O estresse, um dos grandes males da sociedade moderna, é uma reação natural do organismo que ocorre quando vivenciamos situações de perigo ou ameaça. Esse mecanismo nos coloca em estado de alerta ou alarme, provocando alterações físicas e emocionais. A reação ao estresse é uma atitude biológica necessária para a adaptação às situações novas. Para compreender melhor seus efeitos e estratégias de manejo, Lorena Caleffi, médica psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento, concedeu uma entrevista exclusiva ao Ibiá, fornecendo observações e informações sobre como o estresse afeta a saúde e o que ele pode causar.
“Esse mecanismo envolve o eixo hipófise-hipotálamo-adrenal, resultando na liberação de neurotransmissores como a adrenalina e hormônios como o cortisol”, explica Lorena. Esses componentes são essenciais para a resposta de “fight or flight“ (lutar ou fugir), preparando o corpo para reagir rapidamente ao perigo. Contudo, quando essa resposta é acionada com frequência ou sem necessidade, pode ter efeitos adversos significativos. Com isso, tempos o estresse agudo, que é mais intenso, porém, mais curto, sendo causado normalmente por situações traumáticas, mas passageiras, como a depressão na morte de um parente. Já o crônico afeta a maioria das pessoas, sendo constante no dia a dia, mas de uma forma mais suave.
Segundo Lorena, vivemos em uma era de estímulos constantes e demandas contínuas, que exacerbam a resposta ao estresse. “O estresse diário é natural e necessário para a sobrevivência. Ele nos ajuda a reconhecer e reagir a ameaças. No entanto, quando a percepção de ameaça é distorcida, levando a reações intensas a situações de baixo risco, podemos desenvolver transtornos de ansiedade e pânico”, observa.
Além dos fatores psicológicos, como pressão no trabalho, problemas financeiros e relacionamentos, fatores ambientais também desempenham um papel crucial. Ruídos excessivos, poluição e até mesmo a exposição constante a telas digitais contribuem para o aumento dos níveis de estresse.
A evolução do estresse é um processo complexo que pode ser dividido em três fases distintas: fase de alerta, fase de resistência e fase de exaustão. Cada uma dessas fases apresenta sintomas específicos e reflete a resposta do corpo a situações de estresse.
Fase de alerta
Na fase de alerta, o indivíduo reage imediatamente ao agente estressor. Essa fase é caracterizada pela ativação do sistema nervoso simpático e pela liberação de hormônios como a adrenalina, que preparam o corpo para uma resposta de “luta ou fuga”. Os sintomas comuns incluem mãos/pés frios; boca seca; dor no estômago; suor excessivo; tensão e dor muscular, especialmente nos ombros; aperto na mandíbula ou ranger dos dentes; diarréia passageira; insônia; batimentos cardíacos acelerados; respiração ofegante; aumento súbito e passageiro da pressão sanguínea e agitação.
Fase de resistência
Se o estresse persiste, o corpo entra na fase de resistência. Durante essa fase, o organismo tenta se adaptar à situação estressante ou eliminar o problema. O corpo continua a lutar para manter o equilíbrio, mas essa luta pode levar a sintomas mais sutis e crônicos como problemas de memória; mal estar generalizado; formigamento nas mãos e pés; sensação constante de desgaste físico; mudanças no apetite; problemas de pele; hipertensão arterial; gastrite prolongada; tontura; sensibilidade emotiva excessiva; irritabilidade excessiva e diminuição do desejo sexual.
Fase de exaustão
Se o estresse é prolongado e o organismo não consegue mais se adaptar, a fase de exaustão se instala. Nessa fase, o corpo começa a sofrer de forma mais severa, com o aparecimento de doenças físicas e emocionais. Os sintomas incluem diarréias frequentes; dificuldades sexuais; formigamento persistente nas mãos e pés; insônia crônica; tiques nervosos; hipertensão arterial confirmada; mudanças extremas de apetite; batimentos cardíacos acelerados; tontura frequente; úlceras; dificuldade para trabalhar; pesadelos; apatia; irritabilidade; angústia hipersensibilidade emotiva e perda do senso de humor.
Diagnóstico e tratamento
Segundo a psiquiatra, o diagnóstico de transtornos relacionados ao estresse é baseado na avaliação de como o indivíduo percebe e reage às situações cotidianas. “Quando uma pessoa interpreta situações de baixo risco como extremamente ameaçadoras, é um sinal de que a resposta ao estresse pode estar desregulada,” explica. O tratamento, conforme destaca, é mais eficaz quando combina terapias farmacológicas com psicoterapia, ajudando a pessoa a desenvolver estratégias para gerenciar suas respostas ao estresse.
A partir do momento que o estresse dificulta o dia a dia de uma pessoa, é necessário se consultar profissionais da saúde para que os sintomas desapareçam. O tratamento pode incluir uma mudança nos hábitos alimentares para ter uma alimentação mais adequada, exercícios físicos e massagem terapêutica.
Técnicas de manejo e prevenção
Gerenciar o estresse é essencial para manter uma boa saúde física e mental. Lorena sugere várias estratégias: “Praticar exercícios regularmente, ter um hobby e manter uma alimentação saudável são fundamentais.” Ela também recomenda técnicas de meditação e mindfulness, que têm sido comprovadas para reduzir os níveis de cortisol e melhorar a capacidade do corpo de lidar com o estresse. Além disso, é crucial desenvolver habilidades de enfrentamento eficazes. Isso inclui técnicas de relaxamento, como respiração profunda, yoga e até mesmo caminhadas na natureza. “Cada indivíduo deve encontrar a técnica que melhor se adapta a ele,” aconselha.
Para prevenir o estresse, é importante começar pela identificação dos fatores que o causam, que podem ser tanto externos, como problemas no trabalho e relacionamentos, quanto internos, como expectativas pessoais e autocrítica excessiva. Uma vez identificados, é possível adotar estratégias de enfrentamento mais saudáveis. Além disso, é crucial manter uma rede de apoio social, como amigos e familiares, com quem se possa compartilhar preocupações e sentimentos, já que o apoio emocional é uma ferramenta poderosa para lidar com situações estressantes. A organização do tempo e das tarefas diárias também é uma estratégia útil, pois ajuda a evitar a sobrecarga e o acúmulo de responsabilidades.
Impactos na saúde física
O estresse crônico tem sido associado a uma série de condições de saúde adversas. Uma das mais preocupantes é o impacto sobre o sistema imunológico. “O estresse prolongado pode levar a uma reação inflamatória oxidativa, que compromete a capacidade do corpo de combater infecções e doenças”, acrescenta Lorena. Estudos mostram que o cortisol, o hormônio do estresse, quando elevado por longos períodos, pode suprimir o sistema imunológico, tornando o corpo mais suscetível a doenças como resfriados, gripes e até doenças autoimunes.
Saúde mental
Além dos impactos físicos, o estresse também afeta significativamente a saúde mental. “O estresse crônico pode exacerbar ou desencadear condições como ansiedade e depressão,” diz. Pessoas que sofrem de estresse contínuo frequentemente relatam sintomas de ansiedade generalizada, que incluem preocupação excessiva, irritabilidade e dificuldades de concentração. Em casos graves, o estresse pode levar ao desenvolvimento de distúrbios do pânico e transtornos depressivos, que requerem intervenção médica e psicológica.
Estresse X doenças cardiovasculares
Existe uma ligação comprovada entre estresse e doenças cardiovasculares. “O estresse pode causar hipertensão ao provocar a constrição dos vasos sanguíneos,” explica a psiquiatra Lorena. Esta resposta é parte da preparação do corpo para uma “luta pela sobrevivência”, mas quando cronicamente ativada, pode levar a problemas sérios, incluindo ataques cardíacos e derrames. Pesquisas indicam que o estresse aumenta o risco de doenças cardíacas, particularmente em pessoas com predisposição genética para essas condições.
De acordo com uma pesquisa feita na Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, o estresse pode levar a um infarto. A pesquisa mostrou que situações estressantes provocam uma produção excessiva de glóbulos brancos no organismo e essas células fazem parte do sistema imunológico que, em excesso, podem se acumular nas paredes das artérias, reduzindo o fluxo sanguíneo e favorecendo a formação de coágulos – elevando, assim, o risco de doenças cardiovasculares.