O parto humanizado está se popularizando nos últimos anos. Esse tipo de procedimento é semelhante ao parto normal, entretanto, tem o acréscimo de outras práticas. A procura pelo parto humanizado aumentou nos últimos dois anos, segundo a ginecologista e obstetra, Alessandra Polking. Entretanto, no Vale do Caí, a incidência das cesáreas é maior que 80% entre as mulheres.
“Não que os outros não sejam humanizados”, afirma. Segundo a médica, o humanizado carrega esse nome pela questão de deixar a natureza agir sem muitas interferências médicas. “Todos os partos tentamos dar o melhor atendimento”, diz. O momento conta com a presença de cheiros, luz e música. Entretanto, o critério da parte técnica para fazer o parto não é diferente do parto normal, como a posição do bebê e as condições físicas da mãe. “Vai muito mais da paciente, porque podem ser partos mais demorados”, explica.
No parto normal, os médicos utilizam de manobras e medicamentosas para acelerar o nascimento. “Para que ele seja um pouco mais curto e diminuir a dor da paciente”, conta Alessandra. Já no humanizado, é necessário mais paciência da mãe, sendo mais a parte da natureza e menos a médica. “O principal critério é a mãe querer”, afirma.
Entre os benefícios, a médica conta que acontece uma interação entre o círculo familiar da mãe, pai e bebê por conta de os três estarem juntos naquele processo de nascimento escolhido. “Eu acho que o benefício está em qualquer parto, desde que seja a escolha de cada uma”, explica. Por passar mais tempo em trabalho de parto, também podem surgir benefícios com a liberação do hormônio Ocitocina – como a descida mais rápida do leite e a recuperação do útero.
“A intervenção é natural, com fisioterapia, presença da bola, banheira ou chuveiro”, diz Alessandra, sobre os preparativos para este parto. Além disso, é muito importante conversar com o médico para saber o que é possível para o parto de cada uma. “Desde o início do pré-natal, a paciente deve conversar com o médico, o que ela quer e ver o que é possível”, explica. O preparo tem que ser tanto psicológico como físico – focando no fortalecimento da pelve. “Existem exercícios e manobras para o controle da dor”, afirma.
O plano de parto também merece atenção. “No plano de parto é aquilo que a paciente gostaria que fosse feito com ela durante o parto”, explica. A ressalva é que é necessária a conversa com o médico para saber se os desejos são cabíveis. “O médico vai tentar fazer o que a paciente pedir. Mas, se algum momento ele achar que precisa intervir na parte médica, ele precisa deixar claro, que vai”, comenta. O papel é uma linha a se seguir, mas às vezes podem ocorrer situações no meio do parto que exijam o contrariar esses desejos. “O objetivo principal do médico, cuidando da paciente, é o bem estar do bebê ao nascimento”, explica.
Aurora chegou de forma humanizada
“O parto humanizado é simplesmente um parto que acontece natural”, conta Tifany Franciele da Silva, 20, consultora de vendas e maquiadora, após sua experiência. No dia 15 de outubro, nasceu Aurora da Silva Vogt, em um parto que envolveu pesquisa e leituras da mãe e do pai, Matheus Vogt, 23, para realizar o sonho de um nascimento mais natural possível.
A estudante de nutrição optou por este tipo de experiência por ter críticas aos partos normais e cesarianas, feitos no modo convencional. A escolha de Tifany foi tomada alguns anos atrás, quando realizou um curso na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), que tratava sobre o parto humanizado. A partir daí, Tifany iniciou seus estudos sobre como ocorriam esses procedimentos e quais métodos iria usar.
“Eu comecei a estudar mais profundamente e quis ser doula”. A consultora se formou em um curso da função na UFCSPA, mas ainda não ainda não exerceu. As doulas são responsáveis pelo acompanhamento da grávida durante todos os processos da gravidez. “É muito legal. Ela não faz nenhum procedimento. Ela acompanha a mãe emocionalmente”, explica. Entre as funções, massagens na mãe, contagem das contrações e ajuda no pós-parto.
No curso, Tifany aprendeu sobre aromatizantes específicos para utilizar durante o processo. Além disso, a luz azul também foi um item usado pelo casal, para trazer tranquilidade. A técnica rebozo, popular na Colômbia, em que um lenço é colocado na barriga da gestante, trazendo relaxamento na coluna, também foi aplicado pelo casal. “A gente tentou fazer tudo”, conta. O parto foi realizado na Unimed. Inicialmente, o casal queria receber Aurora em casa, mas por conta do alto valor para contratar uma equipe profissional para o acompanhamento, eles resolveram transferir o momento para o hospital. Todos os desejos do casal estavam prescritos no plano.
Foram 8 horas de trabalho de parto, em que Tifany ficou bastante tempo em pé. “Durante essas oito horas eu fiquei bem cansada”. Após, Aurora chegou ao mundo. Todo o processo foi feito no escuro e a equipe respeitou plenamente os desejos da mãe. “Eles não abriram a porta e não ligaram a luz”, conta.
“Eu tinha certeza que eu teria benefícios e minha filha também”, conta. Uma das metas dela foi alcançar o máximo possível o coquetel hormonal que é liberado durante o parto, trazendo benefícios para sua recuperação. Tifany ficou 24h no hospital e, nesse tempo, caminhou e cuidou de Aurora. A mãe conta que se sentiu muito bem. Após duas horas de repouso, tomou banho sozinha e já pode fazer refeições. “Eu só sai sem barriga. Sai da mesma forma que entrei, só que mais feliz ainda”, relembra.