Quem cuida também precisa de cuidados

Profissionais da saúde vivem uma rotina desgastante na qual a preocupação e estresse são sempre companhias. Em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), em especial nas neonatais, emergências e setores responsáveis por lidar com pacientes em estado terminal, a tensão é ainda maior.

Esses trabalhadores são dedicados e treinados para cuidar dos outros, exercendo uma nobre atividade. Contudo, é preciso ter um olhar atento para eles mesmos, visando não perder qualidade de vida. Entre os principais problemas em potencial estão ansiedade, característica mais presente, com risco de evoluir para síndrome do pânico, e depressão.

Nesse sentido, além do autocuidado é fundamental a existência de uma equipe multidisciplinar para atender essa demanda. Além disso, é aconselhável ter atenção aos colegas. Muitas vezes, a pessoa pode estar sofrendo sozinha e precisa de ajuda.

Histórias de momentos tensos no exercício de atividade dessas pessoas, independente da área, sejam médicos, enfermeiros, técnicos, auxiliares, entre tantos outros não falta. Em casos assim, é preciso manter a frieza, sem perder a humanidade e empatia.

A psicóloga e pesquisadora do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Adriana Ferreira, passou por um episódio bastante marcante. Ela foi escolhida para atender um caso de uma paciente, como o mesmo nome e idade dela, 43 anos. As duas também dividiam o sonho de ser mãe.

A Adriana paciente havia descoberto em uma segunda-feira a gravidez e na sexta a volta de um câncer de mama, tratado quando tinha 23. A decisão era entre dar continuidade a gestação ou realizar o tratamento.

Ao receber a missão, ela respirou fundo, foi ao banheiro, lavou as mãos, o rosto e foi até a xará.
– Como tu estás?
– Hoje é o dia mais difícil da minha vida.
A partir daí, a psicóloga fez uma série de perguntas, pois seu papel não era dar conselhos, mas ajudar a paciente a pensar. Depois de uma série de questionamentos, veio uma frase definitiva.
– Tu não vai ter muito trabalho comigo. O meu sonho é ser mãe e eu vou ser mãe.
Após o nascimento, o bebê apenas foi colocado no peito e a mãe iniciou o tratamento. A psicóloga continuou atendendo a mãe. Ela faleceu quando a criança tinha 1 ano e oito meses.
O exemplo deixa claro a importância de ter a saúde mental equilibrada. Adriana Ferreira falou justamente sobre “Cuidando de quem cuida”, durante a 22ª Semana da Enfermagem no Hospital Unimed Vale do Caí.

A psicóloga destaca a necessidade de os profissionais conseguirem ter uma “proteção” para conseguir desempenhar as suas funções. Para isso, o primeiro passo, de acordo com a especialista, é conhecer e respeitar os próprios limites, sem medo. “É impossível ficar indiferente, o que a gente cria é como se fosse uma ‘couraça de acrílico incolor’, que faz com que a gente entenda o que está acontecendo, mas, por outro lado, ter a capacidade e proatividade para resolver aquela situação”, explica.

Vida e morte exigem capacidades
Adriana, por fim, frisa a dificuldade de atuar na saúde. “Lidar com vida e morte constantemente requer um arcabouço de capacidades e condições. O nosso desafio é trabalhar essas demandas e auxiliar esses profissionais nesse processo diário que é enfrentar o dia a dia da área da saúde no nosso país e dar condições de enfrentamento.

No Hospital Unimed Vale do Caí, há ações relacionadas à medicina preventiva e concessão benefícios para o colaborador participar de capacitações, dentro ou fora da instituição. Além disso, há um mês, foi criado um coral, visando proporcionar momentos de descontração e lazer.
“Hoje a Enfermagem cuida de muita gente aqui dentro do Hospital, dos pacientes, das famílias. E para eles cuidarem bem, precisam estar bem também, em uma condição emocional equilibrada. Passamos situações difíceis no dia a dia, então é importante a gente cuidar de quem cuida”, comenta a gerente assistencial Tagliane Martins.

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