Não, não, não! A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte, como ensinam os Titãs em sua música. O pão, temos lutado por ele diuturnamente. E não tem sido fácil para nós, trabalhadores, que não temos acesso à propina. Ainda assim, arranjamos tempo para circo, para arte. E nesse momento, em que a temporada de “cassa” está aberta – todo mundo querendo cassar o mandato de todo mundo – alguém tem que fazer o circo sério, aquele que nos ensina, nos alegra e nos descansa a alma.
A expressão “pão e circo” parece pejorativa, mas não é. A alegria é um direito humano. Uma busca incessante e justa de todos nós. E alegria, aquela bonita, bem feita, emociona. Não queremos nos emocionar com sangue, com gente morta, com tragédias. Não que elas não existam e não que queiramos nos alienar ou nos esconder delas. Mas acho que alguém tem que fazer a parte edificante, que levanta as pessoas dos escombros. Essa parte é a nossa. A do circo.
Esta semana, sobrou arte na cidade onde fomos mambembes, cantores, declamadores e ouvintes da arte, da satisfação, da alegria, do entretenimento a serviço da melhor humanidade. Armamos nosso circo de belezas e mandamos ver.
Na segunda-feira, tivemos o Canto Geral, um encontro de músicos em prol do município de Maratá. Uma coletânea de diversidades musicais como poucas vezes vista. A música como pilar da solidariedade. As pessoas reunindo seus esforços, seus talentos para buscar diminuir o sofrimento de outros. Aliás, o poder de aglutinação do Leandro Gonçalves, que organizou o evento, é de se tirar o chapéu! E que coisas bonitas que ouvimos! Essa musicalidade da sociedade montenegrina é algo que encanta muito.
E na quarta-feira, o SESC trouxe ao Clube do Comércio dois escritores para um bate-papo. Pão quentinho para quem queria ouvir pessoas inteligentes e que vieram acrescentar mais humanidade à nossa. O escritor pernambucano Sidney Rocha parece ter a literatura do mundo na ponta da língua. E os arcos que fez juntando-as, ao mesmo tempo em que referencia a literatura com outras questões humanas como estética, psicologia e História, fizeram de uma palestra um edifício estruturado, no qual fizemos a morada agradável de aprender. Aí, Mateus Araújo, foi de emocionar!
E para fechar a beleza dessa épica semana cultural, informo a todos que nosso poeta Carlos Leser vai fazer, em outubro, um trabalho com seu livro “Parque Di Versos” na cidade de Torres, na Escola Marcílio Dias. Sempre é muito significativo quando um escritor montenegrino rompe as barreiras geográficas de sua cidade e avança sobre o mundo empunhando sua poesia. Seu pão! Nosso pão!
Bueno, falei, pois, das coisas sérias, edificantes, solidárias.
Poderia agora, no finalzinho da crônica, falar dos circos negativos, da tentativa do governo Temer de fazer uma reforma trabalhista para nos dificultar o acesso ao pão. Mas esse rebaixamento da política – esse avanço filosófico que veio para buscar a melhoria das nossas vidas – não pode estar num mesmo texto onde a vida foi exaltada e valorizada.
Que a baixa política e seu circo nefasto de delações e traições e desvios de dinheiro público fiquem, hoje, nas páginas policiais!
Hoje, pelo menos, fiquemos com quem engrandece nossas almas e nossos corações.
Pão e circo
