenvolvimento nos primeiros dias de vida. Mas, você já parou para pensar que as mães acabam ficando “de lado” durante este período? Além de, na maioria das vezes, descuidarem de sua saúde física para dar total atenção aos filhos, acabam comprometendo sua saúde mental, tão importante para fortalecimento próprio, além do bebê e de toda a família.

Gustavo Steibel, obstetra do Hospital Moinhos de Vento. Foto: divulgação

Gustavo Steibel, obstetra do Hospital Moinhos de Vento, relembra que a saúde mental da mãe pode afetar diretamente o desenvolvimento psicológico e emocional das crianças. “Mães que sofrem de problemas como depressão pós-parto, ansiedade e estresse, podem ter dificuldade em se relacionar com seus filhos, o que pode levar a problemas de comportamento e desenvolvimento nas crianças”, afirma.

Vale lembrar que o cuidado com a saúde mental materna deve acontecer desde a gestação. Durante este período, existem alguns cuidados que podem ajudar no equilíbrio físico e emocional das gestantes. Para amenizar os sentimentos, as expectativas e o medo, se deve oferecer suporte emocional de forma acolhedora e humanizada. O acompanhamento profissional é recomendado, afinal, através das terapias, a mãe pode desmistificar a maternidade romantizada, desenvolver autonomia nas tomadas de decisões, aprender mais sobre si mesma e o que ela espera como mãe, e tem mais chances de enfrentar as expectativas não correspondidas de forma mais saudável.

Steibel destaca que além da busca por ajuda profissional e terapia com especialistas, a criação de uma rede de apoio é fundamental durante todo o processo. O termo rede de apoio se tornou bastante popular nos últimos tempos, mas não necessariamente diz respeito somente ao bebê recém-nascido, afinal, é preciso cuidar de quem cuida também. Esta rede é formada justamente pelos profissionais que lidam com a saúde materno-infantil, familiares e amigos próximos da paciente. A rede, normalmente, é formada pelo próprio casal.

Há diversas maneiras de a rede contribuir com a mãe, ainda mais após o nascimento do bebê. Ao visitar a nova mamãe, você pode levar ou cozinhar uma comida fresca; cuidar do bebê para que ela possa tomar banho sem pressa ou fazer outra coisa para si mesma sem interrupções, como tirar um bom sono; fazer companhia para a mãe, que pode estar se sentindo de lado mesmo na presença do bebê; incluí-la em convites e assuntos diferentes da maternidade e oferecer o apoio sempre que possível. Além disso, pode não parecer em alguns casos, mas gestos e palavras de carinho são primordiais para levantar o humor e autoestima de uma nova mãe.

foto: freepik

Fatores de risco
Há alguns fatores de risco para o desenvolvimento de problemas como ansiedade, depressão ou até mesmo depressão pós-parto em uma mãe. Dentre eles, estão o histórico pessoal ou familiar de transtornos mentais; eventos estressantes ao longo da vida, como a perda de um ente querido, divórcio, desemprego ou doença; alterações hormonais, como as que ocorrem durante a gravidez e o pós-parto; falta de suporte emocional ou social; problemas de relacionamento, como conflitos conjugais; condições médicas crônicas ou dor crônica; uso de substâncias, como álcool e drogas; experiências traumáticas, como abuso físico ou sexual ou estilo de vida pouco saudável, com falta de sono, má alimentação e sedentarismo.

Mas, também há fatores de risco que são psicossociais. Dentre eles está a descoberta de uma gravidez não planejada; complicações durante a gestação ou parte dela; nascimento prematuro de bebê; perda do bebê e falta de planejamento familiar. O obstetra Gustavo Steibel ressalta que os fatores de risco não causam, necessariamente, depressão ou ansiedade, mas podem aumentar a probabilidade de desenvolvê-las. “Além disso, nem todas as pessoas que possuem um ou mais fatores de risco desenvolvem problemas de saúde mental”, alerta o profissional.

Principais complicações
Depressão pós-parto
A depressão pós-parto acomete cerca de 15% das mulheres após o nascimento do bebê. Os sintomas são parecidos com um quadro de depressão comum, mas os sinais que precisam de mais atenção são: tristeza, cansaço extremo, sentimento de culpa intenso, além do sentimento de incapacidade de cuidar do filho, mesmo que seja uma atividade que ela já tenha feito anteriormente. Os riscos para a saúde e integridade da mãe e do bebê são os sinais mais preocupantes da depressão pós-parto, pois como a mãe se vê em estado de inconstância emocional pode colocar a sua vida e a do bebê em risco.

Ansiedade e tristeza materna
Normalmente, a ansiedade aparece como um sintoma da depressão, mas em casos isolados, as mulheres começam a apresentar insônia, humor depressivo e oscilação nas tomadas de decisão. Principalmente mulheres que sentem medo de retornar ao mercado de trabalho, tanto pela separação do bebê, quanto pelas empresas que muitas vezes não oferecem os suportes necessários ou as demitem logo após a licença.

Transtorno de estresse pós-traumático
Esse transtorno acomete mulheres que, mesmo antes do fim da gestação, enfrentaram situações traumáticas, como procedimentos invasivos, alguma complicação durante a gravidez, violência doméstica, algum tipo de acidente, e no pós-parto através de violência obstétrica, perdas perinatais, entre outros. Por isso que, além dos cuidados físicos, é necessário ficar atento à saúde mental das gestantes durante o pré-natal, que muitas vezes acaba sendo negligenciada por conta das mudanças hormonais.

Psicose puerperal
Uma a cada cinco mulheres pode desenvolver a psicose materna, que tem como principais características alucinações, transtornos do sono associado, oscilações de humor e até delírios. Sendo necessária uma avaliação mais aprofundada com acompanhamento psiquiátrico.

Problemas podem trazer sérias consequências
Estes problemas citados anteriormente podem trazer sérias consequências tanto para a mãe quanto para o bebê. Para a mãe, os principais pontos podem ser dificuldade de se conectar emocionalmente com o bebê; insônia; falta de apetite; baixa autoestima; isolamento social; sentimentos de culpa, tristeza e deseperança e até mesmo pensamentos suicidas. Segundo Steibel, estes sintomas podem afetar a capacidade da mãe de cuidar de si mesma e do bebê, aumentando o risco de negligência ou abuso infantil. “Além disso, a depressão pós-parto também pode interferir na capacidade da mãe de amamentar, o que pode afetar a saúde e o desenvolvimento do bebê”, salienta. Já para o bebê, estes problemas com a mãe podem resultar em atraso em seu desenvolvimento cognitivo e emocional; problemas de sono e de alimentação.

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