Muito frequente nos tempos atuais, onde as pessoas estão cada vez mais estressadas e correndo contra o tempo, o bruxismo afeta indivíduos de todas as idades e tem o tratamento longo e multidisciplinar. O bruxismo do sono não é doença, mas sim uma condição adquirida com o tempo. O hábito de contrair a mandíbula e atritar as arcadas dentárias – o ranger dos dentes – causa desgaste e dores. Segundo o cirurgião-dentista Julien Campodonico, existem dois tipos de bruxismo, o de apertamento dos dentes e o de deslizamento, o segundo sendo responsável por maior desgaste.
O bruxismo do sono pode ser diurno ou noturno (durante o sono ou em vigília), sendo o noturno o mais comum e o mais perigoso, pois a atividade muscular que causa o deslizamento é involuntária. As consequências podem ser o desgaste dentário, dores intensas de cabeça e até mesmo a perda dos dentes. A causa ainda não está totalmente esclarecida, mas, em geral, está vinculada à ansiedade e depressão, além de ter relação genética e associação farmacológica.
Seu diagnóstico também passa pela avaliação do paciente. “Costuma também ter bastante relação com o sono. Alguém que não dorme bem e acorda cansado, com a mandíbula travada e com dores na região pode ser um caso de bruxismo”, detalha Campodonico. Por isso, não é incomum que um parceiro ou parceira dê o alerta de que algo está errado. “Ele ou ela ouve ou vê o ranger dos dentes enquanto o outro está dormindo e isso colabora ao diagnóstico”, destaca Julien Campodonico. Em alguns casos, o exame de polissonografia pode fazer uma avaliação da qualidade desse sono e do impacto nos dentes.
O bruxismo do sono afeta tanto homens quanto mulheres, em proporções similares, porém, a consequência na arcada dentária do sexo masculino tende a ser mais comprometedora em função da força muscular deles ser superior. Isso também pode ser explicado pela maior ocorrência de problemas no sono nos homens. Apesar dessa desordem funcional possivelmente aparecer em qualquer fase da vida, a proporção de casos cai com a idade. Em crianças é mais comum a partir dos 11 anos e atinge 20%. Adultos jovens, dos 18 aos 29 anos, o percentual chega a 13%. Já no caso das pessoas com mais de 60 anos, o bruxismo atinge apenas 3%. “Durante um tratamento, é feito acompanhamento para ver se o problema não irá retornar. Mas há a tendência de regredir no decorrer da vida”, confirma o cirurgião-dentista Julien Campodonico.
Assim como a causa, o tratamento também irá variar. Além das questões de personalidade, que levam o bruxismo a afetar mais as pessoas ansiosas ou muito focadas, algumas medicações antidepressivas podem servir de gatilho ao bruxismo. O tratamento dentário vai corrigir o desgaste e as trincas que aparecem, considerando que, em geral, o canino – por ser maior e receber mais impacto – será o mais afetado. A terapia mais comum é com a utilização das chamadas “placas de bruxismo”, que fazem uma proteção, tendo, em algumas, a função de relaxamento muscular. Há aquelas placas flexíveis e as rígidas, cada uma atua de acordo com cada caso. Com elas os dentes passam a não sofrer mais um impacto constante.
Mas reparar as falhas no dente é apenas uma parte do tratamento. Se o paciente mantiver ou voltar ao mau hábito de apertar ou deslizar os dentes, o reparo se perderá. “É um tratamento multidisciplinar porque envolve a participação de um psicólogo para entender o que leva o paciente ao bruxismo, um médico psiquiatra, que muitas vezes precisa lançar mão de certas medicações e, algumas vezes, também o nutricionista já que há alimentos que favorecem um comportamento mais ansioso, que leva ao bruxismo”, destaca o Campodonico. Importante salientar que não há cura. Os profissionais vão tratar as consequências na arcada dentária e a origem do problema.