A quem interessam as guerras

Desde que o mundo é mundo, há guerras. Há os que invadem e os que são invadidos. Os que invadem invocam suas razões. Os que se defendem, ou se defendem ou traem seu mundo. Toda guerra é a imposição de uma ordem sobre outra. Toda guerra é uma guerra de interesses, portanto. Resta saber então: quais os interesses de quem invade e de quem se defende.
Há poucos dias, especulava-se se o Brasil deveria se unir aos Estados Unidos para invadir a Venezuela. Uma vontade fantasiosa, por óbvio, já que, como disse o próprio presidente, não haveria sequer as armas necessárias para tal assalto. Imaginemos um exército de meninos numa selva inóspita, sem armas, treinamento, sentido ou objetivos claros. A quem interessaria tal aventura?
Em agosto de 1931, o general americano Smedley D. Buttler, soldado dos mais condecorados e partícipe de várias guerras, fora convidado a discursar. Como conta a História, Buttler sentou-se nervosamente, passou a mão pelo cabelo esparso e olhou para a platéia, depois começou a falar. Esse discurso surpreendeu alguns e incomodou muitos, porque ele disse coisas que eles nunca pensaram ouvir da boca de um militar proeminente como ele.
Iniciou dizendo: Senhores, a guerra é uma farsa! Durante minha vida militar, passei a maior parte do meu tempo sendo um valentão a serviço das grandes empresas de Wall Street e seus banqueiros.Foi ainda mais duro consigo mesmo dizendo: Eu era um extorsionário, um intimidador, um pistoleiro sob as ordens do dinheiro.
Em seguida, foi enumerando todas as guerras das quais participou, os interesses envolvidos, os quais defendeu, como assegurar os interesses petroleiros americanos no México em 1924; a pressão sobre a República Dominicana para vender açúcar em 1912 e ameaçar Honduras em favor das companhias frutíferas.
Butler admitiu nesta palestra que ganhou diversas medalhas e honrarias por conta das intimidações e extorsões que praticou em favor do grande capital americano.
Apesar da pressão dos serviços secretos sobre ele, mostrou a mesma determinação que o fez um guerreiro, e por anos foi dando palestras e escreveu um livro: A guerra é uma farsa.
“Eu violentei meia dúzia de repúblicas da América Central para o benefício de Wall Street”.
No seu livro, ainda pode-se ler: “Após a Primeira Guerra Mundial, pelo menos 21.000 novos milionários e bilionários surgiram oficialmente nos Estados Unidos, sem contar aqueles que mentiram para o Tesouro em suas declarações e que também enriqueceram”.
“Mas deles, quantos cavaram trincheiras, quantos foram famintos nos abrigos subterrâneos infestados de ratos, quantos passaram noites terríveis sem dormir, esperando os bombardeios e as balas das metralhadoras? Quantos deles morreram ou foram feridos nos campos de batalha?”
O que faríamos na Venezuela, além de morrer de graça? A quem interessa o petróleo e o ouro da Venezuela? Seríamos só novos mortos de uma guerra sem sentido; corpos a preencher os túmulos da vaidade e da riqueza alheia.
Como disse o general Buttler,“quando uma nação ganha um território com a vida de todos, seus recursos são explorados por poucos que enriquecem rapidamente. Mas são as pessoas comuns que pagam a conta, com corpos dilascerados, casas destruídas, depressão econômica e aumentos de impostos.”
Sobrevivente de inúmeras guerras, Buttler morreu cinco anos depois. Não houve autópsia.

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