Segundo o escritor Yuval Harari, a descoberta mais importante da humanidade foi a descoberta da ignorância. Foi quando soubemos quão pouco sabíamos sobre o mundo e sobre a vida é que partimos para as descobertas científicas. Juntando isso à nossa ganância intrínseca, ao direito que cada um tem de viver bem e à nossa despreocupação com as consequências de nossas ações sobre a finitude e os limites do planeta, chegamos neste patamar, em que temos de decidir se continuamos crescendo indefinidamente, ou damos à natureza um tempo para respirar.
Todos os países, todos os povos, inegavelmente, têm direito ao melhor dos mundos. Mesa farta, bons empregos, dinheiro no bolso. Mas, simplesmente, isso não é possível. Se todos os povos do mundo consumissem o que os americanos consomem, precisaríamos de vários planetas Terra para alimentar a todos. Somos gafanhotos de nosso próprio habitat. A nossa “Arca de Noé” está fadada a afundar. Com deus ou sem ele.
Segundo o mesmo escritor, não é somente culpa dos governos termos chegado a esta situação. Harari afirma que cada um de nós assina um pacto com a modernidade e sua nova religião: o crescimento econômico a qualquer preço.
A mesma ciência que explodiu com a descoberta da nossa ignorância, tenta, de todas as formas, ao mesmo tempo em que constrói o armagedom, inventar um armistício. Protetores contra os raios solares, tratamento de rios, melhoramentos genéticos em alimentos. Mas a verdade é que, quando a natureza disser Chega!, é muito possível que haja um colapso na economia das nações. Colheitas fracassadas, poluição severa, acidentes nucleares, aplicações financeiras virando pó por falta de lastro. O grande capital trabalha com prováveis “perdas de vidas”. Sabemos quais vidas.
E aquele mesmo cidadão que aceitou o pacto de risco com a natureza, vai ter que lutar pela sobrevivência de forma ainda mais dura. Quem garante que haverá um Estado organizado para conter a fome, o frio, a miséria e o caos social?
A questão é meramente matemática. Não há produtos e energia para tanta gente no mundo. Imagine o ser humano há 30 mil anos atrás. Ele só tinha a roupa do corpo, uma lança e talvez uma pedrinha azul que ele achasse bonita. Com essas posses, ele vagava pelo mundo, caçando e coletando. Hoje, qualquer criança tem mais posses que uma tribo inteira de caçadores-coletores dos primórdios da humanidade. Isto tem um preço. O que temos que ver é se dá para pagar.
Como somos egoístas, estamos nem aí para o ano 2050 ou 2100. Como não estiveram nem aí para nós os predadores de povos e animais extintos nos últimos 500 anos. Ninguém dá a mínima para o futuro. Todo mundo vai morrer mesmo.
Na natureza, nada é imediato. Tudo tem seu tempo. As estações, plantar e colher, aprender e depois fazer. Quebramos esta lógica. É pra já, tudo, e no máximo. Mas nenhuma corda estica para sempre. A corda da natureza é forte. Mas uma hora destas vai romper. É muita gente. Muita gente comendo, consumindo energia, muita gente produzindo subprodutos. E todos com o direito de fazê-lo. Resta saber até quando.
Por enquanto, confiamos que a ciência encontre soluções para tudo. Se não encontrar, esperamos que, pelo menos, ela nos salve da ignorância, que certamente vai voltar a reinar. E aí… bom e aí que nossos netos e bisnetos se f…