Medicamentos para dormir: tenha cuidado!

João Arthur Ehlers, neurologista, neurofisiologista clínico e coordenador do Núcleo de Neurofisiologia do Hospital Moinhos de Vento. Foto: divulgação

A pandemia trouxe diversas consequências em vários setores da vida humana. Ao mesmo tempo que agora convivemos com novidades, a pandemia também afetou a saúde das pessoas, muito fortemente a mental. Uma pesquisa realizada pelo Instituto do Sono revela que só no Brasil, 70% da população teve dificuldade para dormir ao longo da pandemia. No pós, muitos continuaram com problemas durante o sono e precisaram recorrer ao uso de medicamentos. Levantamento da epharma aponta que a busca por produtos para dormir dobrou no último ano na plataforma da companhia: de 110 mil unidades em 2021 para 250 mil unidades em 2022.

Segundo o dr. João Arthur Ehlers, neurologista e neurofisiologista clínico, além de coordenador do Núcleo de Neurofisiologia do Hospital Moinhos de Vento, quando utilizados corretamente e com orientação médica adequada, os remédios podem ajudar a tratar insônia, por exemplo, e a melhorar o sono. Porém, seja consciente. Ehlers afirma que o abuso desses medicamentos ou a automedicação pode levar a diversos malefícios e efeitos colaterais, como dependência física e psicológica, sonolência diurna excessiva, tonturas, dificuldade de coordenação, que pode interferir no ato de dirigir automóvel, por exemplo, queda de pressão arterial e problemas gastrointestinais.

Além disso, lembre-se que possíveis interações com outros medicamentos ou substâncias tais como drogas lícitas e ilícitas podem trazer grandes prejuízos. As bebidas alcoólicas, por exemplo, podem diminuir ou potencializar os efeitos dos medicamentos. O mais comum é potencializar os efeitos colaterais. “Por isso, é essencial conversar com o médico e seguir as orientações de dosagem e duração do tratamento recomendadas para evitar complicações e garantir a eficácia do uso desses medicamentos”, alerta o neurologista.

É importante destacar que existem certos grupos de pessoas que podem precisar evitar tomar esses medicamentos, como mulheres grávidas ou que estão amamentando, idosos, pessoas com histórico de problemas hepáticos ou renais e aqueles que têm transtornos mentais ou emocionais. “Logo, se torna evidente e fundamental lembrar que consultar um médico com conhecimento nesses assuntos é primordial”, acrescenta Ehlers.

O neurologista enfatiza que não é possível apontar um único remédio para dormir que deve ser sempre evitado, pois isso pode variar de acordo com a condição médica e com o histórico de cada paciente. “No entanto, é importante destacar que todos esses medicamentos apresentam riscos e efeitos colaterais associados, incluindo a dependência e a tolerância, o que pode levar a um padrão vicioso de uso”, assinala.

Insônia
Os distúrbios do sono mais comuns são a insônia, a apnéia obstrutiva do sono e a síndrome das pernas inquietas. A insônia acontece quando não se cumpre as regras do bom sono. “É um distúrbio do sono caracterizado pela dificuldade em adormecer, permanecer dormindo ou ainda acordar várias vezes durante a noite. Outra situação é acordar de madrugada e não voltar a dormir”, explica o neurologista. Ele aponta que existem dois tipos de insônia: a aguda, que dura até quatro semanas e tudo se resolve, e a crônica, que ocorre pelo menos três vezes por semana durante três meses ou mais.
Por isso, algumas medidas devem ser adotadas para ajudar no tratamento das insônias tanto aguda quanto crônica. Ehlers afirma que um traço a ser assumido é a disciplina nos horários para dormir e acordar. “Devemos evitar o consumo de cafeína, álcool e tabaco após as 18h. Outra medida interessante é fazer a higiene do sono ou a chamada preparação para o ato de dormir. Atividades relaxantes, tomar banho quente ou morno, deixar o quarto na penumbra e fazer atividades que sejam confortáveis”, assinala.

Ainda, o quarto, ao dormir, deve estar completamente escuro, evitando inclusive a proximidade do celular. “É fundamental esclarecer que devemos manter o quarto completamente escuro, porque é neste ambiente que se segregam os hormônios fundamentais para essa condição. É também importante evitar a exposição a telas de computador, televisão e celulares desde uma hora antes de um bom sono. Televisão no quarto, jamais”, alerta. Praticar técnicas de relaxação como respiração profunda, meditação ou ioga também são ótimas dicas.

O médico lembra a necessidade de tratar problemas de saúde subjacentes que possam estar diretamente ligados à dificuldade do sono, tais como vias aéreas superiores pérvias e doenças do sono como apneia, ronco, bruxismo, síndrome dos membros inquietos ou pernas inquietas, entre outras. “Tudo deve ser previamente tratado para encontrarmos o sono reparador. Isto posto, podemos lembrar que essas medidas precisam vir acompanhadas da orientação de um médico”, destaca.

Apnéia Obstrutiva do Sono
A Apnéia Obstrutiva do Sono se caracteriza pela obstrução da via aérea no nível da garganta durante o sono, levando a uma parada da respiração, que dura em média 20 segundos. Após esta parada, a pessoa acorda, emitindo um ronco muito barulhento. A apnéia obstrutiva do sono pode ocorrer várias vezes durante a noite, havendo pessoas que apresentam uma a cada um ou dois minutos.

Em longo prazo, pacientes com apnéia obstrutiva do sono podem desenvolver doenças nas artérias, provocadas pelo acúmulo de colesterol nas suas paredes, além de provocar a ocorrência de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. Também pode se desenvolver a síndrome metabólica, que é a ocorrência de distúrbios da gordura e do açúcar do sangue, hipertensão arterial e aumento da circunferência abdominal. Quem apresenta esta síndrome tem maior tendência a ter infarto do miocárdio e derrame cerebral.

Atualmente, o principal tratamento para a apneia obstrutiva do sono é o uso do CPAP, equipamento externo que ajusta a pressão do oxigênio que entra pela via área do indivíduo. Além dele há a opção da cirurgia para ampliar a passagem do ar.

Dicas para dormir melhor
•Respeite o horário de ir dormir;
•Desligue a TV e outros aparelhos;
•Leia antes de dormir;
•Cochile depois do almoço;
•Pratique exercícios regularmente;
•Evite tomar café horas antes de dormir;
•Tome um chá antes de dormir;
•Utilize um óleo relaxante;
•Mantenha o silêncio e conforto;
•Coma alimentos leves no jantar;
•Procure a melhor posição quando se deitar.

Síndrome das pernas inquietas
Síndrome das pernas inquietas, ou síndrome de Ekbom, é um distúrbio que se caracteriza por alterações da sensibilidade e agitação motora involuntária dos membros inferiores, mas que pode acometer também os braços nos casos mais graves. Em geral, os sintomas são mais intensos à noite e o paciente dorme mal ou quase não dorme. Como consequência, passa o dia sonolento, cansado, indisposto e irritado.

O fato de a síndrome se manifestar predominantemente nos momentos de repouso compromete a qualidade de vida. Isso porque a pessoa não consegue ir ao cinema ou ao teatro, ver televisão, participar de uma reunião social ou de negócios, ou fazer viagens mais longas.

A causa da síndrome das pernas inquietas não é bem conhecida. Sabe-se que, além da predisposição genética, a deficiência de dopamina e de ferro em áreas motoras do cérebro está associada à ocorrência de movimentos involuntários e repetitivos característicos da síndrome. Nos casos mais leves, se recomenda o uso de benzodiazepínicos. Nos mais graves, se pode recorrer a medicamentos, como o pramipexole e o ropinele, que estimulam os receptores de dopamina no cérebro sem aumentar seu nível no sangue periférico.

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