A série de entrevistas especiais em alusão ao Novembro Azul continua na Rádio Ibia Web. Desta vez, a entrevistada foi a psicóloga Gabriela de Azeredo Schneider, abordando que o lado emocional do homem também é importante, não apenas durante um câncer de próstata, como durante toda a vida.
O primeiro ponto debatido foi sobre o tabu a cerca do exame de toque retal e a ideia de que ele pode, de alguma maneira, afetar a masculinidade dos homens, mesmo sendo um exame que pode salvar vidas. Segundo Gabriela, este é um preconceito que nos acompanha a várias gerações. “Culturalmente a gente já tem as diferenças do que é coisa de homem e coisa de mulher e é por isso que, muitas vezes, é difícil conscientizar a população de que isso é uma criação cultural. Assim, a gente entende que cuidados com a saúde foi compreendido ao logo dos anos como uma coisa de mulher. Nos últimos anos os homens têm se mostrado mais adeptos a cuidados com a saúde”, destaca.
Ela ainda afirma que este exame traz a ideia de que o homens está prevenindo uma coisa que não pode acontecer com ele. “Então a busca por tratamento faria dele uma pessoa sem virilidade e com problemas de disfunção sexual. Isso acaba sendo visto como um preconceito muito grande”, explica.
Mas afinal, como preparar um homem para o exame de toque? A psicóloga explica que é preciso ter percepção de risco e percepção de saúde. “Os homens, desde a infância, já devem ser preparados pelas famílias e depois de adultos também, para poder entender que passar pelo exame do toque é também uma prevenção para que eles de fato consigam evitar uma doença grave e que leva à um alto índice de mortalidade”, enfatiza ela.
Mas é importante que esta preparação inicie muito antes do Novembro Azul. “Em casa se deve buscar uma socialização e uma desmistificação maior com os homens. A gente fala na psicologia que muitas vezes não fazemos as coisas por nós, mas pelos outros, então essa conscientização pode vir também de algo que você está fazendo pela sua família e pessoas que gostam de você”.
Conforme Gabriela, os jovens têm uma resistência na busca por tratamentos de saúde, da mesma maneira que o público adulto e idoso pode ter seus preconceitos levando em consideração a criação. “Observamos hoje em dia que um público predominantemente de jovens adultos tem um cuidado mais acentuado com a saúde do que o adulto e idoso. Isso está ligado com as noções e percepções de risco e de saúde que se tem hoje em dia”, confirma. Ela lembra que antes, se falava muito pouco do Novembro Azul, levando em conta que esta é uma campanha de 2011. “Consideramos que ainda é recente, então os jovens já têm um conhecimento muito maior”, aborda.
Pós diagnóstico: como cuidar do emocional?
A família tem um papel fundamental nos cuidados com a saúde da população em geral. É o que chamamos de rede de apoio, que pode ser a família em casa, amigos do trabalho, todo mundo que esteja mais próximo do paciente. “É a pessoa que pode acompanhar em uma consulta, que conversa em casa, pergunta o que a pessoa pensa e sente sobre o câncer e os exames de rotina. Isso para que a gente possa acessar quais são as crenças que este homem carrega”, afirma Gabriela.
Ela diz que o acompanhamento dos familiares nas consultas e até no dia da cirurgia se faz fundamental porque tudo é muito novo. “Então, o homem que está conhecendo o Novembro Azul e o diagnóstico, vai lidar com muita novidade. Assim, ter alguém próximo faz toda diferença para que o processo seja mais saudável e mais positivo para ele”.
As saúdes física, mental e emocional são uma coisa só. Segundo Gabriela, entende-se que uma pessoa que busca por saúde mental também lida com a prevenção de alguns sintomas emocionais importantes que acabam aparecendo como a própria ansiedade. “Muitas vezes os sintomas emocionais aparecem no nosso corpo e repercutem em nossa imunidade e na saúde de modo geral”, acrescenta.
Para a psicóloga, a psicoterapia é uma aliada na preparação do paciente para o tratamento e cirurgia e também para se ter o acompanhamento emocional. “A pessoa, quando manejada emocionalmente, evita crises de ansiedade, casos mais graves como entrar em um quadro depressivo”, pontua. Ela também reitera a importância deste espaço em que o homem consegue se sentir mais a vontade para falar de seus medos, angústias e até mesmo chorar, longe do julgamento de qualquer pessoa. “Tudo para que ele se sinta amparado e validado durante todo o processo”.
Homem x emoções
Devido às crenças e também a criação, as pessoas como um geral ainda têm a visão de que os homens não podem falar sobre seus sentimentos. Assim, a saúde física para o homem é muito mais importante do que a mental. A psicóloga Gabriela afirma que as clínicas psicológicas são ocupadas, predominantemente, por mulheres. “Percebemos que os homens têm se conscientizado mais de que as doenças emocionais são tão prejudiciais quanto as físicas, só que elas não são perceptíveis a olho nu”, destaca. Ela também acrescenta que a maioria dos homens chega aos consultórios por influência da família. A profissional aponta que facilita o tratamento do homem na terapia a partir do momento que ele vê outros homens tendo acompanhamento psicológico.
É difícil prever qual o momento mais complicado desde o diagnóstico até a cirurgia, variando muito de caso para caso. “Muitos homens podem, em um primeiro momento, entrar em estado de negação. Negar que aquilo é um problema é mais fácil, algo que faz com que ele siga a vida normalmente”, diz. Isso porque um diagnóstico como esse exige mudanças de hábitos e quando se nega o diagnóstico, se nega a realizar as mudanças necessárias. “Muitas vezes a gente vê que o impacto maior é inicial, onde se recebe a informação e a partir dali muitas mudanças precisam acontecer, com cuidados a curto e a longo prazo, mas que podem perdurar pela vida inteira.
Em outros casos, pode ser o contrário, quando o paciente chega com uma aceitação inicial mais abrangente e depois de realizar a cirurgia e todo o tratamento ter dificuldades em se adaptar à uma vida com restrições ou cuidados que antes talvez ele não precisaria ter.
Como identificar que há algum problema?
Há alguns sinais que a família ou amigos próximos podem notar e perceber que o homem está passando por alguma situação delicada. Isso porque ocorrem os prejuízos de vida. “Um jovem que ainda está na faculdade começa a ter queda nas notas, muita falta nas aulas; problemas de saúde mais recorrentes; dificuldade de dormir; oscilações em hábitos alimentares (passa a se alimentar muito menos ou muito mais do que o normal) e abandono de práticas prazerosas do dia a dia (deixa de encontrar amigos e praticar exercícios físicos, por exemplo)”, analisa. Estes são alguns dos sinais de que talvez a pessoa está passando por um sofrimento emocional mais intenso e que os mais próximos podem auxiliar para que não chegue em um diagnóstico como o de um transtorno depressivo maior.