Os símbolos de uma era

Napoleão, o pequeno carniceiro francês, poupou da destruição a cidade de Göttingen, na Alemanha, porque Carl Friedrich Gauss, “o principal matemático de todos os tempos, morava lá”. Gauss foi o menino que, com sete anos, bolou a fórmula das progressões aritméticas, entre outros prodígios. A atitude do imperador marca um símbolo, um símbolo de respeito à cultura.

Alexandre, o Grande, quando venceu Dario, o rei persa, não conheceu nem tocou na mulher ou nas filhas do vencido, o que não era comum na época. Não porque não pudesse. Mas por que não quis!

Conforme Plutarco, Alexandre pensava que “vingar-se de uma forma útil de um inimigo é afligi-lo com nosso aperfeiçoamento moral.” A atitude do conquistador grego, um símbolo de respeito ao perdedor.

Dois símbolos separados por dois mil anos, mas que ressoam até hoje como modernos. Apesar disso, nossos piores instintos os esquecem. E as feridas que a civilização tenta fechar há séculos, a toda hora, reabrem e sangram nossa dignidade.

Toda justiça, todo respeito que as gerações anteriores conseguiram construir, apesar da convivência constante com o pior do humano, estão se desfazendo no líquido da modernidade. As lágrimas e o sangue que afogaram a barbárie das sociedades passadas não foram suficientes para calar a ignorância dos novos líderes, que surgem como moscas a infestar o que há de mais fétido na sociedade. E como têm seguidores. As redes sociais têm nos mostrado que somos ainda um pequeno mundo ávido por cair nas mãos de loucos e prepotentes. Em breve, estaremos nas mãos deles.

Novos carniceiros, novos carrascos nascem todos os dias. Nenhum, claro, da estirpe de Napoleão. Muito menos a de Alexandre. Portanto, ninguém será poupado. Nem matemáticos, nem mulheres, nem crianças ou velhos, nem os doentes, nem professores, nem artistas. Ninguém que represente simbolicamente um futuro, posto que só o imediato encontra eco no presente.

Já estamos à disposição de todo tipo de bandido. Dos grandes, em Brasília, aos pequenos, nos bairros. Sem contar os intermediários, que frequentam nossa “vibe”. A banalização da morte e do sofrimento nos recua à época medieval, onde mandavam a ignorância, o medo e o misticismo.

Hoje não restam nem pequenos Napoleões, nem grandes Alexandres. Sequer a democracia restará. De tão frágil e prostituída, está deixando de ser construída tijolo por tijolo num desenho mágico.

Por fim, nosso maior líder moderno, Lula, também teve seu momento simbólico. Foi quando rifou o Ministério das Cidades, cujo ministro era Olívio Dutra, e o entregou ao PP. Enquanto os dois generais assassinos tiveram espasmos humanistas em suas trajetórias sanguinárias, o PT, através de seu símbolo, entregou seu governo à perfídia. O PT devolveu o país à barbárie naquele dia, naquele decreto. Foi quando fomos mais infelizes, pois é nas cidades que vivem as pessoas que precisam ser cuidadas. As cidades e seu ministério são o grande símbolo de nossa moderna decadência.

É claro que muita coisa aconteceu antes e depois deste fato que acabou por nos soterrar como geração que faria uma revolução. Cito a decisão de Lula como símbolo. A bala de prata que nos suicidou.

A verdade que fica é: Nada conquistamos que não possa ser perdido outra vez, como está sendo. No horizonte, somente ruínas e abutres.

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